Refletindo com Bandeira, Drummond e Pessoa
Renato Ferraz
Últimas horas do ano de 2022, o dia transcorre dentro da normalidade, com o céu claro, conforme as égides de verão.
O calendário lunar será fechado, como se convencionou que ao findar um ano, iniciará outro.
Ponho-me a pensar e faço uma rápida reflexão: Veio-me à memória o poeta Manuel Bandeira diante das incertezas
e angústias da vida, pensa em refugiar-se, indo embora para Passárgada.
Quantas vezes alguém se sente inconformado, acha a vida um tédio e pesada demais para carregá-la.
Dessa forma pensa em fugir para algum lugar para escapar da realidade...
Fugir para Passárgada tendo ali o rei como amigo, lhe dá a ilusão que ao gozar dessa amizade poderosa, viveria em um mundo melhor.
Portanto, a sua vida mudaria, ao desaparecerem todos os problemas.
Mas o fato de pensar que a aventura pode se sobrepor ao sofrimento, em definitivo, não seria gerar uma falsa expectativa?
A felicidade é momentânea e cíclica. Do mesmo jeito são também a tristeza, as dificuldades e a dor.
Talvez por isso, depois pensou melhor e lembrou que a infância é uma das melhores fases da vida,
porque a angústia e o estresse não têm a mesma importância da vida adulta.
A aventura, nessa fase, é sincera e não se sofre com as incertezas do amanhã.
Portanto não gera ansiedade nem expectativas. Vive-se plenamente o presente.
Convém-me lembrar também de Carlos Drummond,
Já que nessa mesma época o poeta fazia questão insistentemente
em mostrar que no meio de qualquer caminho há pedras como obstáculos.
Ultrapassar e superar as dificuldades, ao invés de refugiar-se, é a solução para os problemas.
A dor só muda de cor e de endereço, mas ninguém está imune a mesma.
E assim Drummond reforça a sua reflexão com inúmeras perguntas a José!
E agora, josé, a vale a pena mesmo viver? O que às vezes parece ser é que a vida é injusta mesmo, em determinados momentos.
Mas afinal nascemos para enfrentar ou não o desafio de viver?
Sabe-se que a solidão, o abandono, o individualismo fazem parte da vida moderna, principalmente nas grandes cidades.
Estão aí a depressão e outros males do século bem presentes na sociedade.
E se a festa acaba, a luz apaga e o povo vai embora,
depois terá que voltar porque o dia novamente amanhecerá e a as nossas obrigações precisarão ser cumpridas.
É preciso dá um sentido à vida e justificar a existência sendo útil e vivendo suas etapas, de acordo com a experiência que vai se acumulando.
Fernando Pessoa, assim como os dois poetas anteriores, por volta de 1930, das janelas da uma casa, como expectador do movimento
e de tudo que se passa numa tabacaria, faz também nos traz uma reflexão. Expõe-nos suas dúvidas, sua ansiedade e suas expectativas.
O caos, a angústia, o excesso de informação e outras práticas
atormentam aquele homem, a tal ponto de ele se achar que é um sem-valor, um fracassado e um inútil;
portanto seu pessimismo só agrava as circunstâncias. Sua fragilidade e a falta de ambição para vencer as dificuldades,
o tornam cada vez mais depressivo.
É o estilo de vida de cada um que determina a sua paz interior e faz o mundo ser melhor ou não
Sobreviver, sendo útil e ter uma vida digna, dentro da normalidade
é o que se busca durante a existência. Mas é preciso ter raça e força para vencer!
Não basta chorar nem reclamar ou fugir das dificuldades da vida.
|