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Ensaios-->Escrever é Divertido -- 09/12/1999 - 08:50 (Simão de Miranda) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DO PRINCÍPIO

C
omo principiar um texto? Do princípio, é claro! Velhos manuais já ensinaram: princípio, meio e fim. E o princípio? Este, via de regra, é o drama da maioria das pessoas que intencionam redigir um texto. Depois que se começa, parece que a coisa vai fluindo melhor. Mas, há uma máxima que afirma que 'todo princípio é difícil'.
Então, vamos começar do princípio de tudo. 'No princípio era o verbo. E o verbo estava junto de Deus e o verbo era Deus. ' Esta citação bíblica nos dá uma noção do valor da palavra na organização do caos que habitava o universo. Com o uso da palavra apropriada e verbos no imperativo (Faça-se a luz! Faça-se o firmamento!), Deus colocou harmonia entre animais, vegetais e minerais. Terra, água e ar. Verbo é sinônimo de ação, não de coisa estanque. O dinamismo da ação impulsionou o mundo recém criado à rápida evolução. O Verbo Divino pode ser entendido, portanto, como a palavra de Deus. 'O verbo era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem.'
Como sabemos, a comunicação e expressão entre os humanos na pré-história principiou por meio de um parco sistema de sinais. É interessante lembrar que os animais também permutavam (e ainda o fazem) certos códigos entre si. Ou seja, um forma peculiar de comunicação, por assim dizer. Por meio do gesto, o homem expressava-se, mas a comunicação era de fato ineficaz. Carecia do que chamamos de linguagem.
Outras centenas de anos se sucederam e o homem percebeu o tamanho poder que tinha sobre a natureza, o fantástico potencial de transformá-la em benefício de sua sobrevivência. Notou, também, que havia uma desvantagem muito grande entre ele e a natureza desafiadora. Ele dispunha tão somente de suas mãos e as habilidades que lhes eram inerente. Ernst Fischer afirma que 'foi a mão que libertou a razão humana e produziu a consciência própria do homem'. Neste soberbo momento o homem criou a ferramenta. E a partir do primeiro modelo, esta foi diversificando sua forma para alcançar outros usos. Daí, deparou-se ele com um problema: identificá-los e diferenciá-los no momento de sua escolha. Temos aí outro princípio surgindo: o da comunicação oral. O homem foi 'nomeando' seus instrumentos de acordo com o som que estes produziam quando funcionando. Um sistema de gestos e sonoridades foi, por assim dizer, todo o arcabouço da comunicação oral.
Todavia, a palavra pronunciada era facilmente esquecida. Foram necessários outros tantos séculos para chegarmos na palavra escrita. Constatação perene da história da humanidade. O aprimoramento da comunicação entre os povos deu-lhes, e notadamente ainda dá, maior garantia de sobrevivência.
Aos 3.100 a. C., na Mesopotâmia, onde hoje é o Iraque, a humanidade conhecia seu mais antigo sistema de escrita, o cuneiforme. Nome dado em função da sua forma de cunha. Mas, por muito tempo, apenas os escribas, uma espécie de escrivão oficial, dominavam a técnica de escrever. Com a evolução da história passaram a ensinar esta técnica para os rapazes, numa forma de preparo para alcançarem o posto de escriba. A mulher experimentava aí um preconceito explícito, já que os homens entendiam ser a tarefa essencialmente masculina.
A relevância da palavra escrita pode ser, também comprovada nos rituais religiosos do antigo Egito, por volta de 3.000 a. C. O Livro dos Mortos, considerado o primeiro livro da humanidade, era composto de cânticos, preces e poemas em uma espécie de homenagem aos seus mortos. Um exemplar do livro era depositado na tumba do ente querido, com o propósito de orientá-lo na caminhada para o 'outro lado'.
Aos 1.000 a. C. os chineses já usavam fragmentos de galhos como instrumentos de escrita e no alvorecer do ano 100 d. C. este povo inventou o papel e a tinta. Registra-se que somente lá pelos idos de 700 d. C. é que descobriu-se nas penas das aves um inédito equipamento de escrever. Somente em 1450 o ourives Johannes Guttenberg idealizou um rudimentar, porém inovador, equipamento que permitia a reprodução dos textos escritos, a tipografia. O primeiro e mais importante trabalho de Guttenberg foi a impressão da Bíblia em latim, mesmo levando um dia para montar cada página. O evento deste inventor surgiu na condição de divisor de águas na história da escrita, e porque não dizer no avanço da humanidade. Foi a fagulha que nos permitiu alcançar tão alto patamar de desenvolvimento científico, artístico e tecnológico. Todavia, a total ausência de reconhecimento à sua realização favoreceu para que ele morresse na penúria.
Em outras palavras, do galho ao Word da Microsoft, escrever sempre foi, e é, uma grande realização humana, um inefável artifício promotor da circulação dos nossos conhecimentos e idéias.
Outro fato importante: todas as coisas, animadas ou inanimadas, são representadas por palavras. Escritas, ou não. Não importando em que idioma elas são utilizadas, embora respeitadas suas distantes diferenças no seus aspectos semântico, gramatical ou fonético, são as palavras nosso código e linguagem que nos permitem prosseguir na jornada da existência. Todavia, há na palavra escrita uma peculiaridade.
Quando falamos utilizamos uma cadeia de recursos que colaboram para clarear nossa mensagem, seja por meio da gesticulação dos braços, mãos e dedos, das expressões faciais, da sisudez ou singeleza do olhar, da ênfase tonal ao falar, etc. De modo que até Roberto Carlos pode ser ajudado, já que ele lamenta que 'TEM TANTO PARA FALAR, MAS COM PALAVRAS NÃO SABE DIZER.' Na comunicação escrita, por sua vez, não nos resta outro apelo a não ser escrevermos bem. E escrevermos bem não quer dizer tão somente fugirmos das incorreções gramaticais, mas significa a eficiência na comunicação.
O que escrevemos torna-se nossa imagem e semelhança. A leitura está diretamente ligada à escrita, e incontestavelmente, durante as vinte e quatro horas que compõem o ciclo do dia, só não estamos lendo enquanto dormimos, excetuando ainda aqueles sonhos nos quais aparecemos lendo. O volume de informações escritas jorra sobre nossos olhos. Na rua, no trabalho, no carro, no ônibus, a pé, em casa, sentado ou deitado, etc. nos deparamos com cartazes, out-doors, avisos, itinerários de ônibus. Então, ler é um ato reflexivo e vital. Não nos é possível escolher não lê-los. Na verdade lemos primeiro, depois poderíamos pensar que não desejávamos ter lido. E se lemos, é porque alguém, antes, ali escreveu. Voltamos, outra vez, à origem da nossa questão.
O mistério incrustado nas palavras tem desafiado muitos mortais, e acerca dele já cantou também o poeta Affonso Romano de Sant Anna em CILADA VERBAL:


'Há vários modos de matar um homem.
Com o tiro, a fome, a espada
Ou com a palavra envenenada.
Não é preciso força.
Basta que a boca solte
A frase engatilhada e o outro morre na sintaxe da emboscada.'

Conheça este livro de Simão de Miranda
ESCREVER É DIVERTIDO, Campinas: Papirus, 1999.
Distr. no DF: J. Quinderé - CLN 310 - Bl. D - SUbsolo- fOne: 347 8461
Contato com o autor, palestras, oficinas:
384 1746
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