Discurso proferido por Adrião Neto na solenidade de inauguração das estátuas em homenagem aos vaqueiros e roceiros, no Monumento Nacional do Jenipapo
(Saudação)
Meus senhores e minhas senhoras
Em janeiro de 2005, há mais de doze anos, iniciei minha luta pela inclusão da data histórica da Batalha do Jenipapo na Bandeira do Piauí, e uma campanha pelo reconhecimento da importância e da valorização dos nossos verdadeiros heróis – os bravos vaqueiros e roceiros da macrorregião de Campo Maior, que lutaram na mais sangrenta de todas as lutas em favor da emancipação política do Brasil.
No artigo 13 de Março – um data injustiçada, publicado em vários jornais e portais do Piauí e de outros Estados, bem como na revista “De Repente” e no livro “A Epopeia do Jenipapo”, apresentei uma sugestão para que a Assembleia Legislativa votasse uma lei incluindo a data: 13 DE MARÇO DE 1823, escrita em caracteres brancos, abaixo da estrela que se encontra estampada no retângulo azul da Bandeira do Piauí.
No mesmo artigo, levando-se em consideração de que o grosso dos combatentes daquela sangrenta batalha, era constituído por vaqueiros e roceiros, sugeri ao governo do Estado para que os homenageassem com duas estátuas, no Monumento Nacional do Jenipapo.
Travamos uma luta árdua para modificar a bandeira. Não foi nada fácil, mas graças ao apoio e a determinação do deputado Homero Ferreira Castelo Branco Neto, que comungando com os nossos ideais, apresentou um projeto de lei visando atender ao nosso pleito, em 17 de novembro de 2005, após a derrubada do veto do governador, o presidente da Assembleia Legislativa – Deputado Themístocles Filho, sancionou a Lei nº 5.507, que incluiu a data histórica da Batalha no Jenipapo na Bandeira do Piauí.
Em relação à homenagem aos nossos verdadeiros heróis, a luta foi mais demorada, durou mais de doze anos. Em várias ocasiões, inclusive numa das solenidades realizada pela Academia Campomaiorense de Artes e Letras (ACALE), onde me apresentei de gibão e chapéu de couro, tive a oportunidade de renovar minha proposta para que, ao lado do busto do alferes Leonardo Castelo Branco (inaugurado no segundo governo de Hugo Napoleão como parte integrante do Monumento Nacional do Jenipapo), o governador mandasse erigir duas outras estátuas: uma de um “vaqueiro” montado em seu cavalo de campo, ostentando um facão (cena parecida com a de Dom Pedro, no Grito do Ipiranga) e a outra de um “roceiro”, armado de foice, em posição de ataque.
Apesar de uma vaga promessa oficial, o governo do Estado nunca se interessou em fazer justiça aos nossos verdadeiros heróis, especialmente aos vaqueiros, os baluartes de nossa colonização. Pois, foi em torno das fazendas de gado, onde geralmente viviam apenas o proprietário ou o encarregado e os vaqueiros, que algum tempo depois surgiram os principais núcleos populacionais. Eles, que na verdade não eram propriamente empregados e sim um parceiro do dono da fazenda, vez que, de cada quatro crias, tinham direito a uma, tornando-se depois, invariavelmente, num pequeno fazendeiro, foram os responsáveis pelo desenvolvimento da pecuária, que durante muito tempo tornou-se na principal riqueza e fonte de renda do nosso Estado. São eles e os roceiros, os nossos heróis anônimos a quem devemos praticamente tudo, inclusive a nossa independência.
E por falar em vaqueiro, vale a pena ressaltar, que foi um vaqueiro piauiense, Raimundo Gomes Vieira Jutaí, o famoso Cara Preta, natural de Campo Maior, que traduzindo o sentimento de revolta das classes menos favorecidas contra o sistema vigente, quem acendeu o estopim da Guerra dos Balaios e foi um dos chefes mais ativo daquele movimento.
Outrossim, vale a pena registrar, que o tenente-coronel Manuel de Sousa Martins, o famoso Visconde da Parnaíba – principal articulador da adesão de Oeiras ao movimento separatista de Parnaíba, que culminou com a Batalha do Jenipapo, também foi vaqueiro.
Meus senhores e minhas senhoras,
Mesmo sem contar com o apoio oficial, a nossa luta que sempre contou com o incentivo de vários amigos e da Academia Campomaiorense de Artes e Letras (ACALE), acaba de conseguir mais uma vitória com a inauguração dessas duas magníficas estátuas, viabilizadas pelo presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac no Piauí, Dr. Francisco Valdeci de Sousa Cavalcante, que abraçando a nossa causa, fez justiça aos nossos verdadeiros heróis, os bravos vaqueiros e roceiros que lutaram na sangrenta Batalha do Jenipapo.
Na oportunidade agradeço a todos que apoiaram essas reivindicações, especialmente ao Deputado Homero Ferreira Castelo Branco Neto, autor da lei que inseriu a data histórica da Batalha do Jenipapo na Bandeira do Piauí; ao presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac no Piauí, Dr. Francisco Valdeci de Sousa Cavalcante, que viabilizou as estátuas em homenagem aos vaqueiros e roceiros; ao Deputado Wilson Brandão, relator da lei acima mencionada; ao escritor Antenor de Castro Rêgo Filho, então chefe de gabinete do Deputado Homero Ferreira Castelo Branco Neto, pela habilidade de contornar os entraves burocráticos e agilizar a tramitação do projeto, que modificou o pavilhão estadual; ao escritor João Alves Filho, presidente da Academia Campomaiorense de Artes e Letras (ACALE), pelo incondicional apoio, e a todos que contribuíram para a viabilização de nossas propostas.
Meus senhores e minhas senhoras,
A inclusão da data histórica da Batalha do Jenipapo na Bandeira do Piauí, e a inauguração dessas estátuas em homenagem aos vaqueiros e aos roceiros, não encerram a nossa jornada.
Agora convoco a todas as instituições culturais, as autoridades e os escritores aqui presentes, para que lutemos juntos pela construção de um monumento em Piracuruca, dedicado ao Combate da Lagoa do Jacaré, ocorrido três dias antes da Batalha do Jenipapo; um monumento em União, em homenagem às investidas vitoriosas dos independentes contra as volantes de Fidié, e um memorial em Oeiras, a então capital do Piauí, em homenagem ao “19 de Outubro”, ao “24 de Janeiro” e ao “13 de Março”.
Convoco também a todos para que lutemos pela valorização da nossa história, fazendo com que este tema seja incluído no currículo escolar das escolas de ensino fundamental e médio da rede pública e privada de ensino do Piauí. E também para que lutemos junto ao Ministério da Educação e/ou junto aos historiadores e editoras para que estes fatos sejam veiculados nos livros didáticos de História do Brasil, adotados em todo o território nacional. Pois, não obstante, a Batalha do Jenipapo ter sido a mais sangrenta de todas as lutas em prol de nossa independência, tendo sido inclusive o fato marcante que a consolidou, constituindo-se numa das mais brilhantes páginas da História do Brasil, escrita com o sangue dos piauienses, maranhenses e cearenses, e especialmente dos vaqueiros e roceiros da macrorregião de Campo Maior, a historiografia oficial veiculada nos compêndios escolares, não divulgam esta heroica epopeia de elevado valor histórico, que, sem dúvida, foi a mais notável de todas as batalhas em favor da emancipação política do Brasil.
O famoso “Grito do Ipiranga”, tão bem retratado pela genialidade artística do renomado pintor Pedro Américo, é a mais perfeita ilustração das palavras do eminente ensaísta e historiador Afrânio Peixoto, que em conferência proferida em 1923, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, afirmou categoricamente: “No Sul, a Independência foi te-déum, beija-mão, aplausos, luminárias, flores e proclamação. No Norte, sítio e trincheira, fome e peste, sangue e morticínio. Aqui, a adesão; lá a guerra”.
Por isso, ao encerrar essas palavras em homenagem aos vaqueiros, aos roceiros e a todos que deram o tributo de sangue para nos deixar este grande legado de liberdade, rompendo definitivamente os grilhões que nos prendiam a Portugal, encho o peito de ar e grito bem alto:
– Vamos todos à luta em busca da realização dos objetivos acima mencionados e da valorização do grande feito histórico dos nossos heróis!