Para o ex-presidente do STM, o capitão Lamarca foi um traidor e assassino, que cometeu crimes hediondos
Contrário à reabilitação de Carlos Lamarca, Sérgio Ferolla, tenente-brigadeiro reformado e ex-presidente do Supremo Tribunal Militar (STM), não economiza nos adjetivos para descrever o capitão rebelde. "Ele foi um traidor e assassino, que cometeu crimes hediondos como deserção, roubo de armamento e execução a sangue frio de um oficial da PM. Se tivesse sido processado pela Justiça Militar seria condenado, sem apelação." Para o oficial, que diz respeitar o trabalho da Comissão Nacional de Anistia, a definição de quem deve ou não receber indenização tem de ser observada com rigor.
Por que o sr. considera o capitão Lamarca um traidor?
Porque ele cometeu crimes de alta traição, absolutamente injustificáveis, como desertar, roubar armamento e matar um colega, o oficial da PM Alberto Mendes Júnior. A indenização e a promoção de alguém como ele representam uma ofensa não somente ao Exército, mas às Forças Armadas de uma maneira geral.
Por que ocorreram tantas reações contrárias?
Acredito que isso ocorre porque a decisão da Comissão de Anistia fez com que chegássemos a um limite perigoso, que é o de premiar criminosos. Isso vai ter uma resposta muito forte das Forças Armadas como, aliás, já tem se demonstrado. A indenização ao Lamarca representa uma distorção muito grave no objetivo da comissão, que é reparar as vítimas do regime militar.
Há outros casos de distorção em sua opinião?
Na Aeronáutica, temos situações curiosas, de soldados promovidos a cabos temporários e que são dispensados, por obrigação legal, antes de completar nove anos, para que não se tornem efetivos, já que não podemos oferecer um cargo que não existe. Esse pessoal tem entrado na Justiça para pleitear indenizações como se fossem perseguidos políticos. Tenho informação de que estariam sendo barrados, mas isso se chama aproveitar-se de uma situação para se dar bem.
Qual a sua opinião sobre a abertura dos arquivos da ditadura?
Sou favorável, desde que eles existam realmente. Se você for pesquisar, não são os militares que são contrários à abertura, mas outros setores que têm interesse de manter embaixo do tapete bastidores de temas que os comprometem. Temos que discutir tudo.
(Texto recebido via e-mail, extraído da resenha do CComSEx)
