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Ensaios-->Estética da Arte Literária -- 02/01/2000 - 16:17 (Roberto Carvalho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ESTÉTICA DA ARTE LITERÁRIA
Roberto Carvalho, jornalista e escritor

A arte, principalmente, a literatura ao longo da história humana, sempre exerceu fascínio em nosso ‘eu’ mais profundo e, de alguma forma, nos faz refletir e questionar o que é arte e por que admiramos os fenômenos artísticos. Nesse campo reflexivo, o filósofo e dramaturgo alemão, Friedrich Shiller (1759/1805), foi um dos primeiros estudiosos a mostrar o sentido da arte literária, em seu livro “Cartas Sobre a Educação Estética do Homem”. Shiller destaca dois fatores importantes da natureza humana: primeiro é a sensível reflexão da dimensão emocional, o segundo é o estado da razão lógica e racional em relação ao mundo.
Na concepção de Shiller a arte é a melhor maneira de fundir o lado natural sensível do homem com a sua dimensão racional. “A arte poderia educar as pessoas (...), e torná-las indivíduos mais integrados entre si”. Influenciado por Aristóteles - “Poética” – e, principalmente, pela cultura helenística em geral -, o autor alemão mostra uma possível relação entre espírito/matéria/razão. Não no estrito conceito religioso/moral como apregoam os ideólogos da filosofia e da psicanálise modernas, mas no sentido abrangente do relacionamento da arte com o ser humano.
Em “Ecce Homem”, Nietzsche preconiza essa relação existencial: arte/vida: “neste signo vencerá um dia a minha filosofia”, nem razão nem espírito sim leitura da existência. O que não se mensurava, à época, era o peso das ideologias e teorias na história das artes contemporâneas. Lukács sustenta que o “gênero romanesco surge na sociedade moderna e resulta da dissolução da forma épica”, potencialmente burguês. É nesse tortuoso caminho chamado modernidade o tempo recicla os valores culturais, modifica os costumes e nos impõe novas visões estéticas na literatura.
Hoje, o fenômeno da globalização é um dos principais fatores que leva à massificação da cultura, nivelando por baixo os processos artísticos. O excesso de fácil informação: rádio, televisão e diversos outros meios informativos, deixam as pessoas alienadas. Para o escritor Günter Grass, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1999, “A literatura só sobreviverá na medida em que continuar sendo subversiva”. Mas, aí, nos inquire a pergunta: onde está esse extrato literário subversivo? Há escritor engajado no social? Pelo que se pode constatar, não. O que existe é simples registro do cotidiano travestido de arte, não uma imagem capaz de formar consciências, raízes culturais de um povo, de uma sociedade identificando-a com o mundo.
Os processos de criação artística convergem, universalmente, para a constante deterioração. Os gêneros literários: romance, poesia, teatro - íncones com maior intensidade, refletem os valores culturais. A qualidade reflexiva caiu substancialmente, ao passar dos tempos – preocupação de Stendhal, Hegel e Kant sempre à frente no conhecimento, na literatura. Ao escritor, nos dias de hoje, cabe interpretar as reflexões subjetivas e torna-las vivas, parte do universo real. Sair do seu “eu” embrionário para uma reflexão crítica dos valores estabelecidos pelo fulcro do poder pensante. Daí talvez surja uma nova estética artística, um novo pensamento mais humanístico livre da agônica auto-ajuda e do esoterismo frívolo. (rcarvalho@tba.com.br)




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