--- Diz o ditado do pobre
--- Infeliz por não subir
--- Que quem ao mais alto sobe
--- Ao mais baixo vem cair!
Passei os primeiros trinta anos da minha vida, enquanto não entrei em transe de raciocínio, a aceitar os ditados populares sem qualquer espécie de retracção racional. Pronto, aquilo entrava, era interessante, tinha lógica e ficava. Um dia, de repente, alguém se encarregou de partir-me o cristal dos olhos e lá se foi o véu da credibilidade estabelecida pelos tais "sepúlcros caiados de branco" que o crucificado Mestre há dois mil e dois anos tão bem definiu.
Este ditado, por exemplo, é lindo: "Voz do povo é voz de Deus", como se fosse possível conciliar as duas vozes. O autor deste dito sabi-a toda! O preceito da lei cristã "Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti mesmo" também é muito interessante e pleno de irónico sorriso. Adiante... são tantos, tantos os ditados e quejandos ditos, muitos mais do que os minutos de cada dia, que alguns deles nem sequer podem fugir ao ponto de coincidência. - Vês... vês... eu não te dizia? E lá fica um fulano nas covas, decepcionado com as falinhas do culto homenzinho da ditação.
Mas, fundamentado na lenta agonia dos ditados, mudo de assunto abruptamente e declaro de imediato o que de facto pretendo: vou mandar embora o Bragal, o Bonfim e o Mindelo. Afinal estes três grandes estúpidos fazem-me só perder tempo e pucham-me pelas fraldas constantemente. Claro que lhes vou confiscar as obras e guardá-las para mim. Sempre são cerca de cem títulos que poderei contabilizar no meu usinal currículo sem ter necessidade de pulverizar a concorrência com mosquitada de inteligência parda. Dá-me para cada uma, pois dá? Sou deveras um imbecil e um maníaco da ascenção. Depois, algumas das estocadas dos Três Mosqueteiros, como as reposições cinematográficas, até merecem repetição. Ah, e agora aonde vou eu meter isto? Isto é um discurso!