Ilmo senhor Genil Pavã – nesse ato representando o senhor prefeito municipal Valdeci Oliveira.
Ilmo senhor Luis Mario – coordenador da CUT Regional Centro
Cesar Santos, Fátima Barcelos, Cleonice, Sergio Ambrós e Margarete Tomazi – colegas que compõem essa mesa de posse.
Demais colegas
Senhores e senhores.
Há três anos, nesse mesmo local, comemorávamos uma grande vitória. A vitória da democracia da perseverança, da dignidade e de quem vê o sindicalismo como transformador da sociedade e provocadores de contradições.
Tínhamos em mente que não poderíamos ser submissos, e, sim, legítimos representantes de uma categoria que clama por melhores condições de vida e trabalho.
Então, apresentamos nossa chapa com o Bom cabrito berra que invocava uma irreverência nas atitudes e palavras. Um desassossego com esse modus vivendi.
Quando estamos prestes a transpor um desafio somos acometidos por uma certa euforia diante da possibilidade da vitória.
As incertezas nós passamos pelo filtro da confiança. Então, percebemos que há necessidade de enfrentar esse obstáculo. Porque esse enfrentamento afaga nossa auto-estima. E nos estimula a sermos os eternos lutadores. Só não devemos ser derrotados antes do tempo. Esse tipo de derrota não cabe dentro dos nossos sentimentos.
E os desafios, os bons desafios, são uma prova. Um direito que ofertamos a nossa dignidade. É uma atitude que herdamos da nossa trajetória e da nossa consciência.
Assim, nas doces ocasiões que a vida nos proporciona em um entardecer chuvoso, ou na solidão de um mate cevado com o coração. Decidimos: Vamos fazer a hora. E ousamos e, assim, vencemos naquela oportunidade.
Não somos mais cabritos silenciosos que acatam serenamente ditames ardidos ou verbetes desaforados ocultos em conspirações na calada da sesta.
Nem sei se ainda somos cabritos. Talvez humanos malditos por ousar e buscar a vitória.
Diz o poeta que havia uma pedra no caminho, mas pra quem não anda sozinho, a própria trilha liberta. E esse é o sinal de alerta para sermos viandantes.
E se a pedra continua estática e complacente, ela nos revolta. Não olhamos mais para essa rocha e somos indiferentes a sua existência. Apenas nos indignamos com a sua previsível obediência às capas pretas desbotadas pelas intempéries dos anos.
Nós queremos novas propostas e uma vida feliz. Nós queremos rostos novos que significam a mudança. E, também, caras antigas, pois ali encontramos a experiência. Essa é a essência de um time que joga junto.
Não somos cabritos silenciosos e não berraremos a esmo. Nós também berramos nos comícios e trazemos nas faces os indícios das agruras da vida vivida no intenso autenticar dos dias.
Nós queremos berrar contra as injustiças. Nós queremos berrar contra a truculência e o descaso dos senhores dos gabinetes.
Cobraremos, sempre, o sonho que a esperança derrotou porque somos lutadores que lutam uma vida inteira.
Nós queremos berrar e berrar decentemente. Nós queremos berrar nos divertindo. Nós saudamos o comportamento irreverente porque nos alegra essa maneira de vida. Esse sonhar acordado. Essa coisa mal-dormida. Esse corpo simplesmente presente nas ladeiras da vida.
Os desafios estavam postos e nós não decepcionaríamos.
Quando tomamos a decisão de enfrentar uma disputa para a direção do sindicato dos bancários, tínhamos a certeza das dificuldades e do provável acirramento. Então, decidimos que nossa inserção nos bancos seria de forma cordial, participativa e, acima de tudo, ouvintes de uma categoria ansiosa por novidades e ávida por sugestões.
Nas nossas reuniões estava evidente que no cerne dos componentes da chapa havia uma apreensão muito grande. A injustiça nos causa desconforto.
Queremos mudanças nas atitudes do governo e tratamento digno por parte das administrações dos bancos. Assim, surgiu um grito que desconsertava propostas frágeis e fazia um chamamento.
Em conseqüência, a chapa 2, lá em 2005, chamou-se Grito de Alerta.
E com esse grito de alerta nos dirigimos à categoria. Porque há algo que nos revolta sob esse sol de um inverno desguarnecido que nos alegra e conforta. Não queremos a paz do sepulcro, tampouco seja aprazível um caldeirão incandescente. Não queremos o silêncio dos inocentes e, sim, o ruído dos transeuntes. Queremos o barulho das ruas e as vozes da multidão. Não gritamos simplesmente por gritar. Gritamos porque somos inquietos e perseverantes. Impacientes diante das arbitrariedades e de malfadados arranjos na calada da noite.
E sempre tivemos em mente e reafirmamos todos os compromissos assumidos na campanha, principalmente, de que não seremos subservientes a governos, partidos, grupos ou a cacifes políticos. E quando setembro vier, estaremos prontos para, mais uma vez, enfrentarmos os desafios da primavera.
Nesses últimos três anos tivemos vários embates.
E nunca deixamos de cobrar dos governos transparência, ética e respeito com a coisa pública.
As nossas mãos que fazem o dia a dia do sistema financeiro. Que cumprem metas. Que contam dinheiro. Que anotam. Que autenticam. São as mesmas mãos que tocam bumbos sobre o fundo de uma noite escura, e que fogem da clausura do eterno tique-taque das horas.
Na batida cadenciada do bumbo faremos nossas manifestações. E a nossa música nos liberta e nos dignifica como trabalhadores e cidadãos porque nós cantamos uma “Canción con todos”.
Os versos das nossas músicas contêm a alma dos trabalhadores, pois somos baguais veteranos que não se entregam. A nossa música tem a solidariedade, pois nós temos muitos hermanos. Os nossos versos contêm rosas, azaléias e margaridas em jardins além do horizonte porque não é permitido não falar das flores. Nós também somos cantores. A nossa música é uma roda viva que nos enche de esperança.
Nessa vida de competição desenfreada, o mundo é dos vivos. O mundo é dos bancos, mas os bancos, dos mendigos.
Afinal, nos perguntamos: qual é a música dos banqueiros? O tilintar das moedas. O ruído das autenticações. As músicas dos banqueiros também são formadas por notas. Por milhares de notas acumuladas em seus indecentes lucros.
Os versos das nossas músicas não rimam com corrupção. Até podemos chorar ao ouvir algumas de nossas canções, mas por estarmos emocionados e não por sermos traídos ou atraídos por migalhas. E nosso coração bancário, por vezes, fica aflito, bate uma outra falha.
O segmento empresarial que mais lucrou nos oito anos de FHC foram os bancos. Dizíamos que era vergonhosa e indecente a lucratividade dos banqueiros.
Com a posse de Lula imaginamos que uma mudança haveria na economia para equilibrar essa farra lucrativa dos banqueiros. No entanto, com o atual governo os banqueiros bateram seus próprios recordes e continuam lucrando em cifras estratosféricas.
E tudo parece normal. Hoje, quem não sonha em se tornar dono de banco?
Se fizermos uma análise abrangendo toda a América Latina, nenhum banco conseguiu em toda a sua história atingir uma lucratividade como o Bradesco teve em 2005. O maior banco privado do Brasil fechou o ano com um lucro líquido recorde 80% superior ao do ano anterior.
Os maiores bancos públicos federais do país, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, divulgaram seus balanços com lucros recordes.
E os bancários? Os bancários trabalham com medo das demissões e são coagidos a vender produtos e cumprir metas absurdas.
São trabalhadores estressados e com um considerável índice de alcoólicos. Mas algo desenvolve nos bancários: A LER/DORT.
Mas os banqueiros não sabem o que é essa doença. Eles não estão nem aí.
Para melhorar a qualidade de vida e de atendimento a ampliação do horário seria uma medida socialmente justa, mas isso os banqueiros não discutem.
Com essa galáctica lucratividade os bancos deveriam exercer maior responsabilidade social, reduzindo juros e tarifas e melhorar a prestação de serviços aos clientes com novos postos de trabalho.
Nos bancos privados sabemos para onde vai o lucro, para o bolso do banqueiro e dos demais acionistas. E nos bancos públicos?
Está claro que todos queremos empresas públicas sadias e que dêem lucro. Contudo a sanha devoradora de metas e lucros já beira a irracionalidade. Aqui mesmo na região já tivemos denúncias de gerentes de bancos públicos que obrigaram seus funcionários a comprar produtos para atingir metas. Levamos a denúncia ao superintendente regional, mas nenhuma atitude foi tomada. Inclusive porque sabemos como é que funciona esta cadeia. Um iluminado de Brasília ou Porto Alegre (no caso do Banrisul), decide que a meta é vender seguro. O diretor cobra do superintendente estadual, que cobra do regional que cobra do gerente que cobra do coitado que está lá na ponta e não entende porque tem que vender seguro para dar lucro para a Sul América ou para uma empresa da França.
Todo santo dia abrimos o jornal na esperança de encontrarmos boas notícias do governo estadual. Notícias que nos fizessem lembrar que o "Rio Grande vai ser grande de novo" como dizia a música da campanha da então candidata Yeda Crusius.
No entanto, o governo de Yeda temos apenas o velho e surrado estilo e a mesma ladainha de sempre.
Antes de assumir tentou aumentar os impostos. Uma vergonha, contradizendo com o estilo novo, e depois deu um calote nos servidores. Mostrando, mais uma vez, que aquela conversinha da campanha eleitoral era apenas para "acalentar bovinos". As promessas e compromissos assumidos com os gaúchos estão em lugar incerto e não sabido.
Quando os salários dos servidores sofrem atrasos é porque prioridades são tomadas. Para um governo que reza pela cartilha neoliberal salário nunca será prioridade.
Esse novo jeito é cópia do governo que mais vendeu patrimônio público.
E esse atraso se repete como rascunho inacabado e malfeito do governo de Brito. Uma chanchada administrativa que os funcionários do estado são obrigados a assistir.
Mas nesses dias frios que estão por vir, podemos esquentar o corpo com uma purinha da quarta colônia ou uma cachacinha lá das bandas de Dom Pedrito. Em caso de dias quentes, dois dedos de canha é mais do que suficiente para espantar o calor. E muitos dedos de canha para ficar borracho. Sempre lembrando da lei seca. E da recente tolerância zero das autoridades.
Então, nós podemos sugerir um novo jeito de os gaúchos ficarem borrachos. Dado os atuais bate-cabeça da governadora com seu vice e os bate-bocas na assembléia, bebamos “Fogo Paulista”.
Fogo Paulista é uma boa solução para agüentar a falta de sensibilidade do governo estadual.
É longa e árdua a luta dos bancários pela preservação do patrimônio público.
E ainda hoje tem relevância. A cada ano surgem novas tentativas de desmonte das estatais.
A privatização do Banrisul está colocada bem evidente no horizonte dos gaúchos. É ensandecida a gana privatista da social-democracia brasileira. Para esse pessoal administrar é vender patrimônio. Os bancários sempre revigoram suas forças e estão lutando bravamente contra mais esse descalabro administrativo.
No entanto, o governo federal não privatiza, mas inventa subterfúgios que tangenciam a privatização.
Assim surgiram as PPP`s (parcerias público privadas). As compras de vagas em escolas particulares e a reformulação dos hospitais públicos.
Há alguns meses a imprensa anunciou a possível fusão Banco do Brasil com a Caixa Econômica Federal.
E isso nos tornam apreensivos, mais uma vez teremos que sair às ruas para defender a preservação de instituições públicas e centenárias. E, fundamentalmente, do povo do Brasil.
Com essa fusão, deixa-se o passado para trás. E no melhor e mais avançado requinte neoliberal do governo os atuais gestores vislumbram um banco gigantesco para competir com os bancos privados.
Como são bancos com profundas diferenças haverá, certamente, reformas estatutárias. Então, percebe-se outro risco: o monopólio do penhor, a administração do FGTS, do PIS e do Seguro Desemprego. Só para citar algumas carteiras administradas pela Caixa. Vejam o que vem por aí.
E temos sentido claro esse intuito. O programa de aposentadoria do Banco do Brasil foi ao encontro dessa fusão. Os que puderam sair estão salvos do desemprego.
E, agora, encaminha-se uma reestruturação, também, na Caixa. Com a imposição de um Plano de Cargos e Salários e um Novo Plano de previdência. E mais empregados serão convidados a se aposentarem.
O que para os banqueiros é uma administração enxuta para nós, trabalhadores, é sinônimo de desemprego e péssimas condições de trabalho.
O dissídio coletivo dos bancários tem suas particularidades que evidenciaram nossas contradições e, em alguns momentos, clarificaram nossos preconceitos.
Mais uma vez a dita campanha unificada foi uma farsa. Corroborando a máxima de Karl Marx que diz: A história, primeiro, acontece como tragédia, depois como farsa.
Temos claro que a campanha unificada, ou mesa única, não é o diálogo que fazemos com a base dos bancários. Por que não voltemos ao plebiscito ou a consulta? Estamos com receio do resultado? Um tema que deverá ser pautado, novamente, nos próximos congressos.
Na campanha salarial de 2007, em Santa Maria, tivemos uma particularidade regional, mas bem esclarecedora da nossa índole de classe média metida a besta e formada pelo Jornal Nacional.
Aqui, tivemos o apoio do MST. A marcha do MST rumo à fazenda Coqueiros estava em Santa Maria e tivemos uma atividade em conjunto durante um dia inteiro em frente a agência Santa Maria da Caixa. Foi um exercício, uma tentativa de explicar a outra máxima de Marx: Trabalhadores do mundo, uni-vos.
Alguns colegas sentiram-se incomodados. Não houve compreensão de que os trabalhadores conscientes apóiam a luta de outros trabalhadores conscientes.
Alguns bancários formados e formatados pela grande mídia, não entenderam.
Essa possibilidade foi debatida no comando da Caixa e, posteriormente, com os representantes dos Sem-terras. Mas o entendimento foi de que poderia ser pedagógico. E foi.
No entanto, as atitudes preconceituosas não ficaram no âmbito da nossa base sindical.
Na Câmara de Vereadores ecoaram vozes de nobres parlamentares com o mesmo conteúdo ideológico, discriminatório e preconceituoso.
Os mesmos dois vereadores que, dias depois, deram vivas ao Padre Xico em sua homenagem. Então, o espírito cristão desses vereadores não admitia a permanência dos Sem-terras na cidade. Um deles, ex-presidente, disse que essa gente não é bem-vinda em Santa Maria. Atitude preconceituosa do nobre vereador. O outro marcou dia e hora para os Sem-terras irem embora. Ambos serão candidatos a reeleição.
É desconcertante.
Naquela oportunidade a Executiva do sindicato aprovou um documentário, que está sendo editado pela TV OVO, acerca da passagem do MST por Santa Maria.
Naquela semana, o Cineclube Lanterninha Aurélio fez uma sessão de filmes infantis para a gurizada e para os adultos foi exibido o Abril despedaçado. O jornal Rascunho, da Cesma (Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria) entrevistou num bate-papo de duas horas os representantes do MST. Foram batidas mais de 300 fotos na tentativa de descobrir um bandido, um marginal. Um corrupto. Em vão.
Para achar um bandido, marginal ou corrupto essas equipes estavam no lugar errado.
Tiramos uma grande lição. Simples como a água cristalina de um córrego ou uma folha orvalhada numa manhã. São pessoas pobres, excluídas de nossa sociedade que lutam por um pedaço de terra.
Mas a nossa sociedade os enxerga como bárbaros, marginais e bandidos.
Parece incrível, mas as crianças brincam, correm e fazem algazarra. Os homens têm o olhar no futuro, alguns são colorados, outros gremistas. As mulheres são dedicadas, conscientes e sonham com os filhos nas escolas. Esses são os marginais que encontramos.
Esse ano o Brasil comemora o bicentenário de vinda da Família Real Portuguesa. Muitos programas de televisão e vários livros foram lançados com essa temática. E é bom que assim seja, pois voltamos nossos olhos para a nossa história. A televisão torna-se educativa e os brasileiros têm a possibilidade de revisitar momentos de estudos que ficaram nos livros escolares.
A vinda da Família Real foi uma epopéia, pois deslocar uma corte inteira para o outro lado do oceano não foi uma tarefa fácil.
No entanto, ao analisarmos esse episódio temos alguma dúvida se há motivos para idolatria dos nossos nobres ou para comemorar esses 200 anos.
Nutrimos uma certa simpatia pelo príncipe regente Dom João VI, transpassava um estilo bonachão, glutão e extremamente inseguro. Algumas passagens de sua trajetória nos leva a crer que Dom João era um covarde.
Consta que se a Família Real tivesse ficado em Portugal e enfrentado as forças francesas eles teriam vencido, pois o exército de Napoleão chegou aos frangalhos em Lisboa, os soldados mal tinham forças para carregar suas próprias armas.
Quando chegou ao Rio de Janeiro, Dom João requisitou casas para abrigar a nobreza. Colocavam as letras PR na porta para indicar que era do Príncipe Regente e que ali passaria a ser habitação de um nobre recém chegado de Portugal. Mas a irreverência carioca não é de hoje e logo se disseminou o PR como Ponha-se na Rua.
Dom João também abriu os portos às nações amigas, ou muy amigas. Na realidade era uma abertura dos portos à Inglaterra que fez a escolta da Família até o Brasil.
Também, para financiar a nobreza e manter o status, títulos e condecorações, Dom João criou o Banco do Brasil. E o BB foi um incentivador das benesses Reais. Quando Dom João foi obrigado a voltar para Portugal, o Banco do Brasil sofreu o primeiro assalto de sua história, pois a Família Real e seu príncipe regente covarde, mas astuto, raspou os cofres do Banco. O saque foi tão grande que a instituição ficou fechada por vários anos.
Naqueles tempos de monarquia brasileira, havia um jornal que circulava em Londres. O Correio Brasiliense que pertencia ao jornalista Hipólito da Costa. Pois esse jornal recebia uma “ajuda financeira” para maneirar nas críticas à monarquia e ao Príncipe Dom João. O nosso príncipe era preocupado com a imagem da nobreza.
Nos últimos tempos muito se tem falado de corrupção e vemos poucos punidos. Vemos manchetes de desvios de verbas públicas e temos órgãos de imprensa submissos porque são coniventes ou raivosos porque não conseguiram conveniências. Assim, percebemos que esses desmandos também completam duzentos anos ou mais.
Vem de longe essa mania de misturar o público com o privado. Vem de longe essa mania de impunidade aos colarinhos brancos. Vem de longe essa hipocrisia. Tintim! Duzentos anos de história. Estamos todos de parabéns.
Enfim, meus caros amigos.
Hoje, ao assumirmos a direção do sindicato levaremos as propostas da Chapa Ave sonora.
Buscamos no poema Ave sonora de Gilvan Retamoso Palma inspiração para propor o novo e rever conceitos. E não temos outro jeito de assumir esse compromisso. Ave sonora sintetiza a rebeldia e a contestação.
Gilvan escreveu esse poema em homenagem a Mario Quintana quando o poeta foi recusado na Academia Brasileira de Letras. Pois a academia é só mania de quem tem plata. Assim, queremos levar à categoria que se encanta com o sol-pôr e renasce nos sonhos com o sol-nascente a nossa veia inclemente de fazer sindicalismo sério, propositivo e com transparência.
Pois estamos sempre à espreita dos balanços dos banqueiros e vemos que a cada ano mais plata continuam nos seus abarrotados cofres.
Estamos alerta como o quero-quero, pássaro símbolo do Rio Grande e sentinela dos pampas, porque queremos e almejamos o melhor para todos. Um Rio Grande que seja grande para o seu povo e não apenas grande para uma minoria. Ainda nos encanta essa desobediência de sonhar acordado, de ter a mão amiga e um abraço apertado. Essa alquimia que nos coloca no mesmo lado. De caminharmos sobre a relva em uma manhã de primavera ou nos aconchegarmos sobre um poncho numa tarde de inverno. Queremos um cálice de vinho tinto e um trago de pinga na campanha. É essa a nossa façanha de ver as coisas do avesso, do fim para o começo ou do jeito de cada um num arrojado desafio, mas o que importa nesse momento é que num segundo seremos mil.
Corremos de alma pura por campos e matas porque não há censura nem linha dura para essa passeata. Ave sonora, nós queremos paz, mas não a paz dos campos santos.
Queremos a paz nos estádios, nas ruas, nos centros das cidades e nas vilas populares. Queremos paz em nossos corações e em nossas atitudes. Queremos um meio para sermos inteiros em nosso assobio.
Queremos um pincel para pintarmos com aquarelas as flores do nome dela. Ou desenhar pinguelas sobre riachos cristalinos. Nós não queremos um bodoque que nos coloque com quatro velas. Nem fechar encantos com uma cancela.
Há uma razão para viver, várias para sonhar e milhares, ainda, para serem descobertas. Mas há apenas uma razão que nos diferencia: estamos sempre alerta.
Não há motivos para a demagogia, sorrisos falsos, tapinhas nas costas e hipocrisia. Nosso compromisso é com a luta, com a ética, com a coerência e exercê-la em sua enésima potência. Há um convite a ser feito aos bancários. Caminhemos juntos nessa jornada de pura alegria.
Ave sonora eu vou embora.
Eu vou contigo no vôo amigo desta canção.