Ao dealbar do século VIII, a norte da actual Península Ibérica, embora afastados dos seus domínios por hostes muçulmanas, alguns grupos de nobres visigodos, procurando acoite nas montanhas asturianas, resistiram estóica e persistentemente ao inimigo invasor, até que no início do ano 737, um guerreiro visigodo, de nome Pelaio, partiu para a ofensiva e logrou derrotar os muçulmanos em Covadonga, tendo sido, pelo surpreendente feito alcançado, aclamado rei das Astúrias, mais tarde também de Leão. Daí, os reis sequentes das Astúrias e Leão, que tinham sua sucessão a partir de monarcas visigodos, foram retomando a pouco e pouco Braga, Porto, Viseu, e Guimarães, onde se instalaram e construíram praças fortes. Durante cerca de dois séculos, a região foi zona de perigosa passagem e de constantes lutas entre cristãos e mulçumanos.
O estabelecimento do que viria a ser o futuro território portucalense, foi organizado sob uma monarquia independente, mas claramente associada a um entrelace militar de fronteira, zona esta que se manteve em permanente reorganização, comandada por condes subordinados à supervisão dos reis de Leão. A superfície, então conhecida como Condado Portucalense, sendo uma província do reino de Leão, era no entanto controlada por responsáveis com substanciais poderes e dotada de autonomia, dada a separação natural que as montanhas impunham. Em 1096, Afonso VI, rei de Leão, concedeu título hereditário, sob vassalagem, á provincia Portucalense, abrangendo Coimbra, e entregou o condado ao cavaleiro cruzado D.Henrique, irmão do Duque de Burgundy, após o casamento deste com sua filha ilegitima, D.Teresa.
D.Henrique concentrou a sua corte em Guimarães, fazendo-se acolitar pelos barões locais, a quem atribuiu tarefas de chefia e cedeu privilégios de propriedade sobre terras. Até à morte de Afonso VI, em 1109, D.Henrique manteve-se fiel às funções feudais que desempenhava, atendendo aos conselho e mando reais e fornecendo assistência com presença efectiva em favor das campanhas militares contra os mulçumanos.
A morte de Afonso VI deixou o Reino de Leão mergulhado numa guerra civil que envolveu barões aragoneses, galegos e castelhanos, em ambiciosa e sanguinária luta pelo trono vago. D.Henrique, preseverante e cuidadoso, optou pela neutralidade e foi gradual e ardilosamente cessando suas funções feudais. Quando morreu em 1112, sucedeu-lhe sua mulher D.Teresa, que prosseguiu a política de não alinhamento implantada pelo marido.
A vitória na luta pela coroa leonesa coube a Afonso VII, o qual, logo que ascendeu ao trono, decidiu-se pela reabsorção do Condado Portucalense. D.Teresa, sua tia, e seu consorte então, um galego chamado Fernando Peres de Trava, recusaram de imediato a submissão, mas foram forçados a ceder após seis semanas de resistência vã, em 1127.
Os privilegiados barões portucalenses, que viam as suas fortunas e independência em sério risco de desfazer-se, aproveitaram a oportunidade e juntaram-se ao príncipe herdeiro, D. Afonso Henriques, que decidiu revoltar-se contra o declinante poder de sua mãe, cujo exército derrotou em São Mamede a 24 de Julho de 1128, tendo-a seguidamente expulso para a Galiza, onde veio a morrer exilada
E assim, ao cabo de 400 anos de tenaz e firme guerreação, se destinou que começasse deveras a chama que iria definitiva e imparavelmente acender Portugal, coroando mais adiante o seu primeiro rei, o qual veio a merecer, pela sua valentia e heroicidade, o cognome de Conquistador.
RESUMO DA PORTUGALIDADE
A raça, a tenacidade,
O credo, a religião,
A lealdade, a traição,
A mentira e a verdade,
O sonho e a realidade,
A junção do bem e mal,
As margens Portus e Calle
O ser antes da questão,
Mortos e vivos... Então
Eis ao tempo Portugal !...
António Torre da Guia |