Minha Irmã... Meu Irmão... Na vossa direcção, no vosso Deus, não, não vislumbro sequer uma exígua frincha onde ponha um só dos meus sentidos a espreitar, curioso e emocionado com vosso presumível rumo. Vosso "ali", meus caros, está garantido. Não vos aflija o futuro longínquo: também será ali já, depositado sob a montanha da sapiência que arrepia de espanto qualquer humano medianamente inteligente e sobretudo com experimentada capacidade de avaliação real. Leio, interpreto vossas preocupações e a exposição racional óbvia, mas, sinceramente, não entendo para quê. Sei também para quem escreveis, mas esses fingem apenas que vos lêem e não vos ouvirão intimamente. Há milhares deles como vós, pessoas que lutam estoicamente para seguir na senda da miragem e tomarem, por inesperada e milagrosa sorte, um daqueles cadeirõezinhos pesados onde vulgarmente se encostam e estendem em esplêndida pose os braços. Então... Minha Irmã... Meu Irmão... Ao sabor da língua que falais e escreveis, não sentis correr-vos nas veias o esplendor camoniano, imaginando na pele o enorme vate em seu explícito estado de estar vivo? Então não lhe descortinais o génio do relato para além da muralha do egoísmo? Perdei o tempo que quiserdes, minha Irmã... Meu Irmão, convencendo-vos que, se manejasseis o português que dominais além das portas do mesquinho e do anódino espírito que detendes, poderieis descobrir-vos e por aí descobrirdes também tantos de nós. Mas vós, sois apenas um fieis egoístas e submetidos servidores do mundo que criticais, para amanhã, enfim, afirmardes que estaria a melhorar, se porventura lograsseis sentar-vos num dos cadeirãozinhos que permite, com uma só rúbrica ilegível, movimentar a legião de irmãos com "i" minúsculo. Ou não, minha Irmã... Meu Irmão? Proventura até serieis capazes de mudar tudo isto aonde vivemos, a começar por mim... Entretanto, apraz-me imenso que sejais como sois e vos entrelaceis entre todos os irmãos verdadeiros desta vida. Ides fazendo tudo "em nome de" porque ainda não sois o que desejais e também não encontrasteis melhor forma de sobreviver. Se fosseis mais alto como me pretendeis talvez estragasseis de vez o sonho que vos anima... Minha Irmã... Meu Irmão... Sois tão felizes aqui e almejais ir para cima... António Torre da Guia |