Na noite de 22 de dezembro tive a satisfação de ouvir e assistir o Coral Natalino da UNB, em minha quadra, como ha anos acontece.
É um espetáculo que emociona, por refletir a índole do nosso povo em sua grandeza e espírito de fraternidade. Emociona mais por parecer impossível ainda haver esse grau de cristandade e amor ante tanta insensibilidade, miséria e violência. Desta vez o Coral aliou-se à campanha contra a fome, angariando gêneros alimentícios para distribuição aos miseráveis.
Muito embora a emoção sentida ao ouvir canções tradicionais à luz de velas e interpretadas por jovens, não consegui dissociar a participação coletiva do julgamento que faço sobre essas campanhas, por considerá-las como a oficialização da miséria e da humilhação, patrocinadas por quem tem o dever de extirpá-las. Combater a fome e assegurar a dignidade humana é dever do governo, não da sociedade.
Cabe exclusivamente a ele acabar com o desemprego, com a marginalidade e com a miséria,c assim como assegurar o trabalho, a assistência à saúde, a escola, a habitação, a segurança e outras obrigações constitucionais. Não o direito de estimular campanhas que, em última análise, perenizam a marginalização e a humilhação.
Enquanto a sociedade se mantiver passiva e iludida não se aperceberá dos desmandos a que se permitem governantes, legisladores, empreiteiros e demais feudos, indiferentes à falência das instituições e aos direitos da coletividade.
Assim como procede nas comemorações natalinas já é hora desse povo acordar e confraternizar no sentido de acabar com o desgoverno e a impunidade, voltando à praça pública vestido de preto, pintando a cara e empunhando faixas para impor seus direitos e registrar seu protesto. Pelo menos estará resgatando sua dignidade!