O dia que a velocidade do ônibus fez as lâmpadas da Avenida Santo Amaro rasparem sua luz amarelaranjada na Lua.
Foi o mesmo dia que o Ralfo, o Fábio e eu fumamos com o Léo e conhecemos o Léo, no Parque do Ibirapuera, lá pelas 5 horas da tarde desta terça-feira de prova de Teoria e Prática da Criação na faculdade. O professor dá aula de Criação e não dá oportunidade aos alunos CRIATIVOS (como eu) de se expressar da maneira que têm vontade! A Segunda questão da prova eu representei com um desenho muito louco exatamente sobre o que ele quis dizer na tal questão, mas da primeira olhada a cara que ele fez foi: DESPREZO / QUE PORCARIA É ESSA? Vai se foder então seu professor HIPÓCRITA que exige algo CLARO e ESCRITO. Uma frustração na faculdade.
Este dia foi muito diferente. Foi Um Dia na Minha Vida estampado o tempo todo nos meus pensamentos, martelando as palavras um, ponto, positivo, na, vida. O teto lá de cima nunca teve tão estranho, tinha muita cor ao mesmo tempo! Me lembrou um único dia que tinha passado há pouco tempo: o dia em que WTC se desintegrou no meio de Nova York.
O tempo daquele dia estava louco, com um pouco de sol, chuva, vento, calor, frio, todas as estações do ano de vários lugares do planeta reunidas no Brasil, no Parque do Ibirapuera, num banco perto da praça do Porquinho, numa única tarde. Eu tive a sensação de terror real quando percebi que tudo ia desaparecer da nossa existência por causa de um ruído alto que veio se aproximando. Estava(mos) chapado(s), mas não sei dizer se isso contribui com a pior PARANÓIA DE MORTE que eu já presenciei. Tudo ia acabar em poucos segundos, sem nenhuma dor, com uma luz que me passaria da vida pro misterioso plano da morte numa TECO IMPERCEPTÍVEL de tempo. Essa foi a minha melhor visão de um futuro incerto-e-muito-próximo que eu tive. A pior reação ao barulho me fez ver algo gigantesco vindo em nossa direção rapidamente, devastando tudo que havia sido construído pelo homem ao longo do tempo com esforço; em milésimos de segundo, tudo sendo arrebentando com uma violência mortal e muito dolorosa, em todos os sentidos imagináveis. Podia ser uma enorme onda fervendo, podia ser a irradiação de uma bomba se aproximando, podia ser o colapso do mundo. Aquilo me fez pensar no que era a morte (já que ia morrer) e esta foi a minha conclusão ali: você está vendo num momento, quando está vivo, e depois, quando morre bem rápido, sem saber, não está mais em lugar nenhum, como se tivesse num sonho todo escuro o tempo todo, por toda a eternidade. Mas eu pensei que também o plano da morte pudesse não ser isso e cheguei a uma segunda e definitiva conclusão que qualquer um chegaria: EU NUNCA VOU SABER.
2 de Outubro de 2001. O céu tinha vários amarelos, vários azuis, roxo, verde, cinza e mais um monte de tonalidade que eu não saberia descrever de tão deslumbrante que foi pra minha CRIATIVIDADE.