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Discursos-->Discursos de Lula: o demagogo volta aos palanques -- 25/07/2005 - 16:26 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ESTADÃO DE HOJE, 25 Jul 05

Segunda-feira, 25 de julho de 2005
As duas faces da moeda

Alcides Amaral

O PT vai ter de ser reinventado. O PT vive a pior crise da sua história e esse é o fim de uma fase TarsoGenro,novo presidentedopartido Tendo a discordar do presidente Lula quando ele afirma que o Brasil não merece tudo isso que está acontecendo . Merece, sim, pois fomos nós, mais de 52 milhões de brasileiros, que o elegemos, a ele e ao Partido dos Trabalhadores (PT), para nos governar. Embora essa afirmação seja injusta para com todos aqueles que não votaram nos companheiros do PT, assim é a vida. Como, de acordo com o velho ditado, cada povo tem o governo que merece, o presidente Lula é o presidente dos 170 milhões de brasileiros, queiramos ou não. Ele e sua equipe são responsáveis pelo destino deste pobre país, que hoje nos envergonha e nos humilha. A imprensa internacional já percebeu a gravidade da crise por que estamos passando e o Brasil passa a ser olhado com desconfiança. E, quando a senadora Heloisa Helena afirma na CPI dos Correios que agradece a Deus por ter sido expulsa do PT , nada mais precisa ser dito.

A verdade é que a eleição do PT para governar o Brasil foi uma decisão de risco, uma vez que todos sabiam que lhe faltavam equipe e experiência administrativa para conduzir um país como o nosso. Administrar Estados e municípios fornece alguns subsídios importantes, mas a Presidência do País é algo muito mais complexo e fica ainda mais difícil quando o próprio presidente eleito não tem experiência administrativa alguma. O presidente Lula tinha - e ainda tem - uma bela história de vida. Foi um grande líder metalúrgico, mas daí a ser um bom e eficiente presidente da República vai uma diferença muito grande. Isso tudo não era novidade para a grande maioria, mas o povo brasileiro deixou que 52 milhões de petistas o colocassem no cargo mais alto da nossa hierarquia política. Portanto, estamos colhendo aquilo que plantamos.

O que, entretanto, causa mais revolta é que o PT construiu duas décadas de história dizendo ser o defensor de um país mais justo, mais democrático e mais ético. E o que estamos vendo é que, na primeira oportunidade, a ética foi jogada para o espaço e Brasília se transformou num verdadeiro lamaçal. Milhões de brasileiros foram iludidos por esse discurso que parecia ser genuíno e sincero, o que nos deixa a todos revoltados e, em certas circunstâncias, enojados.

O presidente Lula, devidamente blindado e aparentemente alheio a tudo o que acontece no Congresso Nacional envolvendo o seu PT, ainda vem a público - como o fez na última viagem a Paris - para afirmar: Tenho o PT como filho. Porque sou um dos fundadores. Em 20 anos, o PT chegou à Presidência, coisa que muitos partidos demoram cem anos para conseguir. As últimas pesquisas do Ibope mostram, entretanto, que o afeto dos filhos não é mais o mesmo, pois, se em março de 2005 cerca de 60% dos brasileiros confiavam no presidente e apenas 34% tinham restrições, agora, em julho de 2005, aqueles que ainda confiam no presidente se reduziram para 53% e os brasileiros que não confiam já alcançam 42% da população. O aumento da corrupção é visto pela população como o maior dos males atuais do Brasil, um país em que não há segurança e onde muitos brasileiros ainda morrem de frio e de fome.

Há os mais exaltados, como o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, que afirmou recentemente: Vamos acabar com essa história de que Lula não sabia de nada. Ou ele é um completo idiota ou sabia, sim, de toda a corrupção que se passou embaixo do seu nariz. Não chegamos a esse extremo, mas não podemos ignorar o mal-estar existente pelo fato de o presidente dizer não saber nada do que se passa na cúpula do PT, seu filho. Entretanto, como toda moeda tem duas faces, há os mais otimistas, que vêem o lado positivo dessa bandalheira toda. Se a crise que estamos atravessando não tomar proporções tais que venham a afetar os rumos da nossa economia (a única coisa de bom que ainda nos resta), tudo bem. O custo será pequeno para nos vermos livres do PT. É uma experiência por que tínhamos de passar, os custos aí estão, mas a longo prazo isso deve ser bom para o País. Como o PT, segundo ainda o seu novo presidente, Tarso Genro, vive crise moral e devastadora , é de esperar que nas novas eleições tudo venha a ser diferente. Esse é, pelo menos, o meu desejo. Depois desse escândalo todo que emporcalha a Nação, chegou a hora de termos a nossa reforma política. Mas não a reforma política efetuada pelos políticos, e sim aquela realizada pelo povo brasileiro. Em não havendo candidato ou candidatos que nos dêem a segurança de que teremos dirigentes à altura deste país, vamos dizer um sonoro não nas urnas. Quando tivermos um presidente eleito pelo povo com menos votos do que os nulos e em branco, a história pode mudar. Ao invés de assumir o poder e começar a gastar os milhões de votos conseguidos nas urnas, o novo mandatário terá de trabalhar para conquistar a confiança da população. Sem isso mal poderá governar, não terá trunfos para gastar. Terá, pois, de obter o respaldo popular para poder, efetivamente, administrar o País.

Se, entretanto, continuarmos a agir como temos feito até agora, colocando, com votação significativa, o menos pior no poder, nada mudará neste país. E teremos de continuar ouvindo que o Brasil não merece tudo isso o que está acontecendo . Merece, sim!?


Alcides Amaral, jornalista, ex-presidente do Citibank S.A., é autor do livro Os Limões da Minha Limonada (Editora Cultura). E-mail: alcides. amaral@uol.com.br

***

A mentira

Denis Lerrer Rosenfield

O espetáculo que a mídia nos oferece diariamente tem a paradoxal virtude de ser um grande ensinamento para o País. Paradoxal porque o mau exemplo dado pelos depoentes Marcos Valério, Silvinho Pereira e Delúbio Soares exibe uma prática petista de governar que não deve ser imitada por todos aqueles que prezam a democracia. E a democracia pode fortalecer-se pela experiência que estamos observando de cinismo, hipocrisia, dissimulação e, sobretudo, mentira. Os silêncios constrangedores do que parece ser uma quadrilha com propósitos partidários, amparados por habeascorpi preventivos, são uma espécie de confissão de culpa de tudo o que fizeram e, assim, omitem. Versões estapafúrdias seguem-se umas às outras e, o que é mais preocupante, tendo algumas a chancela do presidente da República, quando validou de Paris as últimas versões de seus companheiros e amigos. Era o mosqueteiro que faltava na cena dessa peça.

Muitas analogias têm sido feitas entre o atual governo e o do ex-presidente Collor. Afora a questão dos montantes, que parecem ser muito mais elevados sob a égide petista, a corrupção atual tem duas características que a distinguem: o seu caráter sistêmico e a sua finalidade político-partidária. Sistêmica a corrupção o é por ter sido feita por meio de uma simbiose entre o partido e o governo que atinge a máquina estatal como um todo, estabelecendo uma articulação entre o PT, empresas estatais, empresas privadas, sobretudo de publicidade e bancos, e o governo. Criou-se todo um aparelho sob o comando de dirigentes partidários e governamentais que passou a reger as relações políticas. Político-partidária porque a corrupção tinha o propósito de assegurar a hegemonia do PT sobre o Estado via corrupção de outros partidos e do próprio Poder Legislativo.

Os partidos que se prestaram a esse grande negócio eram literalmente comprados, tornados venais, como se essa venalidade nada mais fosse do que a conseqüência desse projeto de poder. A democracia foi assim corroída de dentro, exibindo uma prática leninista de desprezo pelas instâncias representativas, como se o Parlamento fosse mero instrumento de um projeto mais amplo, socialista , que poderia ser implantado num eventual segundo mandato. O dinheiro ia principalmente para o partido, embora já apareça que os apparatchiks também se tornaram apparatchiques , enriquecendo individualmente. A mentira é outro elemento dessa corrupção política , pois ela corresponde a uma certa prática de poder, não sendo casual. Delúbio e Silvinho Pereira são defendidos por advogados pagos pelo partido e não foram nem suspensos por este. Nem as aparências são guardadas.

Neste sentido, a mentira não é apenas uma forma de ocultar algo, atos ilícitos ou imorais, mas, segundo o uso que dela é feito pelo PT, é também um instrumento político, de controle sobre os outros partidos e as instituições democráticas. Os rastros que estão sendo revelados, por demais evidentes, exibem uma forma de impunidade, como se o partido e seu governo fossem onipotentes, não estando obrigados a seguir as regras republicanas. Estas, no entanto, estão sendo fortalecidas pela imprensa, pelos meios de comunicação e por CPIs e outras comissões que estão resgatando o sentido mesmo de coisa pública. Há, portanto, um problema moral e um político da mentira. O problema moral surge quando políticos velam o que estão fazendo com o intuito de aproveitarem uma determinada situação para dela extraírem proveitos próprios. Tal é o caso mais comum da corrupção, em que certos indivíduos ou partidos tiram benefícios de sua posição de poder com o intuito, por exemplo, de enriquecerem. No passado, esse tipo de político se pautava pelo lema rouba, mas faz . O produto do roubo era normalmente utilizado para o enriquecimento pessoal. A repercussão política de tal prática consiste, porém, no enfraquecimento da cena pública, pois as instituições são apropriadas privadamente por alguns, perdendo o seu caráter universal.

O problema político caracteriza-se pelo uso sistemático da mentira enquanto meio de exercício do poder. O seu caso extremo se configura nos regimes totalitários, nos quais, graças à ausência completa de liberdade de imprensa e de expressão, os que detêm o poder o exercem sem nenhum tipo de constrangimento, impondo à população o que eles pretendem que ela creia. Há modos intermediários, que apresentam diferentes formas de autoritarismo, dependendo de sua realização. Em todo caso, podemos nomear uma determinada prática da mentira como leninista. Ou seja, ela se torna um meio não apenas de ocultamento dos reais desígnios da ação, mas também de imposição de uma certa concepção das coisas. Pense-se nas primeiras reações da cúpula petista diante da corrupção escancarada por Roberto Jefferson e, sobretudo, pela mídia.

Primeiro ato: houve a negação do ocorrido. A entrevista concedida por Delúbio sob a proteção de Genoino foi de pura e simples denegação dos fatos. Mensagem implícita: nada aconteceu, o partido é ético e nós manteremos o mesmo projeto de poder. Segundo ato: o protagonista foi Delúbio, quando, numa reunião em Goiânia, declarou que tudo decorria de uma armação da direita . Mensagem implícita: nada ocorreu, somos éticos e a direita está tramando a nossa derrota. Trata-se da doutrina do bode expiatório. Houve outros atos, como o do golpe , que se encaixam na mesma análise, procurando tudo trazer para uma oposição direita/esquerda, tendo como pano de fundo a ameaça de uma mobilização popular. Na verdade, o que está em questão é: República ou desestruturação das instituições democráticas. A tarefa que se impõe, sobretudo de parte do Congresso Nacional, é o resgate do sentido da coisa pública por meio de uma punição exemplar dos envolvidos. Bons exemplos fazem avançar a democracia, maus a fazem perder.?

Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS. E-mail: denisrosenfield@terra.com.br

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EDITORIAIS

Lula sabe o que o ameaça

NOTAS & INFORMAÇÕES

Em dois dias consecutivos, no final da semana, o presidente Lula fez três pronunciamentos enfáticos - dois deles para platéias de trabalhadores. As manifestações deixam claro que ele resolveu enfrentar a crise da corrupção da pior forma possível, fazendo-se de vítima de uma suposta conspiração e apelando para a demagogia mais rasteira. Seria menos grave se ele tivesse se movido por uma avaliação equivocada de uma conjuntura que se deteriora a olhos vistos e da qual nenhuma das principais figuras da cena política brasileira, seja de que partido forem, pode se considerar a salvo. Mas é impossível que Lula não saiba que o que diz é uma distorção grotesca da realidade. Admitir o contrário seria tomá-lo por tolo.

Para focalizar a frase que dominou o noticiário político no sábado - não vai ser a elite brasileira que vai fazer eu baixar a minha cabeça , dita na Refinaria Duque de Caxias -, é mais do que óbvio que ele tem conhecimento de que a única coisa que a elite brasileira quer baixar é a temperatura da crise. Porque, se outros motivos não houvesse para a preservação da estabilidade política, bastaria a inquietação cada vez mais justificada com os seus efeitos sobre a economia.

Conforme os desdobramentos do quadro de decomposição ética que atinge o governo - e, se não o Congresso, a Câmara dos Deputados -, poderá ir por água abaixo o que a administração Lula tem de melhor: a racionalidade das suas decisões econômicas, barrando a sua subordinação ao aventureirismo populista.

Por que, então, Lula encampou essa estapafúrdia teoria? Ela já parecia sepultada desde que as vozes mais sensatas do próprio PT trataram de se dissociar da retórica do complô das elites que, na sua despedida do Planalto, o ministro José Dirceu foi o primeiro a invocar, para ser imitado pelo destituído tesoureiro petista Delúbio Soares e pelo dirigente emessetista João Pedro Stédile - o que diz tudo da consistência do argumento.
Mas Lula não exuma a referência às elites no vácuo: lembra, para fundamentá-la, as suas arquiconhecidas origens sociais e reivindica, ao mesmo tempo, a condição que se atribui de ser imbatível, entre os brasileiros, em matéria de moral e honestidade . Daí, como ele voltaria a dizer sábado em um evento sindical no ABC, o preconceito contra ele.

Com isso, o presidente quer galvanizar o núcleo duro do seu eleitorado: os brasileiros da base da pirâmide social, que se beneficiaram de políticas do governo (e das conseqüências da inflação controlada sobre o custo dos alimentos). Bastam dois indicadores da pesquisa do DataFolha, divulgada ontem. De um lado, quanto menos instruídos os entrevistados, menor também a parcela dos que tendem a achar que Lula está envolvido com o mensalão. De outro, conforme o cenário que se monte para o pleito de 2006, os seus eleitores variam de 26% no Sul a 44% no Nordeste. Mas agora ele não está apenas pedindo votos: está jogando o povo contra as elites para proteger o seu mandato.

Aos grotões, o campeão brasileiro da moralidade proclama: O que o povo quer mesmo é resultado. É saber se, no frigir dos ovos, a sua vida vai estar melhor do que quando entramos no governo. (Sexta-feira, no Rio.) Dos seus liderados ouve: Este sindicato estará nas ruas se alguém se atrever a tentar tirar, pelo golpe, o seu direito de lá estar. (Sindicalista José Lopes Feijoó, sábado, em São Bernardo.) Ou seja, no primeiro caso, o povo deve respaldá-lo não em nome da ética, mas porque a sua vida vai estar melhor . No segundo caso, o seu mandato é intocável por definição, mesmo se fatos novos comprovarem que o presidente tem parte com o que vem sendo denunciado - o que só os irresponsáveis podem desejar.

Ora, diga o que disser, Lula não está acima do bem e do mal.

Ele não morava em outro planeta quando, em 1993, o já então ex-secretário das Finanças de São José dos Campos Paulo de Tarso Venceslau, afinal expulso do partido, denunciou que a prefeitura petista do município favoreceu ilicitamente os negócios do compadre de Lula, Roberto Teixeira.
Ele tampouco pode fingir que não era bom amigo de Delúbio, como a repórter Angélica Santa Cruz mostrou no Estado de ontem. A esta altura, em vez de fabricar conspiratas, Lula deveria se curvar ao diagnóstico do companheiro Tarso Genro sobre a corrupção disseminada no PT e agir a partir disso - pois é aí que mora o perigo.

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Triste tradição

Um dos pontos mais polêmicos nas operações da Polícia Federal (PF) contra suspeitos de corrupção e sonegação tem sido o uso indiscriminado de algemas e a ostensiva exposição dos detidos à mídia. A discussão é antiga e foi recolocada na ordem do dia pela Operação Cevada, quando os acionistas da Schincariol, entre eles um sexagenário, foram algemados e puxados com força, na frente das câmaras de televisão, por agentes com roupa e boina pretas, óculos escuros e armas pesadas.

Se esses empresários eram apenas suspeitos de terem cometido um delito fiscal, tinham bons antecedentes e moravam em locais certos e sabidos, por que foram presos de modo humilhante? O que justifica o uso de algemas em detenções de acusados de crime fiscal? O uso da algema é uma tradição. As algemas podem e devem ser usadas em toda e qualquer prisão, é uma medida de segurança , afirmou o delegado José Ivan Guimarães Lobato, superintendente da PF em São Paulo, ao site Consultor Jurídico. É mala de dinheiro voando para todo lugar e querem vir criticar o uso de algemas? O País está podre , endossou o agente Francisco Garisto, presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais. A polícia vai continuar do jeito que está (...). O que ela pode fazer ao seu bel-prazer é algemar alguém quando bem entender e achar necessário. Nos meios forenses e políticos, como era inevitável, essas afirmações causaram perplexidade. É uma temeridade. Atitudes como essas só se adotam em situações extravagantes , disse o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, ao mesmo site. Em alguns casos fazem-se verdadeiros espetáculos. As autoridades devem agir com bom senso, guiadas pelas circunstâncias , completaram o criminalista Ronaldo Marzagão e o exsecretário da Justiça de São Paulo Eduardo Muylaert, após criticar o que chamaram de banalização das algemas .

Seu emprego desnecessário é um desrespeito aos direitos fundamentais , declarou Antonio Ruiz, da Associação dos Advogados de São Paulo.

O ABUSO NO EMPREGO DE ALGEMAS TEM EFEITO CONTRÁRIO AO QUE SE PRETENDE

Essa opinião é endossada até mesmo dentro do próprio PT. Por diversas vezes o deputado Paulo Delgado (PT-MG) já criticou os abusos cometidos pela Polícia Federal em ações espalhafatosas, especialmente o uso de algemas em pessoas inofensivas. Recentemente, o deputado Wagner Rubinelli (PT-SP) apresentou à Câmara um projeto que regulamenta a matéria, lembrando, em sua exposição de motivos, que a Constituição proíbe tratamento degradante e que a legislação processual penal impede que presos sejam expostos a inconveniente notoriedade . Sua proposta, que vem sofrendo forte resistência da parte da PF, dispensa o uso de algemas nos casos de réus primários, de cidadãos com bons antecedentes, dos detidos que não tentam fugir e quando não se tratar de prisão em flagrante. Mais razoável seria não misturar a honra do governo com um assunto meramente policial , diz ele.

Evidentemente, esses críticos do uso abusivo de algemas não estão defendendo um tratamento mais leniente ou concessivo para corruptos e sonegadores. O que eles estão afirmando é que o combate a esses tipos de delito, por meio da execração pública e da humilhação, atenta contra o Estado de Direito. Em vez de ter efeitos pedagógicos ou preventivos, transmitindo para a sociedade a idéia de que o crime não compensa, como afirmam algumas autoridades fiscais e policiais, essas prisões humilhantes podem trazer resultados diametralmente opostos. Ou seja, podem causar danos irreparáveis a cidadãos inocentes e podem prejudicar a imagem corporativa de empresas mesmo que absolvidas.

E quem perde com isso não são apenas seus executivos e seus acionistas, mas a economia brasileira como um todo. Isto porque, quando não há regras claras e objetivas disciplinando o uso de algemas em diligências realizadas por agentes e delegados federais no âmbito da iniciativa privada, a insegurança jurídica tende a inibir as decisões de investir, o que dificulta o aumento da produção e a geração de novos empregos. É por esse motivo que o Congresso não pode ceder às pressões da PF quando votar o oportuno projeto do deputado Wagner Rubinelli.

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Militares cobram promessa de reajuste

Tânia Monteiro

Os presidentes dos Clubes Militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica divulgaram neste fim de semana um "alerta" sobre a possibilidade da quebra da disciplina. Nele, advertem que "a relutância (do governo) em atender o que pleiteiam os militares poderá levá-los a uma situação de desespero, de desalento e de descrença, com sérios riscos para a hierarquia e a disciplina das Forças Armadas".
O clima dos quartéis está próximo da ebulição porque o governo não cumpriu a promessa de reajuste salarial de 23% feita em março.

O alerta é assinado pelos três presidentes dos clubes: general Luiz Gonzaga Lessa, brigadeiro Ivan Frota e almirante José Júlio Pedrosa. Embora estejam todos na reserva, sua manifestação reflete o pensamento dos militares da ativa, inclusive a sua cúpula. Eles atribuem a "insensibilidade" do governo de não atender o pleito a "um óbvio revanchismo" ou à tentativa de "desmoralizar as Forças Armadas". Uma nova reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Defesa, José Alencar, deve ser realizada hoje para discutir o tema, mas uma decisão final dependerá de um novo encontro com os ministros da área econômica.

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Lula vê mandato em risco e recorre às bases em busca de blindagem

Como desgaste do governo e do presidente já se reflete nas pesquisas, PT avalia que oposição pode passar a defender impeachment

Vera Rosa

Abalado com a crise política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai repetir a estratégia que pôs em curso no fim de semana: de agora em diante, recorrerá ao contato com a população para salvar o seu governo e evitar que haja tentativa de impeachment. A interlocutores com quem conversou nos últimos dias, o presidente demonstrou profundo abatimento.

“Veja o que fizeram com o meu governo”, disse Lula a um ministro que viajou com ele recentemente, numa referência à crise provocada depois das denúncias de que o PT pagava mesada a deputados da base aliada em troca de apoio. Emocionado, chegou a chorar.

A preocupação é grande porque o descontentamento com o governo já começa a atingir a imagem do presidente, como indicam as pesquisas. Em busca de apoio, Lula começou a cumprir uma agenda mais popular. Na sexta-feira, almoçou no bandejão da Refinaria Duque de Caxias (RJ), onde anunciou que não vai “abaixar a cabeça” para as elites; no sábado, retornou a São Bernardo, seu berço político, onde comeu frango com polenta com velhos amigos sindicalistas. Ontem ele esteve na festa dos cegonheiros e hoje fará inspeção no canteiro de obras do Aeroporto de Brasília, seguida de café com operários.

COMITÊ

A agenda popular ganhará reforço em agosto. Além disso, o PT pedirá ajuda aos movimentos sociais: pretende incentivá-los a criar um comitê em defesa do mandato de Lula. Em reunião no sábado, em São Paulo, o Campo Majoritário – grupo que reúne quase 60% dos cargos de direção do partido – fez um diagnóstico bombástico: o País mergulhará em grave confronto político, nos moldes da Venezuela, se a oposição pedir o impeachment do presidente.

Dirigentes do Movimento dos Sem-Terra (MST), de sindicatos da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e representantes de movimentos populares já avisaram Lula e o PT que estão dispostos a sair às ruas para impedir o que chamam de “golpe”.

“Nós não temos a tutela dos movimentos sociais, mas, se houver uma articulação para o impeachment, é óbvio que todos faremos a defesa do presidente”, afirmou o presidente do PT, Tarso Genro. Ao longo de agosto Tarso vai se reunir com representantes dos movimentos sociais, intelectuais, sindicalistas e empresários. “Queremos restabelecer o diálogo com todos os setores”, disse.

“Passada a fase de estupefação, é hora de defender o patrimônio de realizações de um governo que estabilizou a economia e já gerou 3 milhões de emprego”, argumentou o secretário-geral do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP). “Não podemos permitir que a crise política tome conta de tudo e seja a única pauta.”

A portas fechadas, o deputado José Dirceu (SP), ex-chefe da Casa Civil, admitiu estar preocupado com o depoimento à CPI dos Correios de Renilda Fernandes, mulher do publicitário Marcos Valério – apontado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) como operador do mensalão –, marcado para amanhã.

Aos companheiros Dirceu insistiu não ter feito nada de irregular no governo e no PT. Adotou, porém, a retórica de que há uma “conspiração das elites” para derrubar Lula. Esboçando indignação, pregou “reação mais enérgica” por parte do PT para defender o presidente. “Que ninguém pense que vai se salvar sozinho.” Para ele, o governo precisa “fazer a disputa política” e partir para o confronto com a oposição.

Colaborou: M.C.

***

Presidente retoma corpo a corpo com populares
Na 10.ª Festa dos Cegonheiros, Lula desce do palanque para beijos e abraços

Mariana Caetano

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fugiu do palanque ontem - na verdade um balcão isolado dos outros convidados - e fez questão de circular entre 3 mil caminhoneiros na 10.ª Festa dos Cegonheiros, em São Bernardo do Campo, seu berço político. Evitou referências à crise que assola o governo e o PT, mas o discurso do presidente do Sindicato Nacional dos Cegonheiros, Aliberto Alves, antes de Lula, deu o tom: "Esse pessoal aqui vai estar junto com você se precisar. Vamos para a rua ajudar esse País a continuar a andar."
Lula distribuiu autógrafos, tirou fotos, mas o corpo a corpo entre os caminhoneiros durou pouco. Houve empurra-empurra e, com medo de criar confusão, não passou mais do que 15 minutos no galpão aberto da Estância Alto da Serra. Perguntado várias vezes se estaria preocupado com as denúncias do publicitário Marcos Valério, Lula não respondeu.

Depois de ouvir o apelo da primeira-dama, Marisa Letícia, e dos seguranças, o presidente retornou ao balcão e pediu desculpas por não poder cumprimentar os convidados em cada mesa. Em seguida, Lula passou o microfone para o compositor Alex Sandro Carvalho Macedo, explicando que atendia a um pedido. "Ele disse que tinha um sonho de cantar aqui, então vai cantar."

O tema da música? Corrupção. "Caras de pau, subestimaram o governo federal e a Justiça agora está matando a pau os que abusam do poder", cantou Macedo. "Caras de pau, estão nas garras da polícia federal, mas saibam logo que vocês agiram mal, vocês não têm para onde correr." Depois de curtir seus minutos de fama, Macedo negou que tivesse contado antes ao presidente o teor da música. "Caras de pau são os que fazem coisas erradas e ficam negando", afirmou o compositor de 25 anos que "vive de bicos". Lula, insistiu, é "perseverante, correto."

RUAS

Em seu discurso, o presidente do sindicato destacou acreditar na honestidade de Lula. "Temos certeza que o que está acontecendo é porque tem democracia." Antes, já havia corrupção e ela era encoberta, disse Aliberto Alves. Questionado se apoiaria o presidente na hipótese de uma tentativa de impeachment, Alves afirmou que o sindicato o defenderá em qualquer circunstância porque acredita na sua inocência. "O Lula está um pouco triste, chateado pelo que está acontecendo, mas acha que as coisas vão melhorar", contou. "Ele disse que não encobre corrupção e entende que quem deve vai pagar, mesmo que seja no partido dele."

À platéia, Lula citou as realizações do governo na área dos transportes e lembrou de sua atuação como sindicalista. Fugiu da política, só não poupou os antecessores. "Herdamos mais de 38 mil quilômetros de estradas praticamente intransitáveis. Às vezes fico me perguntando o que era feito nesse País que nem a manutenção das estradas era feita," discursou, prometendo entregar no ano que vem, as obras de duplicação da Fernão Dias e da BR 116.

O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, foi além: "Fazendo o investimento que está se fazendo pela primeira vez, nós em três anos recuperaremos os 58 mil quilômetros da malha rodoviária federal." O mandato do presidente Lula termina em 2006. Nascimento anunciou que até o fim deste ano o processo de concessão de todas as rodovias federais no Estado estará concluído.




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