Em Brasília muitos acham graça nos pneus que cantam a toda hora no asfalto. Outros mais curiosos e instruídos sabem as leis da física em que se enquadram esses ruídos irritantes e divertidos. Mas poucos acordam de seu deslumbramento idiota e encaram de frente a verdade: no lugar onde Brasília foi construída vivia, no passado, uma civilização de cães.
No período jurássico, trilhares de indivíduos da espécie Canis domesticus viviam amontoados em 19 matilhas, sendo uma oficial, duas bastardas e 16 clandestinas. Nessa época os cachorros podiam correr atrás do rabo e cheirar o ânus do semelhante sem fazer muito esforço. Por isso eram sedentários.
Custavam para comer alguma coisa. A salvação era quando de repente, sem razão aparente, choviam gatos e ossos, e eles faziam apenas dois movimentos: 1- levantavam o focinho e 2- abriam o focinho. A maioria preferia engolir os ossos, já que os gatos caíam sempre de pé. A preguiça de mastigar era responsável por outra involução em cronologia decrescente: eles não continham dentes presos às partes internas do nariz-boca chamado focinho.
Então Juscelino Kubitschek foi eleito e decidiu construir a capital federal bem em cima do ex-habitat dos cães pré-históricos. Foi uma total falta de sensibilidade e respeito pelos antepassados do melhor amigo do homem. Assim, até hoje as almas dos totós uivam quando o peneu dos carros dos humanos modernos friccionam o solo sagrado, onde jazem as carcaças. Rezai uma Ave-Cadela.