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Discursos-->Fama inglória, riqueza efêmera -- 12/02/2002 - 00:15 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Lia tudo que lhe fosse indicado. Fosse por amigos, pelo inconsciente esperto, pela moda do momento. Entupia-se de jargões amarelados pelos cupins do tempo. Fazia-se conhecedor de cada pensamento expresso por famosos pensadores. Sabia citar até os urros dos mastodontes de bilhões a.C.

Ilustrava-se a tal ponto, que se transformou num corpo tatuado por grifes ditadas e ditados. Agasalhava na cabeça idéias lógicas que encontrava aqui e ali. Formava conclusões em tabuleiros de enigmas transformados em equações primárias.

Era gentil, isso era muito. A todos agradava em elogios. Era generoso, caridoso até. Aceitava cada pedaço de pão amanhecido como crocante desjejum de um sol a querer espaço. Seria um santo, mas não era.

Sabia-se distante da comuna, mas dela alimentava algo que o tentava, como um eremita atento ao cantar de qualquer pássaro. O desejo de ser ultrapassava a obrigação diária de suprir. O engodo dos sorrisos cegava-lhe o instinto, ora jogado a um canto do desespero, ora a uma espera longínqua.

Tratava a vida como um desacato; algo que o impedia de subir mais degraus, que se tornava insaciável dele a todo momento. Eram fardos a levar, quando só queria irradiar torrentes umbilicais.

Algumas mulheres, vários filhos. Todos a lhe interceptar o destino glorioso. Roubavam-lhe cada segundo precioso, cada brilho do pensamento lhe pediam.

Era afeito a festas, a elogios calorosos. Sabia-se desejado por almas inertes de atenção, com quem jogava perigosas fitas de afeição. A cada passo que erguia, deixava mais distância dos que veio a cuidar. Enriquecia-se de satisfações, enquanto largava a família ao poço da mínima porção.

O orgulho e a vaidade eram-lhe tão presentes, que faziam inócuos quaisquer conselhos que a mente lhe sugerisse. Queria a fama, a riqueza. Sabia que depois tudo lhe estaria ao alcance. Que lhe esperassem galgar o destino glorioso, que fossem pacientes durante o percurso ao cume. Fora nascido para ocupar espaços brilhantes, de escadas cobertas por tapetes da conquista humana.

Por parcos desejos foi deixando rasgos na caminhada. Adiava a visita ao filho, alegando motivos vis, como se pudesse esperar tal caminhada de pai e filho mais alguns anos após. Lá já teria mais recursos, mais discursos. Haveriam de se orgulhar do pai.

A princesa que lhe trouxeram teria todos os vestidos de veludo e seda, o mancebo não se conteria de entusiasmo diante dos mimos caros e de rara beleza. Faria da casa simples o mais belo castelo, onde dezenas de servos lhes serviriam as vontades. Seriam felizes, era esperar mais um pouco, esquecer as vaidades.

Pouco a pouco, o tempo se estendia em lacunas de presença. Longas ausências minguavam o alimento do amor e das carnes. As noites de alegria, dos jantares em família, passaram de sonhos a uma solidão paterna torturante.

O destino agiu, trouxe novos motivos. Acalmou os corações magoados com carinhos mais presentes. Tornou o pai ausente um parente distante, a se afastar cada vez mais, até que um dia desapareceu dos corações férteis.

Restou-lhe uma lembrança genética, fria, insossa, patética. Envelheceu famoso, dormiu triste e sozinho, no perdão da extrema-unção.







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