Ao cabo de quase 32 anos sobre a abrilina revolução dos cravos, o que é que resta de bom para o povo português? Resta tão só a liberdade de expressão, a heróica e deslumbrante história de um gigantesco país-anão, e algumas doutas e ilustres personalidades cuja dignidade não tem preço e assim permanecerá.
À data, a sustentabilidade económica está por um ou dois fios, as principais instituíções públicas desceram à cave, a ordem aferrolha-se em casa a partir das dez horas da noite, o desemprego irrompe desmedido, o empresariado médio abre falência, matam-se polícias, crianças e velhos estupidamente, as prisões abarrotam em esconso miserabilismo, o negócio fictício galopa de lés a lés e há milhares de pessoas em periclitante estado de carência.
Todavia, enquanto a maioria cada vez mais vai sentindo o aperto do cinto, a televisão desfolha a desgraça e banqueteia-se com opíparos repastos em pleno ecrã, os políticos gozam e regozam em fausto alarve, e, surpreendentemente, ora em estacionamento, ora em trânsito, está difícil encontrar uma nesga para meter um carro. Acresce que, em espectacular contradição, o Governo corta quanto pode as unhas em face dos trabalhadores que vão suando e empolga-se em empreendimentos megalómanos: TGV e super aeroporto da OTA.
Quantos portugueses porventura conhecerão, tal e qual é, o professor-doutor Adriano Moreira, lídimo sobrevivente activo entre dois controversos regimes políticos? Foi ministro de Salazar - o povo-léu actual diz que é um fascista - presidente político do CDS, conselheiro de Estado, mas é e foi sobretudo um lente e educador ímpar, uma figura íntegra que, até dos inimigos políticos, merece respeitosa vénia e consideração, logo que se trate de fazer balanço a assuntos irrevogavelmente sérios.
O professor-doutor Adriano Moreira, além de honoráveis cargos que ainda mantém, com recatada sobriedade dedica-se actualmente à família, diverte e entusiasma os netos com dois esplêndidos "Terra Nova" que não ferram em ninguém. Entretanto e enquanto a história não mudar, tacitamente e nos tempos que decorrem, em surda-muda-cega conveniência, entre corruptos a dignidade não se perdoa.
António Torre da Guia |