PALAVRAS DE DESPEDIDA DO CHEFE DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
Esta cerimônia de transmissão do cargo de Chefe do Estado-Maior do Exército é também o momento de minha despedida do serviço ativo. É natural que emoções aflorem com intensidades variadas.
Olhando para trás, sinto que os 48 anos de carreira militar, iniciados no “Velho Casarão da Várzea”, transcorreram como um flash.
A saudosa Escola Preparatória de Porto Alegre me deu a oportunidade de conhecer SÔNIA. A magnífica Academia Militar das Agulhas Negras me tornou soldado e, na primeira Unidade, o 13º Regimento de Infantaria em Ponta Grossa, me realizei como Tenente da Rainha das Armas,
iniciando uma carreira muito bem sucedida.
Casei-me com SÔNIA, logo após a promoção a 2º Tenente.Crescemos juntos, enfrentando os desafios típicos da família militar. Cada obstáculo vencido nos tornava mais fortes. Jamais sonhei chegar tão longe; sempre busquei cumprir as missões do momento. Meus devaneios eram
tão somente em relação ao degrau seguinte. Participei de importantes momentos da nossa História. Como Cadete, sob a liderança do Gen Bda Emílio Garrastazu Médici, junto com meus
jovens companheiros, evitamos o confronto entre irmãos de farda.
Vivi o período revolucionário e acompanhei naqueles anos o "Milagre Brasileiro". O vertiginoso crescimento do País, em circunstâncias adversas, teve receita simples: meticuloso planejamento, trabalho árduo e inteligente e respeito ao erário público.
Constatei a dignidade dos nossos velhos chefes. Mesmo quando detiveram o poder, não permitiram que nos transformássemos em casta privilegiada distante do povo brasileiro.
Reconheço neles a habilidade ao preparar as gerações futuras para que o Exército Brasileiro seguisse evoluindo, acompanhando o desenvolvimento tecnológico, as novas doutrinas de emprego e a nova conjuntura mundial.
Entretanto, o mais marcante trabalho dos antigos chefes foi a vigorosa transmissão dos valores que nos são mais caros. Eles foram fiéis ao legado de Caxias; aquele excepcional soldado; o principal responsável pela Unidade Nacional!
Por isso mesmo, é com justo orgulho que me afasto, no momento em que sucessivas pesquisas de opinião ratificam a credibilidade que a instituição goza junto à população, fazendo cada vez mais pertinente o lema: “Braço Forte, Mão Amiga”.
Estimado General-de-Exército ENZO MARTINS PERI, sabe-se que a escolha do Chefe do Estado-Maior do Exército é prerrogativa do Comandante. Busquei corresponder à confiança em mim depositada.
Honrou-me, a par de meu dever funcional, a possibilidade de mitigar a conhecida “solidão do comando”. Em meio à relação de subordinação, vicejou fraterna amizade. Na oportunidade dessa despedida, desejo-lhe muita força e sabedoria na condução do nosso Exército. Na reserva, continuo seu soldado.
Ninguém vence sozinho. Se a missão foi coroada de êxito é porque muitos contribuíram para esse fim.
Nesse sentido, reconheço - de imediato - o excelente desempenho de meus subordinados, especialmente, meus Oficiais-Generais: Gen Div MATTOS - Vice-Chefe do EME; os meus Subchefes, Generais VAZ DA SILVA, CHEREM, BENZI, VILLAS BOAS, MARCO AURÉLIO, FLECK e FORINI. Destaco nesses distintos Oficiais-Generais a lealdade, a competência e o profissionalismo; o exercício permanente da liderança; a nítida compreensão da missão e o correto e oportuno assessoramento à Chefia; bem como, as inúmeras demonstrações de apreço e de amizade dispensados a mim e a minha esposa. Estendo o meu reconhecimento, ainda, aos generais BREIDE, TERRA AMARAL e MONTEZANO, ex-integrantes do EME.
Enalteço, também, todos os demais integrantes do EME – Órgão de Direção Geral, responsável pela condução de todas as transformações realizadas na Força Terrestre – Contei com uma equipe de oficiais, praças e funcionários civis dedicados e altamente capacitados. Dentre eles reconheço a eficiência, a prontidão e a amizade de meus Assistentes, os Coronéis CHAGAS e BONFIM e de meu Auxiliar do Estado-Maior Pessoal, de muitos anos, o Capitão GUERINO.
Por relevante, meu reconhecimento aos meus comandantes do passado, pelo exemplo; aos companheiros da gloriosa Turma Nações Unidas, pelo apoio e estímulos constantes; aos meus subordinados, nas mais diversas situações, pela lealdade e aprendizados mútuo; e aos integrantes da Reserva Ativa, pelas palavras de incentivo.
Destaco, ainda, o sadio congraçamento, a amizade e a sempre pronta cooperação dos Comandos Militares das Forças co-irmãs, Marinha e Aeronáutica.
Enalteço, também, os inúmeros amigos civis – patriotas como nós, militares – que cedo se apresentaram espontâneos para o que fosse necessário e se mantiveram coesos e vibrantes, apoiando nosso trabalho e prestigiando nosso Exército.
Volto o meu pensamento, emocionado, à minha família e agradeço o apoio incondicional recebido, primeiramente, aos meus pais NONATO E GISÉLIA que, com simplicidade souberam forjar o caráter do cidadão.
Aos meus filhos GILDA e DANIEL, agradeço o incentivo e as palavras de afeto e de amor, bem como, os preciosos presentes de Deus, nossas netas: AMANDA e GIOVANNA.
A você SÔNIA, minha querida e devotada esposa, quero dedicar um agradecimento muitíssimo especial por estar sempre ao meu lado, desempenhando com atenção, carinho e de maneira exemplar as inúmeras e árduas tarefas de mulher de soldado.
Você tem sido a inspiração pessoal e espiritual para minha missão neste plano. Reconheço, ainda, sua eficiente e equilibrada participação junto à Família Militar na condução de inúmeros trabalhos sociais. Por diversas vezes, percebi que você deixava de realizar os seus sonhos para
que eu realizasse os meus!
Ao General-de-Exército DARKE NUNES DE FIGUEIREDO, caro amigo que me substitui em missão complexa, desafiadora e repleta de realizações, desejo saúde, sucesso e sorte à frente do EME. Como sempre afirmo, seu trabalho será desenvolvido em campo fértil, onde a camaradagem é regra de convivência; a honra é valor a ser preservado; a verdade é crença comum; e o patriotismo não se confunde com interesses secundários.
Aos companheiros do ALTO COMANDO DO EXÉRCITO, que muito me prestigiaram, os agradecimentos pela contribuição competente ao meu trabalho e pela maneira profissional e cortês com que sempre me deferiram. Aos senhores, a quem cabe, sob a orientação do nosso Comandante, conduzir os destinos do nosso Exército, a proteção divina, como eu as tive, iluminando o meu caminho.
Há muito tempo, compreendi a magnitude da frase apanágio do notável Mallet, por senti-la com intensidade: “Minha força vem do alto!”.
Reafirmo, com vibração, minha crença inabalável no Exército Brasileiro, na preservação das virtudes militares e na manutenção dos valores democráticos.
É hora de partir! A saudade já domina nossos corações - meu e de SÔNIA - por deixar o convívio dos amigos e, em especial, o da Família Militar. Vou para o aguardado descanso junto aos entes queridos. Buscarei o novo destino, rogando a Deus que, em sua imensa bondade, derrame
suas bênçãos sobre todos nós.
LUIZ EDMUNDO MAIA DE CARVALHO - General-de-Exército