A laranjeira anda carregadinha delas, todas já bem amarelas. Mas ninguém liga, nem a molecada que quando resolve pegá-las é para algo menos nobre, quase indigno, como tiro ao alvo, ou só pelo prazer de as ver se esborracharem contra um muro de quintal.
São as laranjas-capeta, que outra denominação seria mais porreta?E, no entanto, elas não falham, todo ano, florescem, frutificam e, na pior das hipóteses, orlam e ornam a laranjeira desprezada. E sua serventia é curta: coincide com a colheita do milho, quando as espigas granadas, raladas, vão pro tacho de cobre pra fazer o mingau.
Mas alto lá, antes que o zinhavre formado nos longos meses de inatividade do tacho entre em ação e envenene um pelotão, lá estão elas, partidas ao meio, as laranjinhas-capeta para a apta remoção, em frenética esfregação. E eis que o cobre volta a brilhar, virginal, pronto o mingau não minguar. E sem cerimônia, ei-las, as capetinhas, devolvidas ao pé-de-página inglório, cumprido o seu trabalho sanatório, sem choro, sem vela, ou velório.
Mas eis que no meio do ano, junho entrado, com o frio já anunciado, junto às juninas, as capetinhas voltam ao rebolado, desta vez nem cortadas, apenas espetadas na pontinha dos mastros, fagueiras contemplam as fogueiras, Santo Antônio, São João e São Pedro e São Paulo, num silente mas risonho escarcéu, pertinho que estão lá do céu.
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