Começou mais um ano.
Milhares de pessoas juram que tudo vai ser diferente.
Fortunas são gastas com foguetes em espetáculos pirotécnicos que duram alguns minutos.
Dinheiro jogado pelo ar.
Dinheiro jogado fora.
Nas estradas mal conservadas centenas de pessoas perdem a vida e outras tantas ficam feridas acabando com a alegria de final e começo de ano.
Todo final e começo de ano é a mesma coisa.
Pessoas se abraçam e juram que muita coisa vai mudar.
E tudo é igual.
Como um vídeo-tape maldito, as tragédias anunciadas se sucedem e a natureza parece que escolhe exatamente esta época para mostrar sua revolta.
Contra a destruição do planeta.
Contra o homem.
Que consome fortunas para iluminar os céus com foguetes em festas de mentira, para alegrar uma legião de pessoas sem compromisso e sem nenhum senso de responsabilidade com a preservação do eco-sistema.
Contra o homem.
Que canta e dança, come e bebe enquanto cidades inteiras estão debaixo d água trazida pelos rios e córregos poluídos e em agonia.
Enquanto somente os mais pobres e ribeirinhos de córregos imundos eram atingidos o clamor da mídia era apenas um sussurro.
Infelizmente o braço da vingança da natureza teve que atingir um paraíso natural onde pessoas de melhor poder aquisitivo se preparavam para comemorar.
Aí foi tragédia.
Morte e festa não combinam.
E todo ano é assim
Durante todo o ano toneladas de lixo são jogados nas ruas e barracos são construídos nas encostas e à beira de córregos.
Os governos se fingem de mudos.
Fingem-se de cegos.
Com o aumento dos atingidos pela tragédia aumenta também a possibilidade de resolver o problema de alguns a troco de voto na eleição seguinte. E mais uma vez políticos sacanas colocam seus puxa-sacos nas ruas para comprarem os votos necessários a mais uma reeleição.
Inundações.
Tragédias.
São coisas corriqueiras de fim e começo de ano.
Tudo se repete.
Liguei o televisor no dia dois e a programação ou a falta de programação era exatamente a mesma.
Um pregador profissional pedia dinheiro no maior descaramento e teve a audácia de dizer que pedia somente para a igreja porque é bem sucedido no ramo da literatura, que era o pregador que mais vende livro no país. Para se justificar disse em alto e bom tom que a Avon (não citou o nome) comprou de uma só vez 500.000 livros da sua autoria.
Entra ano e sai ano é mesma coisa.