POR ESSA E OUTRAS FALCATRUAS O BRASIL É MUITO MAL VISTO NO EXTERIOR. MAS O BRASILEIRO NÃO APRENDE.
"Me tirem daí"
Executivo do Morgan Stanley diz que os investidores ficaram assustados com os prejuízos das empresas brasileiras com operações de câmbio
Germano Lüders
Harland: "O Brasil tem bancos sólidos, política fiscal responsável e grandes reservas"
Por Eduardo Salgado
Revista EXAME Responsável pela operação do Morgan Stanley na América Latina, o executivo Christopher Harland é um otimista em relação ao Brasil. Embora veja muitos investidores querendo retirar recursos do país, Harland acredita que a economia brasileira vai resistir bem à crise global e voltar a crescer.
1) Como os investidores estrangeiros avaliam o Brasil hoje?
As operações de algumas empresas exportadoras com derivativos não caíram nada bem. Todo mundo foi pego de surpresa, e a impressão que ficou é que houve especulação com o dólar. Os investidores, estrangeiros e brasileiros, queriam aplicar nas empresas, e não especular com moedas. Há muitos estrangeiros dizendo: "Me tirem daí".
2) Que outros aspectos da economia brasileira merecem atenção neste momento?
Os investidores continuarão a monitorar com atenção mudanças na política fiscal e no ambiente de crédito, especialmente enquanto estivermos atravessando este momento de desaceleração econômica.
3) Qual o potencial de estrago da crise global sobre a economia brasileira?
O Brasil tem um sistema bancário sólido, uma política monetária responsável e grandes reservas internacionais. A queda dos preços das matérias-primas causará transtornos a países que são grandes exportadores desses produtos, como é o caso do Brasil. Mas, quando a economia global voltar a crescer, a demanda mundial por alimentos e matérias-primas tenderá a aumentar outra vez.
4) Por que a Bovespa tem registrado uma queda mais acentuada do que as outras bolsas?
A bolsa brasileira é muito dependente dos investidores estrangeiros. Num momento de pânico, a reação deles é fugir dos mercados emergentes. Esse movimento não tem afetado apenas o Brasil mas também os mercados de valores de países como a Rússia.
5) Existe alguma forma de tentar estancar essa sangria na bolsa de valores?
Uma das reformas que o governo poderia pensar é incentivar os fundos de pensão locais a investir mais em ações. Agora que há muita coisa barata na bolsa, seria um bom momento para esses fundos de pensão entrarem. Outra medida importante seria aumentar o período que o dinheiro dos investidores fica trancado nos fundos - quem quisesse retirar antes do prazo seria obrigado a pagar uma multa salgada. Essa medida faria com que a volatilidade diminuísse.
6) Que mudanças a crise financeira produziu num banco do porte do Morgan Stanley?
Recentemente, deixamos de ser um banco de investimento para nos tornarmos um banco comercial. Com isso, passamos a responder ao Federal Reserve, o Fed, o banco central americano. O Fed terá funcionários locados dentro do Morgan Stanley. Diferentemente de um banco de investimento puro, um banco comercial precisa obedecer a um número maior de regras. Fora isso, é certo que haverá um processo de desalavancagem - ou seja, o banco vai ser gerenciado de uma forma mais conservadora. Mas uma coisa precisa ficar clara: os princípios de nossa cultura não vão mudar.
7) Isso resolverá todos os problemas?
Responder ao banco central é importante porque dá acesso às janelas de redesconto do Fed - as linhas de financiamento concedidas com juros menores. E, em momentos de grande volatilidade, isso faz a diferença.