CERCO DE HELICÓPTERO E POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA! E-mail enviado por policial civil que participou da última operação! Termos alterados por este Ex-Blog para não identificá-lo!
1. As imagens de um helicóptero cercando dois delinquentes, em carreira desabalada morro abaixo, e metralhando-os, só não foi mais forte porque o som foi cortado para a edição na TV. Foi uma ação certa ou errada? Depende. A pergunta deveria ser: foi uma ação coerente com a política de segurança pública adotada?
2. Para simplificar, deve-se comparar dois tipos de política -polares- de segurança pública. Uma delas focaliza os bandidos e entende que deve-se eliminar -prender, se puder, ou abatê-los. É a política de confronto. Entende que só a repressão direta aos bandidos, desintegra o narcovarejo e normaliza o mercado de drogas, trazendo-o para os padrões de uma grande cidade européia ou norte-americana. As drogas acompanhadas de armas pesadas produzem o pânico por seu uso específico no narcovarejo no ERJ.
3. A eliminação de quem as porta liquidaria este tipo de rede de oferta e o pânico que produz, pela percepção que gera de um quadro de guerra com suas imagens subsequentes.
4. De certa maneira foi essa a política de segurança pública adotada entre 1995 e 1998 no ERJ, liderada pelo general Cerqueira e que independente de julgamentos reduziu o número de homicídios, mudando este índice de patamar, ao aumentar o número de mortes e desaparições de delinquentes. Não draguem o rio Morto, diziam. A percepção na época era que finalmente os bandidos estavam correndo e com medo da polícia.
5. A atual equipe -com a cúpula originária da policia federal e com experiência em "inteligência policial"- assumiu este ano e sinalizou que estava introduzindo uma política de segurança pública em base a "inteligência". Como se sabe, a "inteligência policial" é -pode-se dizer, o inverso da "investigação policial". Esta trabalha em cima do "dado" conhecido, ou seja, o delito ocorrido, e busca identificar os responsáveis. A "inteligência" trabalha com o "dado negado", e -principalmente através de infiltrações- procura identificar os elementos básicos da gang- e surpreendê-los com uma ação que atinja sua medula, seja sua logística, seja sua cabeça.
6. Por isso, a atual equipe alardeia tanto que está identificando os paióis e os depósitos de drogas, e ao final das ações, mostra o que recuperou. Mesmo que até aqui os números de apreensões de armas e drogas não sejam diferentes dos anos anteriores, as ações progressivas, poderão no futuro demonstrar o acerto da política adotada.
7. O que está desorientando as forças policiais do ERJ, é o zig zag das ações realizadas. Ou seja: às vezes os policiais acham que a política de segurança tem o foco na inteligência; às vezes acham que o foco é o confronto. Essa desorientação, no mínimo, reduz a produtividade policial. A última operação foi exemplo disso. Monta-se uma ampla operação para desativar um grande paiol e encontrar drogas. O resultado -nesse sentido- foi pífio. Mas há a possibilidade de se encontrar documentos com informações importantes para a desmontagem futura. Como as apreensões tem sido pífias, estes documentos são apresentados à imprensa justificando o que foi feito.
8. No entanto, em cada operação dessas, o viés percebido tanto pelos policiais como pela imprensa, é a política de confronto. Com isso se perde a orientação e se sinaliza para as forças policiais, para os delinquentes, e para a opinião publica, com fatos -e fotos- divergentes. O esforço para eliminar aqueles dois ou três delinquentes que fugiam do helicóptero foi desproporcional e desperdício (num quadro em que a DRE diz que são 30 mil na RMRJ). O que prevaleceu nestas operações desde o cerco (?) ao Alemão até a caça de helicóptero?
9. E policiais de maior experiência começam a se perguntar: a) qual a política de segurança pública? b) há política de segurança pública? Ou voltamos ao pantanoso campo do pragmatismo?