Em artigo de 11 de janeiro próximo passado (está no site do Ternuma), sob o título “Mais Preocupações”, manifestei-me quanto à retomada de negociações para o reajuste de vencimentos dos militares federais. Baseei-me em comunicado do Centro de Comunicação Social do Exército, assinado pelo ínclito Gen Ex Enzo e que mencionava reunião com o ministro da Defesa, ocorrida em 10 de janeiro. Eu disse que era mais um “empurrão com a barriga” do falastrão jobim. Não deu outra: a tal recomposição do orçamento não aconteceu em fevereiro, nem ninguém voltou a tocar no assunto, até porque ninguém sabe quando ocorrerá. Assim, completamos, no dia de hoje, 18 meses com os mesmos defasados vencimentos e proventos. Dezoito é número que nos remete à maioridade penal. No nosso caso, à maioridade do desrespeito com profissionais disciplinados e que têm, no serviço prestado à Pátria Brasileira, a dedicação de toda sua vida. Será que tentam fazer desacreditada a autoridade do Comandante da Força Terrestre, que é pessoa da mais alta integridade e de inquestionável capacidade alicerçada em cursos e vivência nacional e não um simples pelego petista ou peemedebista ? Por que o ministro não assume que induziu ao erro os três comandantes das forças singulares? Eles se dirigiram a seus comandados baseados no que ele disse em reunião formal, em que foi citado o mês de fevereiro textualmente, conforme comunicado à imprensa, de 12 de janeiro, assinado por José Ramos Filho, Assessor Especial de Comunicação Social do Ministério da Defesa. Por que não vem a público para novos esclarecimentos? Será que está cansado de sua vilegiatura por terras de França e Rússia, fingindo que foi comprar equipamentos, inclusive com cessão de tecnologia (doce ilusão...), cessão já desmentida por um russo?
Em face da falta de explicações ministeriais, começam a surgir os boatos. De um amigo de muitos anos, recebi notícia de que haveria um reajuste de 4% em agosto deste ano e mais 4% no ano que vem, além de umas migalhas em termos de auxílio-moradia, tempo de serviço e compensação orgânica, basicamente para quem está na ativa.
Na quarta-feira passada (dia 27), em reunião de confraternização de companheiros da ativa e da reserva, perguntei a um conhecido do Min Def a quantas andava o reajuste e ele, sem mencionar índices ou datas, disse-me que estava em cogitação um “cala-a-boca” e rapidamente se afastou.
Além disso, sucedem-se, na Internet, as transcrições dos boletins do Bolsonaro; as chamadas para questionamentos na Justiça Federal da - à época - denominada isonomia dos oficiais-generais de quatro estrelas com os ministros do STM, com endereços de escritórios que cobram a módica inscrição de R$500,00 na causa (em módicas prestações de 100...) e prometem até 81% de ganhos.
O desgaste provocado atinge muito pouco a quem, como eu, já sem responsabilidades funcionais e com filhos formados e independentes, sabe viver com parcimônia. Mas o que dizer dos que têm encargos, inclusive de comando de tropa, e pretendem dar à sua descendência condições de enfrentar os embates da vida moderna, cada vez mais competitiva e mais exigente. Além da legítima pressão familiar, sofrem com as agruras de seus comandados.
O quadro é desolador. O Correio Braziliense, de ontem, publicou, em sua página 29, o seguinte:
“ No ranking das menores médias salariais praticadas pelos órgãos públicos federais até dezembro de 2007, o Ministério das Comunicações ocupa o primeiro lugar (R$ 1.610,79). A Vice-Presidência da República vem em seguida (R$ 1.774,09), depois o Ministério da Defesa (R$ 1.836,96) e por fim o Comando do Exército (R$ 1.974,17). Ainda de acordo com a tabela publicada no Diário Oficial, as maiores remunerações médias estão na Defensoria Pública da União (R$ 10.186,34), no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) (R$ 9.799,73), na Polícia Federal (R$ 8.328,21) e no Ministério da Fazenda (R$ 8.373,96)” . Na mesma matéria está mencionado que, nos últimos cinco anos, o ganho médio da Advocacia-Geral da União teve alta de 160 %; e eles lá estão em greve, desde 17 de janeiro, entre outras razões, por melhores salários. Já na Anatel, o ganho foi de 124,6 %; e todos sabemos como funcionam as operadoras de telefonia fixa, as de celulares, as televisões a cabo, etc... Fui ver qual foi a minha variação e constatei que de fevereiro de 2002 a fevereiro de 2008 (6 anos, um a mais que Advocacia e Anatel) o meu ganho foi de 44,299 %. Como não sou como o Pernalonga jobim que diz e depois diz que não disse, guardei a folha do jornal e os meus comprovantes de pagamento. E só queria saber por que razão os cofres públicos se abrem de forma tão diferente...
Se a maioridade do desrespeito ainda não é suficiente para impulsionar o jobim nem comover o Paulo Bernardo, resta-nos esperar que não cheguemos à terceira idade das desilusões.
Brasília, 29 de fevereiro de 2008.
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