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Ensaios-->MACHADO DE ASSIS: O Escritor que superou Shakespeare -- 21/01/2000 - 17:29 (José Maria e Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MACHADO DE ASSIS
O escritor
que superou
Shakespeare
Ao se relembrarem os 90 anos da morte do criador de Brás Cubas, a crítica nacional deveria ter a coragem de reconhecer que o romance Dom Casmurro supera a tragédia Otelo
JOSÉ MARIA E SILVA
Quando publicou, em 1881, as Memórias Póstumas de Brás Cubas, o escri-tor brasileiro Machado de Assis poderia ter feito suas as palavras do poeta português Luís Vaz de Camões: “Cesse tudo o que a musa antiga canta / Que outro valor mais alto se alevanta”. Nascia naquele momento, na periferia do Ocidente, uma das maio-res vozes da literatura universal. Um escritor inteiriço, que sabia dialogar com o seu tempo, reinventar a tradição e, sobretudo, imprimir seu recado original. Não se trata de ufanismo, mas de constatação — Machado de Assis superou William Shakespea-re.
Para os que se deleitam com cânones xenófobos, como o de Harold Bloom, essa afirmação é um sacrilégio. Mas basta despir o complexo de inferioridade nacional e comparar Dom Casmurro com Otelo. O leitor de Shakespeare sabe que Desdêmo-na é inocente, mas o de Machado, ao atentar para as entrelinhas da narrativa de Bentinho, percebe que Capitu está acima de qualquer julgamento. Seu adultério ou sua inocência são hipóteses. E Machado, que se caracteriza por um acendrado relati-vismo, cria, com Dom Casmurro, uma obra aberta que antecipa em quase um século esse conceito tão decantado pela crítica moderna.
Mas o Brasil não merece o Machado que tem. A crítica brasileira sempre foi tímida ao situá-lo na literatura universal. Isso, quando o faz, o que é raro. Quase sempre limita-se a equipará-lo ao português Eça de Queirós, como se o simplesmente grande pudesse se equivaler ao imensamente gênio. Os livros didáticos, então, são uma lástima — reduzem Machado a um verbete do realismo, impondo-lhe camisas-de-força que ele nunca aceitou. Só agora, quando intelectuais de várias línguas se espantam com sua obra e a enaltecem sem medidas, é que a crítica nacional começa a perceber que o escritor brasileiro é muito mais do que um simples epígono dos mes-tres franceses ou ingleses — Machado de Assis, a exemplo dos russos Tolstoi e Dostoiévski, é um gênio, entre os maiores gênios da humanidade, podendo figurar ao lado de um Beethoven, com quem, aliás, tem um profundo parentesco intelectual.
Todos os intelectuais do mundo que descobrem Machado, mesmo com um sé-culo de atraso, são unânimes em afirmar sua genialidade. Salman Rushdie, que leu quase toda a sua obra aos 20 anos, confessa-se influenciado por ele e afirmou, numa entrevista à Folha de S. Paulo: “Machado de Assis antecipou a moderna literatura em cem anos”. E, numa tradução francesa de Machado, é ainda Rushdie quem sus-tenta: “Antes de García Márquez, Borges; e antes de Borges, o princípio de tudo — Machado de Assis”. Recentemente, Woody Allen descobriu Machado de Assis e confessou-se espantado com sua grandeza e atualidade.
A admiração do mundo pelo negrinho do Morro do Livramento só aumenta com o tempo. Por enquanto, Machado é o único escritor brasileiro que integra as coleções das melhores obras da literatura universal em todo o mundo. Sua ficção é estudada em muitas universidades da Europa e dos Estados Unidos. E entre seus principais exegetas estrangeiros estão Jean Michel Massa, na França, John Gledson, na Inglaterra, e Helen Caldwell, nos Estados Unidos. Massa dedica toda sua vida de magistério ao estudo de Machado de Assis, enquanto Helen Caldwell considera o autor de Dom Casmurro o maior escritor das Américas, o Shakespeare do século XIX.
Além deles, vários outros críticos estrangeiros têm dedicado estudos à obra de Machado, como Murray Graeme MacNicoll, Alfred MacAdam, Clotilde Wilson, Howens Post, John C. Kinnear, Vicky Unruh, Pierre Hourcade, Alberto Bagby, Charles Param, Doris Turner, Paul Dixon e Susan Sontag. Mas boa parte desses es-tudos não são encontrados no Brasil, porque as faculdades de letras, que deveriam traduzi-los e editá-los, já que ganham dinheiro público para isso, estão mais ocupadas em incensar nulidades, inclusive as nulidades estrangeiras que elas transformam em moda.

As Primeiras Traduções — Quando morreu, há 90 anos, em 29 de setembro de 1908, às 3h45 da madrugada, Machado de Assis já era o papa da literatura brasileira. Fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, foi ho-menageado pelas principais autoridades políticas do país e sua morte ocupou as pri-meiras páginas dos jornais. Velado em câmara ardente, seu cortejo fúnebre foi acom-panhado por uma grande multidão, até o Cemitério São João Batista, no Rio, se-gundo os cronistas da época, e o jornal The Time, de Londres, noticiou sua morte, ainda que em magras 33 palavras.
Mas o reconhecimento internacional que ele queria demorou muito a chegar. Tanto quanto o Brasil de Fernando Henrique, o Brasil de Dom Pedro II e da Primeira República era subserviente demais a tudo o que fosse estrangeiro. Salvo a reverência de Eça de Queirós pela obra de Machado de Assis, a literatura brasileira pratica-mente não encontrava eco na Europa. Uma das primeiras menções ao escritor brasilei-ro em Paris foi feita pelo historiador italiano Guglielmo Ferrero (1871-1943), autor de Grandeza e Decadência de Roma, em artigo publicado no Le Figaro, em 21 de abril de 1908.
Ferrero esteve no Brasil durante todo o mês de outubro de 1907, para uma série de conferências, a convite da Academia Brasília de Letras e às expensas do Mi-nistério das Relações Exteriores, comandado pelo Barão do Rio Branco, amigo de Machado. No artigo do Le Figaro, depois de descrever a Academia Brasileira de Letras como uma imitação de sua congênere francesa, Ferrero pede aos seus pernósti-cos leitores parisienses que não considerem a iniciativa dos brasileiros apenas uma caricatura, mas uma “tentativa notável”, para formar, através da literatura, da filosofia e da história, “uma verdadeira cultura nacional”.
Depois de elogiar o “conhecimento profundo” e a “admiração sincera” pela cul-tura européia que encontrou nos intelectuais brasileiros, Guglielmo Ferrero afirma: “Não direi que todos esses escritores triunfem igualmente. O valor de todas essas obras é bem diferente. Algumas são muito belas e fariam honra a qualquer literatura da Europa, como os romances de Machado de Assis, de quem o Brasil tem muita honra de se orgulhar”. Ao tomar conhecimento deste artigo, é provável que Macha-do lembrou-se do defunto Brás Cubas, que ironiza o elogio fúnebre do amigo ao pé do caixão.
“Não, não me arrependo dos 40 contos que lhe paguei” — pode ter pensa-do o já enfermo Machado, ao saber, por carta de José Veríssimo, do elogio que Guglielmo Ferrero lhe fizera. Porque a vinda do sociólogo e historiador italiano ao Brasil foi custeada, quase em segredo, pelos cofres públicos. Quando soube que Ferrero daria conferências na rival Buenos Aires, o Barão do Rio Branco resolveu tra-zê-lo ao Rio. Quem conta esse episódio é o romancista maranhense Josué Montello em seu livro O Presidente Machado de Assis.
Montello descobriu, nos arquivos da Academia Brasileira de Letras, um docu-mento em que Machado contabiliza, escrupulosamente, tostão por tostão do que foi gasto para custear as conferências e a estada do historiador italiano no país. Como toda província, o Rio de Janeiro era pródigo em obsequiar personalidades estrangei-ras com um tratamento de luxo. Ferrero, que foi ouvido pelo próprio presidente A-fonso Pena, hospedou-se em luxuosos hotéis, foi brindado com caríssimos banquetes e até passeou de lancha com o tímido Machado. Talvez por perceber o exagero de tanto gasto é que Machado foi meticuloso ao contabilizá-lo, recorrendo até mesmo ao testemunho de amigos.
Apesar do elogio de Guglielmo Ferrero a Machado de Assis ter custado 50 contos de réis para os cofres públicos (40 contos pelas oito conferências mais 10 contos de gastos adicionais), é provável que o sociólogo italiano estivesse sendo sincero. Porque depois de elogiar os romances de Machado, ele faz uma dura ressal-va à literatura brasileira: “Há também muitas obras medíocres ou muito fracas”. Uma prova de que o dinheiro da província não lhe comprava a consciência, tanto por ter uma carreira a zelar quanto por contar com um oceano a separá-lo da possível censura dos brasileiros.
Mas essa acolhida inicial da obra de Machado não antecipou a tradução de seus livros na Europa, que só iria ocorrer em meados do século. Na América Latina, seu reconhecimento começou um pouco antes. Em 1902, o jornal argentino La Ra-zón publicou, em folhetim, uma tradução para o espanhol das Memórias Póstumas de Brás Cubas, feita por Júlio Piquet. A aceitação da obra fez com o que jornal a ree-ditasse em livro, no mesmo ano. No final de 1905, foi a vez do jornal La Nación, da Argentina, publicar Esaú e Jacó, em espanhol, como brinde aos seus leitores. A obra saiu em dois volumes. No ano seguinte, o grande poeta nicaragüense Rubén Dario (1867-1916), que conheceu Machado numa visita ao Rio, tomou-se de admiração pelo escritor brasileiro e chegou a lhe dedicar um poema em que o chama de “dulce anciano”, “moreno, que de la India tuvo su aristocracia”.
Modernamente, os grandes nomes da literatura de língua espanhola se rendem à glória de Machado de Assis. O cubano Cabrera Infante costuma afirmar que Ma-chado é o grande escritor que a língua espanhola não foi capaz de produzir no século XIX. O mexicano Carlos Fuentes não esconde sua admiração por Machado, como o maior escritor do seu tempo nas Américas. E consta que Jorge Luis Borges também admirava o criador de Brás Cubas.
Mas como todo grande gênio, Machado suscitou acirradas polêmicas, ainda em vida. Os simbolistas que se reuniam em torno de Cruz e Sousa não gostavam dele. Mas o primeiro a atacá-lo ferozmente foi o crítico sergipano Sílvio Romero, que lhe dedicou um livro inteiro, em 1897. Nessa obra, Romero atribui a Machado um “es-tilo gago”, fazendo referência explícita à gagueira do autor, e condena seu pessimis-mo, além de negar a divisão de sua obra em duas fases, como já fizera o crítico para-ense José Veríssimo. O crítico Afrânio Coutinho enumera outros detratores de Ma-chado: Hemetério dos Santos, Pedro do Couto, Fábio Luz, Múcio Teixeira, Luís Murat, Liberato Bittencourt, Otávio Brandão e o furibundo Agripino Griego, mestre em fulminar medalhões da literatura.
Machado não costumava responder a nenhuma crítica. Na juventude, fora um excelente crítico e sabia que a independência da crítica é salutar para os próprios autores. Mas não faltava quem saísse em sua defesa. Contra Sílvio Romero, por e-xemplo, se insurgiram o Conselheiro Lafaiete e Magalhães de Azeredo. E, já em me-ados desde século, coube ao gaúcho Augusto Meyer defender a obra de Machado, com invejável erudição e certeira ironia, dos últimos ataques que sofreu, desfechados pelo ferino Agripino Grieco. Mas, ainda em vida, Machado era detestado, princi-palmente pelos escritores da província, que viam nele um esnobe da corte.
Mas o Joaquim Maria Machado de Assis, que convivia com os grandes da corte, nasceu em 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento, no Rio de Ja-neiro. Filho de uma lavadeira com um pintor de paredes descendente de escravos, não freqüentou escola regularmente. Era gago e epilético, além de mulato. Mesmo assim, revolucionou a literatura brasileira e antecipou experimentos formais (como o fluxo de consciência) que só viriam a ser explorados na primeira metade deste século por escritores estrangeiros, como o irlandês James Joyce.
Como contista, escreveu algumas páginas mais admiráveis da literatura universal, como Missa do Galo, de profunda densidade psicológica, e A Igreja do Diabo, de vasta concepção filosófica. Mas também se aventurou por contos que antecipam a literatura fantástica do século XX, como o irônico O Segredo do Bonzo e o lírico-cômico As Academias de Sião. Até em suas crônicas, que continuam sendo mal edi-tadas no país, é possível encontrar algumas pequenas obras-primas da literatura em língua portuguesa.
Como Dante, na Itália, Shakespeare, na Inglaterra, ou Camões, em Portugal, Machado de Assis é o gênio maior da nação brasileira. E como em toda obra de gênio, a de Machado também não se restringe à literatura e dialoga com psicologia, a psicanálise, a psiquiatria, a sociologia, a filosofia, a estética, a antropologia, a histó-ria, a epistemologia, a lingüística, a filologia, a teoria da comunicação e a teologia.
Machado é, indiscutivelmente, o maior gênio que o Brasil já produziu. É uma prova de que o brasileiro tem cérebro e não serve apenas para jogar bola e reque-brar-se no carnaval. Como disse a escritora Nélida Piñon, “se Machado de Assis existiu, então o Brasil é possível”.

A morte de Machado de Assis
Machado de Assis começou a morrer no dia 19 de outubro de 1904. Na-quela manhã, saiu de casa para o trabalho preocupado com sua mulher Carolina Xa-vier de Novais, que era mais velha do que ele cinco anos e já estava desenganada pelos médicos. Pouco depois do meio-dia, Carolina sofreu uma forte hemorragia e perdeu os sentidos. Ao voltar a si, pediu às amigas que cuidavam dela para que não avisassem o marido. Quando chegou do trabalho, Machado encontrou a mulher qua-se moribunda. No meio-dia seguinte, Carolina morria. Francisca de Bastos Cordeiro, autora do livro Machado de Assis na Intimidade, publicado em 1961, pela Editora Pongetti, conta que Machado pensou que teria uma crise de epilepsia e pediu que o sentassem. Deram-lhe água e a crise passou, mas o escritor ficou mudo, num estado de alheamento.
Dias depois da morte de Carolina, o escritor foi visitar a amiga da família. E Francisca de Bastos conta que Machado, em sinal de agradecimento, presenteou sua mãe, a Baronesa de Vasconcelos, com uma edição em francês das Recordações da Casa dos Mortos, de Dostoiévski. Segundo a memorialista, o escritor não pôs na obra nenhuma dedicatória. Limitou-se a dizer à baronesa que o livro era a obra predi-leta de Carolina, o que revela a sólida formação intelectual da discreta mulher de Machado de Assis. Carolina Novais era a única pessoa que lia seus livros antes de publicados. Discretíssimo, ele sequer comentava com os amigos que estava publican-do livro. Esse diálogo intelectual que havia entre eles, levou um crítico a suspeitar que o português castiço de Machado de Assis fosse obra de sua esposa, uma vez que ela era portuguesa de nascimento. Como se casaram quando Machado já conta-va 30 anos e era um cronista e dramaturgo respeitado, essa hipótese é infundada.
Mas a morte dela fez com que Machado de Assis passasse a desejar ardente-mente a sua própria. Percebe-se isso em sua desolada correspondência, depois da morte da esposa. Carolina tinha morrido com um tumor no estômago. Machado pa-deceu do mesmo mal, mas, no seu atestado de óbito, consta que morrera de arterios-clerose, segundo relata Raimundo Magalhães Júnior, no quarto e último volume de sua imprescindível Vida e Obra de Machado de Assis, publicada em 1981 pela Civilização Brasileira em parceria com o Instituto Nacional do Livro. Machado passou por uma lenta agonia, que começou no início de setembro. No noite de sua morte, ocorreu a célebre visita de um jovem anônimo, imortalizada por um artigo de Euclides da Cunha, publicado no dia seguinte no Jornal do Comércio. O jovem, sem dizer palavra, pediu para ver Machado e, aproximando-se de seu leito, ajoelhou e beijou sua mão, saindo sem se identificar. Mais tarde, a escritora Lúcia Miguel Pereira, uma importante biógrafas de Machado, revelou que o jovem se tratava de Astrogildo Pereira, o crítico que viria a ser um dos fundadores do Partido Comunista.
Entretanto, mesmo antecipando a posteridade, essa cena final não redime o so-frimento que Machado de Assis padeceu antes de morrer. Era tomado de dores a-trozes e tinha o semblante cadavérico, segundo testemunho deixado pelos amigos. Francisca de Bastos Cordeiro era uma das pessoas que presenciaram o fim de Ma-chado de Assis. Em 21 de junho de 1839, por ocasião do centenário de nascimen-to do escritor, ela contou detalhes de uma visita que o Barão do Rio Branco fez a Machado um dia antes de sua morte. Conta Francisca que o escritor, com muito es-forço, sentou-se no leito para receber a visita ilustre: “Jamais pude esquecer a cena pungente a que assistimos. O barão, entrando, dirigiu-se a nós, apertando as mãos e, depois, um tanto constrangido, deu uns passos para o leito do moribundo que esperava ser abraçado e, mal dissimulando a emoção que lhe causava, diz com voz embargada: ‘Que é isso, Machado? Está melhor, não é? Amanhã, voltarei a vê-lo de novo’. E sem esperar resposta, visivelmente esquivando-se ao último abraço, aper-tou-lhe a mão e, sem demorar-se, retirou. O olhar de Machado de Assis, numa elo-qüência trágica, misto de dor, de desapontamento, de humilhação e de sensibilidade ofendida, nos encheu os olhos de lágrimas. Sem uma palavra, tornou a deitar. No dia seguinte, estava morto”.
Em 1961, quando transformou o velho artigo em livro, Francisca Cordeiro a-crescentou uma detalhe ainda mais trágico — Rio Branco, ao sair do quarto do en-fermo, apressou-se a lavar as mãos, gesto que foi percebido por Machado de Assis. Conta Francisca: “Logo cercado, Rio Branco disse algo que não ouvimos. Machado de Assis, porém, era todo ouvidos. No corredor, justo na parede junto à cama, ha-via uma pia de lavar as mãos em água corrente. Não lhe escapara um rumor de passos apressados. Da torneirinha que se abrira. Uma voz solícita a pedir: ‘Uma toalha limpa para o barão’. No rosto esquálido se fixara com trágica expressão a dolorosa máscara. Voltou-se para a parede num último gesto de pudor. Não falou mais. A matéria cor-pórea continuava, palpitante ainda, mas Machado de Assis deixara de existir”.
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