O Clube Militar, por seus 44.000 sócios que abriga, constitui caixa de ressonância onde verberam anseios, preocupações e aspirações da Classe Militar, por singularmente congregar oficiais de todos os postos da carreira nas três Forças - Marinha, Exército e Aeronáutica - da ativa e da reserva.
Ademais, inclui entre os seus objetivos estatutários o de "colaborar com as Forças Armadas na preservação da memória de seus feitos e na defesa de seu prestígio e conceito perante a nação". Cabe-me, pois como ex-Presidente desta secular agremiação, postular pela consecução de seus objetivos e procurar interpretar, a cada momento, o sentimento dos nossos associados. Nesse sentido, não me é lícito silenciar, e julgo mesmo ser meu dever alertar, contra práticas por demais evidentes de enfraquecimento das nossas Forças Armadas.
A abertura e a anistia concebidas faziam crer - pois, certamente, esse foi o desejo daqueles que as idealizaram - que a pacificação e a concórdia poderiam vicejar, superando paixões, ressentimentos e ódios.
Exemplos não nos faltavam, particularmente pelo comportamento de ilustres chefes militares, em destaque o de nosso patrono - Duque de Caxias - por isso perpetuado como o Pacificador, apesar das tentativas de tisnar seu papel histórico e reconhecida generosidade.
No contexto em que vivemos, fácil se torna identificar, e com preocupação o faço, a prática de ações flagrantemente unilaterais, onde aos vencedores de ontem na luta pela liberdade contra a tirania marxista-leninista se atribuem, de maneira geral, erros supostamente praticados, que contribuem para a execração de toda uma classe.
Para conseguí-lo faz-se uso de uma bem arquitetada estratégia - a do silêncio, eliminando-se da mídia fatos, notícias ou mesmo contribuições das Forças Armadas, antes tão divulgados, a despeito do relevo que poderiam merecer.
Não passou despercebida pesquisa recentemente realizada onde se suprimiu da avaliação as Forças Armadas, reconhecidamente considerada uma das mais conceituadas instituições do nosso País pela admiração e respeito que desfrutam no seio do povo. Será que o intuito foi calar a sua voz?
Daí porque, se fatos isolados, por si só, não constituem arrimo para configurar contextos mais amplos, permitem, no entanto, por associação, identificar objetivos maquiavelicamente selecionados para serem atingidos.
Por outro lado, em decorrência da anistia concedida, detinaram-se vultosas indenizações aos "perseguidos", muitos dos quais traidores ou terroristas; distribuem-se salários vultosos e se outorgam honrarias e condecorações, a mais das vezes injustificadas, com ampla divulgação da mídia.
A despeito de tudo isso, prosseguem as Forças Armadas e seus integrantes em suas atividades normais, no trabalho construtivo e silente que lhes são peculiares, sem descuidar das responsabilidades constitucionais e da sua vocação humanitária, socorrendo populações vitimadas por catástrofes e formando dedicados cidadãos, com sadio civismo e responsabilidade social.
Tudo isso mantendo a eterna vigilância de nossas fronteiras, a inviolabilidade de nossos espaços e a afirmação de auto-determinação, a despeito de condições adversas com os severos cortes orçamentários, os constantes contingenciamentos de recursos e a transformação de missões principais em secundárias e vice-versa.
As lições de clarividentes estadistas se fazem esquecidas, sem atentar que a voz da diplomacia não ecoa sem o respaldo da Força, e que essa tem o seu poder dissuasório comprometido quando estão presentes a desmotivação, a falta de materiais essenciais, a escassez de recursos financeiros e a desatualização tecnológica.
É preciso denunciar à Nação essa maléfica e bem orquestrada campanha contra as Forças Armadas, desmoralizando-as, enfraquecendo-as e desmotivando-as, no afã de afastá-las das grandes decisões políticas que afetam a nacionalidade como um todo.
Nosso silêncio não significa indiferença, acomodação ou concordância. Preocupados, acompanhamos os acontecimentos e estamos alertas.
A estabilidade das nossas instituições, a história o comprova, sempre passou pelas Forças Armadas e assim continuará sendo.
Acreditávamos, que a anistia significasse, de fato, o perdão para que em paz, sem ódios e ressentimentos, pudéssemos ver o futuro com olhos de esperança, grandeza e progresso.
Infelizmente, não é o que temos presenciado em expressivos segmentos da sociedade brasileira, que de forma unilateral e revanchista, buscam denegrir e comprometer as Forças Armadas, não entendendo que as provocações e agressões contra elas nada constroem, só despertam paixões, antagonismos e ressentimentos, que corroem e destroem o tão acalentado sonho de paz e harmonia para a sociedade brasileira.
Valerá a pena continuar com essa provocadora campanha?
A quem ela interessa?
Gen Ex Luiz Refm Gonzaga Schröeder Lessa
Ex-Presidente do Clube Militar