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Discursos-->O papagaio de pirata e a Guerrilha do Araguaia -- 03/10/2007 - 09:55 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O papagaio de pirata e a Guerrilha do Araguaia

José Geraldo Pimentel

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, esteve ontem à noite no programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo. Sua desenvoltura foi de causar admiração ao mais aplicado aluno CDF. Tinha as respostas prontas na ponta da língua; mas não passava credibilidade. Era como se houvesse decorado os temas, e procurasse ser econômico nas respostas. “Não me peça detalhes que possam fugir do script!” Sinalizava com o seu economês.

O seu projeto para o reaparelhamento das FFAA tem o dia marcado para ser divulgado: 7 de setembro de 2008, um ano após a reunião no Palácio do Planalto, com o professor Mangabeira Unger, e sua extinta Secretaria de Planejamento a Longo Prazo da Presidência da República. Até lá alguns projetos mais imediatos poderão sair do papel. Menos no tocante aos vencimentos das FFAA que andam defasadas já a bastante tempo. Nesse ponto comunga das preocupações do ex-comandante do Exército, Gen Ex Francisco Roberto de Albuquerque, que em palestra onde só ele pode falar, deixou claro que os militares não teriam reajuste em 2007, tendo em vista que tiveram uma melhoria salarial que cobria perfeitamente qualquer inflação para este ano; lembrando que os próximos reajustes não iriam contemplar linearmente o pessoal da ativa e da reserva. Militar na reserva era carta fora do baralho, é o que deu a entender.

O ministro e seu projeto que “visa dissuadir qualquer pretensão de nação estrangeira que se insinue contra a soberania nacional”, goza da mesma preocupação que o governo tem com o desenvolvimento do país. Crescimento só para efeito de estatísticas. A prioridade absoluta é fazer contingenciamento e superávit primário para pagar juros da dívida com o sistema financeiro internacional. Pode até fazer alguma concessão, bancando a construção de estradas, viadutos, refinarias e auxílio à industria agropecuária de países amigos. (Para retribuir auxílios de campanha dados por empreiteiras, que sublocam esses empreendimentos no exterior!). Tratamento que o faz merecedor das atenções de países ricos e pobres. Aos brasileiros destina um cala boca de um programa de inclusão social que consiste em fornecer uma Bolsa Família para tirar da porta da cova milhões de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. A classe trabalhadora, desempregada, que procure um modo alternativo de sobrevivência, ingressando no trabalho informal, como camelô, e sofrendo a repressão dos guardas municipais. A classe média, os militares das FFAA, os professores, o pessoal de saúde e as polícias militares estaduais, que corram atrás do prejuízo, se queixando ao Bispo. A Polícia de Brasília e a Polícia Federal, por estarem próximas do poder, e disporem de meios para desvendar as maracutaias que são urdidas na calada da noite no Palácio do Planalto, não sofrem restrições de reajustes salariais. A Força Nacional de Segurança Pública, deslocada para pontos de conflitos urbanos, não goza também de nenhuma consideração. Até a bonificação que deveria ser paga durante a atuação nos XV Jogos Pan-americanos, na cidade do Rio de Janeiro, foi deixada no esquecimento. “Para quando houver oportunidade!” Avisou o secretário nacional de Segurança Pública. Os crentes que achavam que iriam faturar uns trocados a mais fazendo parte de uma força de elite, trabalhando como heróis na defesa da sociedade, quebraram a cara. Se expõem ao perigo de vida, ficam longe da família, são mal acomodados, se alimentam de forma precária e ainda recebem um tratamento que não é dado a um cachorro largado nas ruas.

O governo é generoso com os miseráveis e os ricos, aí subtendidos os banqueiros, os donos dos meios de comunicação e empresas ligadas ao elo da corrupção governamental; cria a cada dia milhares de empregos oficiais em repartições públicas, em novos ministérios e secretarias com status de ministérios, onde são alojados os companheiros do Partido dos Trabalhadores, e aliados da base parlamentar. Cede também umas propinas para indivíduos que serviram na administração anterior. Os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica são uns desses felizardos. O servilismo costuma ter as suas compensações! Na classe dos protegidos dos deuses não esquecer os ex-terroristas que atentaram contra a soberania nacional, recebendo instruções de guerrilha em países comunistas para dar combate às FFAA brasileiras que repeliram a implantação de um regime contrário aos nossos princípios e costumes. Esses senhores e senhoras recebem, sem descontar Imposto de Renda, indenizações e pensões milionárias. E são tratados como heróis nacionais!

Uma questão abordada na entrevista do senhor Nelson Jobim, no programa Roda Viva, foi o tema da convocação de militares que atuaram na Guerrilha do Araguaia. O ministro procurou ser breve, dizendo que seria cumprida a determinação da Justiça; e ponto final. Só esqueceu de sugerir que se abrisse uma discussão para enquadrar também os terroristas responsáveis por assassinatos, assaltos a bancos, carros forte, cofres de residências particulares, seqüestros de embaixadores, invasão de unidades militares para roubar armamentos com mortes de sentinelas e justiçamentos de seus próprios companheiros que pretenderam deixar a organização criminosa de que faziam parte. Delitos enquadrados como crimes hediondos. Neste ponto faço o seguinte esclarecimento: Nenhum militar se deslocou para a área de conflito por livre e espontânea vontade. Foram convocados e receberam diretrizes de como agir, e atuaram sob o comando de oficiais de patentes superiores. Logo não transgrediram nenhuma norma militar. E se provocaram mortes foi em defesa própria, haja vista que muitos morrerem no combate e outros tantos foram feridos. Os militares que participaram da Guerrilha do Araguaia, em meu ponto de vista, deveriam se organizar e fazer um relatório minucioso, esclarecendo de uma vez por toda os locais em que deveriam ser encontrados os restos mortais dos terroristas. Vale lembrar que os jovens que participaram desse conflito foram induzidos e cooptados no meio estudantil e na classe operária, por lideranças comunistas, que os encaminhou para a ex-URSS, Cuba, Albânia, e outros países com o objetivo de receberem instruções de guerrilha. Quando as tropas militares fecharam o cerco contra os insurretos, as lideranças trataram de fugir, deixando os incautos entregues à própria sorte. Essas lideranças não se preocuparam depois em resgatar os corpos de seus companheiros. Agiram como uns covardes!

O documento, uma vez pronto, deveria ser assinado e entregue diretamente ao Comandante de cada Força envolvida no episódio. Os comandantes dariam o destino que lhes aprouvessem. Seria um documento confidencial, visando unicamente localizar os corpos dos terroristas, dando uma satisfação aos seus familiares. Querer interrogar os militares por uma questão pura e simples de revanchismo, está fora de cogitação. Nem a juíza federal e nem outra autoridade qualquer tem o direito de abordar a questão de forma unilateral. Que nenhum militar atenda à convocação para depor em juízo! Se fosse para punir, violando a Lei da Anistia, haveria de convocar todos os elementos que participaram da guerrilha, sem distinção entre ser militar e civil.

O militar tem um sentimento que foge do padrão de comportamento de muita patricinha e pseudos justiceiros. Honra e orgulho pelo dever cumprido!

José Geraldo Pimentel

CAP QAO (R/1) EB

Rio de Janeiro, 2 de outubro de 2007.

http://www.jgpimentel.com.br



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