Sempre que bem abro os olhos do cérebro e vejo nua e crua a realidade humana que me rodeia, apetece-me fugir, Mila, não sei para onde, mas tão só fugir para algures que não seja este sítio onde estou e tenho de estar. Valhe-me a capacidade de auto-distracção que constantemente cultivo. Não fosse isso e rebentaria os miolos com a náusea que me assola.
Por exemplo, analisa a sensação que vou descrever e que às vezes, muitas vezes, me toma inesperadamente.
Fui cultivado a ver e a praticar futebol sob a nobreza épica dos valores positivos: glória aos vencedores e honra aos vencidos.
Hoje, sempre que vejo um jogo ou outro na TV - já não vejo futebol ao vivo há vinte anos - e se me suscita raciocinar sobre os esconsos efeitos que a jogatina objectiva, sabes o que me apetece?...
Apetece-me enviar um e-mail ao Bin Laden, pedindo-lhe que em lugar de mandar lançar bombas sobre pessoas inocentes, que estão na labuta séria da sua vida, as lance para dentro dos estádios de futebol quando estão bem cheios...
Dá para rir, mas é a sério. Estarei maluco, Mila?
Deveras, o que é que aquela cambada toda vai hoje em dia fazer ao futebol? Que espectáculo será este? Ainda há dias vi um jogador cuspir odiosamente no rosto de um adversário...
Bem... Apreciei imenso o teu texto sobre a realidade que de facto afrontas e sentes. Olha aí a bíblica Torre de Babel. Estarás também a ver a Torre de Babel hodierna... Cada vez sobe mais...
Um abraço, e tem a certeza de que, nem que queira, não posso deixar de ser o que sou.