Como eu queria ser poeta, ah que vontade vasta essa, de dedicá-la em jornais da cidade poemas, elegias de amor, sonetos quase matemáticos, uma frase com um toque lírico, sem muito mais, seria simples, mas dizer-se-ia muito em pouco, como eu queria ser poeta, saber dedilhar um violão para minhas eternas noites de solidão com cachaça, como eu queria, como eu queria ser poeta músico, saber transfigurar para a arte sonora meus pequenos poemas se fosse realmente poeta, ah meu Deus como eu queria, como eu queria saber dedicar a mulher amada serenatas caretas, ganhar prêmios no mundo inteiro por um soneto simples que levou anos para ser escrito através da intimidade quase científica, como eu queria fazer a amada chorar através de palavras frias como hall de entrada de um imenso castelo, e vê-la chorar e rir ao mesmo tempo esse choro confuso lindo ártico, como eu queria, como eu queria levá-la ao néctar do gozo infindo ao sussurrá-la palavras misteriosas numa contemplação mútua de nós dois...