Ácida... Plena de amarguíssimo fel... Mesmo até com o facalhão da tontaria em punho agreste e encarrapitada lá no alto do escadote da presunção desmedida, Vocé é sempre gostosa, um melaço total, mas só para quem, nesta lides já muitíssimo bem treinado, lhe vislumbre o caracacá de galinha veterana que teve o condão de se sentir mãe de uma enorme ninhada reflectida num só pinto. Para mais... Teve muitíssima sorte quando se aninhou à efectiva galadela, se é que deixou o galo montar mesmo. Dado seu peculiar feitio, estou em crer que o galináceo, quiçá um garnizé, teve de bicar de baixo para cima... Ah... Ah... Ah...
Oh... Como aprecio seu briguento esgravatar. Entra sem cuidado algum... Esgravata... Esgravata... Intenta colocar as minhocas todas ao léu. Depois, pondera, controla o cacarejo e, pela calada dos momentos mortos, esgravata de novo para recobrir as covinhas e deixar o terreiro aparentemente lisinho. Um portento de habilidade no improviso!... Ah... Ah... Ah... Dá-me ideia que tem quotidianamente ao seu dispor a sondagem exacta sobre o índice de alfabetização brasileiro em relação à quantidade do milho disponível pró dia... Ah... Ah... Ah...
Creia... São muitíssimas as vezes em que rio saudavelmente pensando em Você. Acho-a um ser inimitável, uma espécie de pessoa que sobreleva a enciclopédia do preconceito. Ocorre-me então fechar os olhos e imagino-a, em filme de desenhos animados, uma bem nutrida galinha que vai pondo enormes ovos de ouro na maior das Avenidas do Rio de Janeiro. Os galos, os galinhos e os galões empinam as cristas, afiam os bicos, mas são incapazes de profanar tão excelsas posturas... Se bem que alguns enrouqueçam de tanto piar e até ficarem com gôgo... Ah... Ah... Ah...
Você é mesmo gostosa... Tanto... Como galinha selvagem...
E tá vendo... Tá vendo meu triste e ridículo papel... Galo decepado... Depenado a rigor... Privado do canto... Patinando incessantemente sobre o precioso ovo que me deixou na memória?...
Torre da Guia = Portus Calle
|