O que é a literatura senão reverberações de idéias, sentimentos e sensações expressas por meio de palavras que revelam uma visão de mundo própria do autor?
Escrever é um ato sublime, mágico, em que o autor se descobre e se revela a si mesmo, como numa busca interior em que ele procura desvendar os seus próprios sonhos, suas próprias ilusões, ou, em outros casos, seus medos, suas frustrações.
A literatura não pode mais ser equacionada a escolas literárias que restringem a expressão desta, enquanto arte, a modelos estigmatizados, adstritos em suas formas, quer de entretenimento, quer racionais, quer emocionais.
Por outro lado, não podemos também apenas quebrar regras impostas por grandes mestres, julgando-os inferiores ou obsoletos por se resignarem a movimentos literários. Não podemos nos negar à beleza e à grandiosidade da obra do passado, que, a despeito de todas as suas amarras - ou justamento por isso -, têm, ainda hoje, o poder de envolver e seduzir os nossos pensamentos.
Quebrar regras. Eis o lema da nossa época. Neste século, acabamos com todos os catamênios, criamos novas amarras, demos asas à originalidade que muitas vezes caiu no ridículo e esquecemos que a literatura é a expressão do ser completo, desde nossas idéias, nossos sentimentos, até sensações.
Não podemos mais resumir a literatura apenas ao âmbito racional, de análises frias da realidade, ou entrarmos num sentimentalismo exagerado somente, como se na vida, nada mais importasse a não ser as nossas emoções, como também atermos somente àquela literatura superficial, de estórias aprazíveis com finais previsíveis e sem pouca profundidade intelectual e emocional.
Se a literatura é de fato um retrato da realidade, em toda a sua complexidade e considerando ser este retrado do mundo apenas o reflexo das imagens, dos sons e das sensações que permeiam a mente de quem escreve, ela não deve se resumir apenas a um desses elementos, que isoladamente perde muito do seu esplendor, como uma árvore solitária em um deserto.
Devemos, portanto, integrar esses três rudimentos em um todo, como os fios se entrelaçam para formar uma rede, com o único objetivo de exprimir em palavras a conformação desses três alicercer que fundamentam o ser humano: corpo, alma e espírito.