----- A Milene Arder, claro, mas este texto, que se enquadra no Manifesto Bragal – conceito e objectivo que a seu tempo serão esclarecidos e tomarão corpo – este texto, escrevia eu, dirijo-o sobretudo aos jovens, estruturado em simples e singelas palavras, vocábulos que não são passíveis doutros entendimentos. Já ali abaixo, após algumas considerações e no termo do brevíssimo conto que insiro, as palavras juntar-se-ão para enformarem o sentido, o que dará naturalmente aso à desenvolta e livre eclosão de ideias circundantes que, sejam elas qual forem, fazem inexorávelmente parte da galáxia literária.
----- “Bia Arder” – aqui na minha terra, burgo chão aonde os “bb” se trocam e baldrocam saborosamente com os “vv” – significaria que “alguém tinha visto arder algo”. No caso em apreço, trata-se da lindíssima cadela pastora alemã, Bia, que paz parte do quotidiano doméstico da família Arder. Já tem página na Internet e também virtual namorado, o apaixonado Bio, um Serra da Estrela de se lhe fazer continência.
----- A Bia, após uma preventiva intervenção veterinária, o que lhe terá alterado momentâneamente as faculdades motoras, partiu, por acidente linear, uma pata, o que a traz empenada...
----- Vamos ao conto: COITADINHO !
----- No passeio descendente da rua aonde resido, deparou-se-me um homem, quarentão decerto, a manquejar penosamente, sustentado num par de muletas. Rosto macerado e dorido, arfante do esforço, pelas vestes traduzi tratar-se de indivíduo de média-sociedade, para baixo, genuíno da flor do chão, submetido ao peso da condição que impedem aos génes o rumo faustoso das estrelas da vida.
----- De repente, desaguando da esquina próxima para o mesmo passeio, surge um cãozito chupado até aos ossos, manco duma pata traseira, alçada, mas a mover-se rápido, tal como nada lhe houvesse ocorrido num dos membros, levado na onda do movimento, quiçá em fuga daquele diabólico enleio que provávelmente, atrás uns minutos, o teria vitimado. Logo que o manquejador viu o canino ultrapassá-lo, exclamou bem audível: coitadinho!
----- Eu, que vi e ouvi a cêna, disse com meus botões: coitadinho?! Coitadinho... Sim... De ti, que presumes saber aonde estás e para onde vais! As vestes do cidadão, a meu raciocínio, revelaram-me de imediato e então que cobriam um pouco mais para baixo a autêntica traça mental do trajante.
----- Bem... a Bia Arder, como ainda não lê e eu estou muito distante para entender-me, vem pois a propósito: lê provávelmente a sua dona e isso estabelecerá concerteza um elo transmissor. A Milene sorrirá, afagará a Bia, oferecer-lhe-à, quem sabe, um gostoso mimo açucarado, e quedar-se-à cogitante sobre os mil empenhos que tem devotado à sua estimada Bia, belo exemplar entre os nossos dilectos e fieis amigos, satisfeita por “ tudo + nada = amizade” !