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Ensaios-->PRECONCEITO NA ESCOLA -- 01/02/2000 - 23:36 (Maria Angela C.Marques Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


PRECONCEITO NA ESCOLA
Acontecia na escola quase como se fosse natural. Até que a queixa da mãe foi ouvida e recebeu gestual de compreensão. Saiu da sala de coordenar, certa de haver ganho uma aliada na cruzada contra o preconceito. Porém, nada mudou.
Seu filho, à semelhança de todos no mundo, porta diferenças : ou visual, ou auditiva ou psicomotora ou ... enfim, alguma peculiaridade que se evidencia , quando comparada com normas do consenso.
À evidência dos contrastes irritam-se os que se pautam na uniformidade , apesar de toda diversidade que constitui a vida .
Como um filme, façamos um zoom em outro momento de rotina escolar: lá está o pátio. Barulho bom, as crianças preparam-se para jogar. Dois alunos tiram os times . “- Fulano pra mim.” “- Sicrano pra mim” . Prosseguem, escolhendo os companheiros. Tarefa cumprida.
Ou não? Aumentemos o zoom : Sobrou uma .... Olhos tristes , o choro aponta. Segura e pensa: “se chorar agora , pior, ninguém vai querer chorona no time. “ Agüenta e espera. Nada. Aproxima-se do professor . “- Os times já estão completos” . Ritinha marcará os pontos.”
Ritinha passa a aula de educação física marcando as vitórias dos colegas . Cara amistosa, por dentro, rios de choro e peito ardendo de vontade de tentar. Um mar de desejos frustrados, humilhação e resignação.
Os times conferem os pontos. Não estão satisfeitos com os resultados. Queriam mais vitórias. “- Ritinha não marcou direito ! Não serve nem para marcar ...”, ouve quieta.
Na aula seguinte , à hora do jogo, Ritinha sente dores no estômago . É “atendida “ e “repousa “ na sala, até o final do jogo.
No caderno e nas provas, Ritinha escreve um pouco torto, sobe e desce nas linhas . A professora sente dificuldades em ler seu trabalho. Não corrige. “- Ritinha precisa melhorar...” : passa um traço na ponta do alto da folha e escreve com letras vermelhas: “ Continue se esforçando. Você é capaz!”
Com o zoom, visualizamos três exemplos cotidianos e reais , de males que não pouparam a escola , exclusão – a maior das violências , negligência - maior das omissões.
O novo às vezes surpreende e desperta o comportamento instintivo de afastamento para ir aproximando-se , aos poucos. Isto ocorre com quase todos os animais, nos primeiros anos de vida . Durante o desenvolvimento , ajudada pela companhia e proteção dos pais e mestres , a criança vai ampliando a visão do mundo que a cerca e cada vez mais, encontrando possibilidades e alternativas de ação . Ou seja, em companhia afetuosa, cooperativa e sobretudo, criativa , vai acostumando-se às diferenças e deslumbra-se com elas. Curiosidade e flexibilidade vão substituindo o medo e a agressão ao diferente de si mesma. São sinais de amadurecimento.
Do ponto de vista do indivíduo , é por demais doloroso saber que, mesmo fazendo inúmeras tentativas de aproximação e amistosidade a vítima quase sempre, é repelida , restando-lhe o anonimato e uma rotina de mal-estar .
Do ponto de vista do desenvolvimento humano, é bastante preocupante, o fato de ser o homem um dos poucos animais que não reformula sua emoção ou pensamento , diante de gesto amistoso e apaziguador do seu semelhante , mantendo-se fixo na aversão e na agressão.
Do ponto de vista social – observa-se grande lacuna de ação na escola, desde as primeiras séries .
Entretanto, para a evolução , o homem está dotado bioquimicamente de simpatia e cooperação (**) . Mas, para desenvolverem , faz-se necessário exercício diário . Casa e escola são principais ambientes para o desenvolvimento global inicial.
Mesmo na infância, preconceito e discriminação estão longe de serem aceitos como normais . Exclusão é doença mortal , que anula, entristece , emudece a vítima , porém igualmente derrota o algoz , que perde em sensibilidade e grandeza humanas.
Perdem a poesia da infância – rio profundo da personalidade que se constrói. SOFREM AMBOS, o excluído e o que exclui.
Porém, dor maior é imposta ao proscrito, pois cedo, bem cedo, experimenta a solidão, no degredo inexplicável da infância, da convivência e da expressão.
A exclusão é incentivada , em grande parte, pela competição , nascida da ditadura do “sucesso” e do consenso.
Necessário ser ativada a capacidade de incluir e, em muitos, a de indignar-se. IndignAÇÃO, para erradicar um mal que assola exclusivamente a espécie humana, o PRECONCEITO , idéia prévia e rígida sobre algo ou alguém , que se procurará manter às custas até mesmo da morte do outro (guerras religiosas, raciais , ideológicas , etc.) .
É mal geral, por isso, ações renovadoras competem a todos .
ONDE ESTARIAM OS MESTRES ?
Onde, os educadores , capazes de promover potenciais - de educare (trazer de dentro para fora) ?
Do pensamento de J. J. Rousseau – o homem é bom por natureza, sim (os demais animais também) . Justamente, por esta razão existe o educador - para FACILITAR meios de expressão da generosidade, solidariedade e criatividade, dentre outras formas de inteligência.
Cumpram-se as missões ou compromissos. Certamente mais árduos e mais nobres . Todavia, rejeitar tão altos potenciais humanos durante o processo de educação, é desserviço não apenas educacional , mas à própria espécie.
Estupefação e a indignação perante ao preconceito e à exclusão , os debelariam . O preconceituoso teria chances de perceber algo estranho, em seu próprio comportamento. Sem receber dicas do mestre , nem sempre é capaz de resolver sozinho a questão – afinal, não foi ele quem a iniciou.
Os meios de exclusão são muito antigos e adotados nas famílias, escolas, quadras, normas e nas leis.
O educador não debelaria o preconceito em todo o país, mas com ações cooperativas e afetuosas dentro do seu pequeno grupo, seria forte combatente contra a humilhação e a imaturidade social. Cresceria em dignidade , freqüentemente aviltada pelo consenso que brutaliza a todos.
Valho-me das antigas cartas do Tarô : o Arcano maior, V , evoca o Hierofante – o Professor, o Conselheiro, o Iniciado – aquele que transforma para níveis mais elevados. Repare-se que em seu coração habita a Criança – a sabedoria verdadeira, expressa através da inocência.
Que os iniciados na arte e no compromisso de educar, tragam no peito a Criança que, irada, confrontará mesmices e regras anti-sociais há muito instaladas , como a competição e desumanização das relações . A mesma Criança se interessará por trabalhos cooperativos, pela música e pelo abraço nas salas de aula (em todas as séries). Esta Criança precisa da voz roubada pela burocracia, ritualismo e culto ao “sucesso” a qualquer preço.
Que viva a Criança no peito do Educador, para que se salvem todas as outras, nas escolas. TODAS!

P.S. : A Escola Inclusiva depende de sentimentos-pensamentos inclusivos.
(*)Autoria : Maria Angela Marques , texto publicado em maio de 1997, em Guia local, seção Educação
(**) Marques, Maria Angela, Educação Instintiva (registrado , aguardando editora )


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