A reabertura do Theatro Municipal de São João d’El-Rey, após passar por um especial processo de restauração e modernização, convida a todos nós para que façamos intimamente um passeio pela história de mais de 110 anos desta Casa de Espetáculos, considerada um dos mais belos teatros-monumentos do interior do Brasil. Como um dos símbolos importantes desta cidade, este Theatro suscita uma eterna saudade, a saudade daquela antiga efervescência artística são-joanense, causa que doravante haveremos de dar-lhe as feições do nosso tempo e bem revigorar.
Então, cada novo esforço empreendido em favor da manutenção desta Casa, desde a sua construção nos idos de 1893 e desde a maior intervenção positiva aqui promovida, entre os anos de 1924 e 1925, pelo então Presidente da Câmara e Agente Executivo Municipal Basílio de Magalhães, expressa a nossa vontade de fazer reviver um tempo que já não existe, mas que se cristalizou na memória coletiva dos são-joanenses. Manter em funcionamento este Theatro, reativando a sua vida artística, não é apenas uma demonstração de zelo pela nossa história, mas de dinamização da própria história. As pessoas desta “briosa e fiel” cidade de São João d’El-Rey necessitam de protagonizar novos tempos, e creio ser isto também o que agora estamos inaugurando com este magnífico exemplo de parcerias produtivas e de boa vontade laborativa. Espero, então, que estes atos sejam o prenúncio de novas ações em favor do povo e da cidade de São João d’El-Rey!
Se a Sócrates parecia mais eficaz caminhar com seus alunos enquanto se pensava e se aprendia, a Platão pareceu melhor criar uma academia, um espaço destinado a produzir conhecimento. É possível, sem dúvida, ensinar e fazer teatro e música em lugares diversos e controversos, mas os prédios podem emprestar qualidades importantes à escola aberta, como a permanência e a ritualidade, bem como recursos apropriados à sua apresentação e à preservação da história e do saber humano. Então, um edifício teatral como este, traduz a importância e a eternidade que se confere ao homem, à sua arte e ao seu conhecimento, sendo também, além de patrimônio material, um precioso patrimônio imaterial.
Para a memória eterna dos acontecimentos, torna-se necessário registrar que esta reforma e modernização, sonho que ora se concretiza, foi uma idéia que nasceu no ano de 1998, com a formidável campanha “Acorda São João d’El-Rey: Salve o Theatro Municipal”, que teve como idealizador o dinâmico Adenor Luiz Simões Coelho, pessoa que veio a se transformar na alma e no corpo dessas obras que ora apresentamos aos senhores; considero que me é impossível falar do nosso Theatro Municipal desde aquela data, sem mencionar a dedicação, a firmeza e a obstinação de Adenor Simões, este "engenheiro diletante" que, diuturnamente, acompanhou passo a passo a elaboração e tramitação dos nossos projetos junto à Lei Estadual de Incentivo à Cultura e que supervisionou, com muita seriedade e carinho, cada etapa desta obra.
Para os confrades e confreiras do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, desde a diretoria passada, da qual tive a honra de ser vice-presidente do prof. e historiador Antônio Gaio Sobrinho, e desta atual, que tenho a felicidade de presidir, foi uma grata satisfação atuar como entidade empreendedora destas obras: é a contrapartida que uma entidade científico-cultural como a nossa, pode e deve oferecer para o povo da cidade de São João d’El-Rey. Possuir um teatro deste porte, restaurado, é um orgulho para a nosso Instituto e uma dádiva para a celebração da arte dramática, da música, das artes plásticas, e também uma oportunidade para a preparação, estudo, pesquisa e criação dos bens da cultura dos quais ainda tanto necessitamos.
Assim, cumpre-me agradecer ao são-joanense dr. Robson Braga de Andrade, presidente do sistema FIEMG, pela boa condução dos nossos pleitos; ao presidente da USIMINAS, dr. Rinaldo Campos Soares, ao seu diretor Romel Erwin de Souza e ao Instituto Cultural Usiminas, que atuaram como mecenas desta obra; ao presidente da Companhia Vale do Rio Doce, dr. Roger Agneli e a Companhia Paulista de Ferro-Ligas, pelo incentivo direto que possibilitou a conclusão destas obras; ao apoio recebido do Governo de Minas Gerais, na pessoa do Exmo. Sr. Governador Aécio Neves; ao apoio da Prefeitura Municipal de São João d’El-Rey, através do prefeito Nivaldo José de Andrade e do seu Secretário Municipal de Governo e Coordenação Política, Roque Silva Filho; ao IEPHA-Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de MG, na pessoa da sua atual presidente Vanessa Borges Brasileiro e da arquiteta Deise Cavalcanti Lustosa; a Associação Comercial e Industrial de São João del-Rei, na pessoa do seu ex-presidente Rafael Agostini e também do atual, José Primeiro Teixeira Neto, que continua a somar esforços conosco, e a diretoria do Palácio das Artes/Fundação Clóvis Salgado, na pessoa do dr. Mauro Werkema. Agradeço também a todos aqueles que, mesmo não sendo citados, também muito colaboraram para a efetivação desta obra.
Finalmente, é com muita emoção e orgulho que assisto ao abrir-se das cortinas do que um dia foi sonho, mas que hoje já é realidade e espetáculo, e eternamente será símbolo de nosso amor e respeito pelo homem são-joanense e suas criações; este Theatro é um símbolo que atravessará o tempo, trazendo à memória dos são-joanenses as primeiras cenas da arena grega, agora iluminadas com os recursos da tecnologia, da engenharia e da arquitetura teatral contemporânea. Certamente que o modernista Mário de Andrade, esteja onde estiver, já terá sérios motivos para se preocupar com a nossa resposta à ironia que desferiu contra o nosso povo e contra esta Casa, quando alegou, em suas andanças por aqui, que “havia visto um Theatro grego em São João d’El-Rey, no qual jamais Eurípedes seria representado”.
O Theatro Municipal de São João d’El-Rey é um espaço de política cultural cidadã que nesta noite se reabre nesta terra, sob a batuta do nosso conterrâneo Marcelo Ramos e os acordes da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. É um bem que transcende a sua materialidade e reafirma a nossa confiança na educação e no futuro como espaço de encontro e de invenção da feliz cidade e felicidade a que tanto almejamos.
Tudo aqui foi sonho. Tudo aqui foi trabalho. Tudo aqui foi solidariedade. Tudo aqui foi confiança. Tudo aqui, então, com certeza, de agora em diante, deverá continuar a ser zelo, para que, através do nosso Theatro, possamos empreender uma grande ação cultural em benefício da nossa querida São João d’El-Rey!
Muito obrigado!