(...)
Quero apenas um cavalo. Um cavalo negro; negro e alado. Que me leve para longe, muito longe daqui. Que me leve para além daquelas montanhas; além do celeste azul do firmamento; além da indiferença. (...) Um lugar longe do sofrimento, do sentimento de perda e impedimento. Um lugar bem longe deste, que apenas me faz acreditar que sou um verme insignificante. Um lugar que me faça esquecer que o Éden não foi feito para mim. Um lugar que me faça esquecer que eu não fui feito para amar, pelo simples e terrível fato de que eu não nasci para ser amado.
Um lugar longe, bem longe. Onde o meu pensamento não alcança. Onde o último raio de luz não chega. Onde não há ninguém que me lembre a minha esmagadora solidão. Onde não se escuta nada, nem silêncio, nem vozes. Onde não se vê nada, nem luz, nem escuridão. Onde a minha treva e a luz que nunca prateou-me a face, meu sofrimento e o alento que nunca existiu, minha dor e meu amor não correspondido, tudo isso seja pleno. Tão pleno, tão absoluto que o que resta é apenas o vazio, o Nada.
Um lugar sem cheiro; sem gosto; sem luz; sem sombra; sem som; sem silêncio; sem forma; sem mim mesmo. Além desse vazio, além da imaginação, além do sonho, está o meu Nirvana. Portanto, aceito o meu fim. Eu nasci para morrer. Lentamente. Cada ano, cada dia, cada segundo que passa é um a menos na minha vida. Mais próximo do fim eu estou. Mais perto do esquecimento. A dor e o sofrimento vão consumir meu corpo lentamente, como vermes na carne putrefata. A solidão acompanhar-me-á incessantemente, como um fantasma a me atormentar. A indiferença será minha companheira. A dor, minha conselheira. Portanto, a morte é o alento. O fim é a transcendência. Nesse momento, livrar-me-ei de toda essa tristeza que me segue.
Talvez, no meu leito de morte, depois do meu último suspiro, uma lágrima seja derramada. Não será a primeira, naturalmente; porém, com a mais absoluta certeza, será a última. Portanto, regozijo-me! Será a derradeira desventura causada pela minha insignificante existência.
E então, no lânguido sepulcro em mármore, à luz pálida da bela lua nascente, nessa noite de tantas desventuras, rebentaram-se os sonhos cultivados, no mais inefável vazio; nada mais serei senão apenas dor e sofrimento, de um passado de flébeis diafaneidades. Em meu leito repousará a solidão e o esquecimento.
Sentirei o aroma da morte, dessas árvores tristes e velhas que me alenta. O eflúvio inebriante do silêncio que me escarna, emanará da minha sepultura. O síbilo dos bratáquios, o canto dos grilos, a brisa fria da madrugada, nada mais será sentido. Meu corpo apodrecerá em meio ao silêncio do meu mais completo olvido.