Nasceu sob a égide do inconformismo, preocupados os seus fundadores com os destinos dos homens, da Pátria e das relações soldado-cidadão, cidadão-soldado a tal ponto que contribuiu para a mudança radical de uma monarquia combalida, da sucessão por vontade divina e nome de família, para uma república, muito mal consolidada passados tantos anos, e, hoje usada como expressão corriqueira de políticos em argumentos falaciosos, e com uma sucessão muitas das vezes comprada, de maneira institucional ou pelo “próprio” bolso, mas dita democrática, por força de um voto, nem sempre voltado pelo interesse maior, mas premido pela necessidade de sobrevivência e dependência “química” gerada e mantida pela miséria.
O espírito humanitário do Tenente-coronel Sena Madureira o levou a apoiar as teses abolicionistas colocando-as acima de quaisquer outras considerações. Interesse maior indiscutível, mas que não brota das mentes dos acomodados, dos lava-mãos. Claro, gerou uma crise. Afinal, muitos e muitos concebiam e aceitavam: nasceu escravo, tem que ser escravo, açoitado, pelourinho, grilhões, vendidos e apartados; palavras afinadas com os seus ouvidos; o chefe mandou; absurdo ou não, cumpra-se. Prenda-se o coronel, que seja transferido.
Lá na Escola Militar do Rio Pardo não foi punido pelo Marechal Deodoro da Fonseca, Governador da Província do Rio Grande do Sul e Comandante das Armas. Distante na Corte, oficiais do Exército, sob a liderança do Tenente-coronel Benjamin Constant e da Armada, com o Almirante Silveira da Motta, se reuniram hipotecando solidariedade aos seus camaradas, em clima tenso de pré-rebelião. Não mais nas funções ao retornaram à Corte, sendo aclamados pelos cadetes da Escola Militar.
Assim, se consolidava uma identidade, forte, decidida, combativa, reativa a tantos anos de descura com as Forças Armadas no pós-guerra do Paraguai 1864/70, culminando com a fundação do Clube Militar, 1887; fusão dos ideais republicanos, a partir dos fundamentos alimentados pelo senhor das ciências e mestre militar Benjamim Constant, com as necessidades dos militares, soldos baixos, aviltados, contribuições e assistência, tendo como escopo primordial a Nação brasileira. Gente da caserna ativa, preocupada com tudo em seu entorno que arrostara e desafiara quem os desdenhava; fizeram a guerra, lutaram pela paz, mas não admitiram a subserviência.
Defenderam as suas prerrogativas, mas não esqueceram dos mais desprotegidos, escravos, recusando-se a persegui-los, como exposto em carta do Marechal Deodoro, presidente do Clube à Princesa Isabel, solicitando dispensa do Exército da missão de capitão-do-mato.
Sena Madureira, em carta afiançava: "Estou encarregado de, com o Gen Deodoro e o Dr. Benjamin Constant, organizar os Estatutos dos Centros ou Clubes Militares que desejamos fundar aqui e em todas as guarnições importantes, no intuito de unir a classe para a defesa de nossos interesses e sustentar futuras lutas". (Gen Umberto P. S. Fagundes, www.clubemilitar.com.br)
Embora já existisse o Clube Naval, se criava um Clube Militar, apropriadamente abrangente para oficiais da Marinha e do Exército, forças da época, como se pode destacar da página já citada: "comissão da Relação dos estatutos", integrada pelo Ten Cel Sena Madureira, Cap Inocêncio Serzedelo Correia, 1º Ten da Armada Benjamin de Mello, bem como a primeira Diretoria constituída, Presidente: Manoel Deodoro da Fonseca; Vice-Presidente: Custódio José de Melo; 1º Secretário: José Simeão de Oliveira; 2º Secretário: Marciano Augusto Botelho Magalhães; Comissão de Imprensa: José Marques Guimarães, Eduardo Wandenkolk e Antônio Sena Madureira. Nomes dignos e de valor extremado da Marinha e do Exército.
A seguir, caiu a monarquia, 1889.
Ora, se o destemor de um Sena Madureira, quiçá considerado um insano e inoportuno, por uns e outros, fez com que o seu clamor tenha sido considerado como justo e protegido, o que dizer do processo atual contra o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, a serviço do Estado na luta contra guerrilheiros, terroristas, seqüestradores, assassinos, julgados, condenados, anistiados e regiamente indenizados, fatos exaustivamente do conhecimento público. Ninguém que acompanha o noticiário desconhece, muito menos a Justiça.
Embora, seja uma ação declaratória, como se nada fosse pretendido como p.ex. uma indenização, reduz as custas judiciais e tem como objetivo aparente condenar o Cel Ustra, mas na realidade o alvo principal é desacreditar as Forças Armadas, somando mais uma etapa às realizadas nas campanhas pelos jornais, rádios, tv e filmes, parte do planejamento de desmonte do Estado.
O discurso deve ser diplomático quando apela para a solução política, pacificação, conciliação, mas não de lamento; ser altivo e de valor acima do acinte, quando prevalecer a arrogância, o revanchismo e o tratamento diferenciado. Aos criminosos, condenados pela justiça e anistiados, os prêmios e as vultosas indenizações e aos cumpridores do dever a serviço do Estado, a execração e condenação. Há que se preocupar, pois o processo não deveria ter prosseguido. A anistia é tão pública há tantos anos e uma prescrição que não é contemplada. Como se explicar? E, se o Coronel Ustra for declarado culpado? Na tal audiência lá estava uma turma de 40, 50 manifestantes pró-autores e para apoiar o Cel Ustra, quantos estavam dos seus camaradas? Provavelmente, a mobilização só os que foram vencidos nas armas e nas idéias, alguns já velhos, mas espertos, a fizeram. Há que se fazer algo semelhante para agir pró-Ustra, se não o passo seguinte não será dado.
Por oportuno, leiam a mensagem recebida de um amigo em resposta à divulgação da convocação, convite é pouco, para o almoço de solidariedade ao Cel Ustra, organizado pelo Clube Naval, Clube Militar e Clube de Aeronáutica: “E aí, depois do almoço, todos voltam às suas residências e ninguém faz mais nada !!! Este é o comportamento típico dos brasileiros... e com o qual eu não compactuo! Se nesse caso for diferente, por favor me avise para eu me redimir.” Respondi-lhe que o primeiro passo é a presença para o debate e a busca de soluções. Não se trata de piquenique, nem reunião festiva
Marcando-passo não se vai a lugar nenhum, concordo.
Mas, no mesmo contexto, além dos momentos difíceis que passa o Cel Ustra, compensados em parte pelo sucesso da sua obra A VERDADE SUFOCADA, está a guinada para a esquerda de vários países da América-Latina, capitaneados pelo presidente Hugo Chaves da Venezuela, candidato-substituto em melhores condições petrodolarizadas do que o cubano, velho e doente, para essa nova aventura. Não deu certo no passado pelo uso da força, pois foram sufocados todos os movimentos com exceção da Colômbia, onde estão as FARC, mostrando ao mundo o que queriam os nossos terroristas indenizados. Mas, hoje estão no controle de alguns países pelo voto da sociedade que não enxerga e da que enxerga e vota a troco da esmola.
Burrice que desagrega e alimenta uma dicotomia de esquerda e direita prejudicial ao desenvolvimento desta Nação. Esperteza de quem a mantém para ficar na cúpula a fim de roubar e usufruir. Estratégia de estranhos que não a querem ver crescer.
O Poder Militar não pode ser omisso, como historicamente nunca foi, diante da insatisfação, do medo, da insegurança, da ameaça externa, da gravidade interna, da mobilização, instrução e adestramento de forças ditas populares, como hoje se nos deparam.
O poder e o dever de defender a Pátria estão acima de quaisquer outros poderes escusos, infiltrados, escuros, corrompidos, dominados ou obtusos.