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Ensaios-->A origem do antropônimo Carrano -- 06/05/2000 - 19:20 (Pedro Wilson Carrano Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A ORIGEM DO ANTROPÔNIMO CARRANO


A primeira questão que se apresenta quando se inicia uma pesquisa sobre determinada família é a origem e o significado do sobrenome que a representa.

E o que temos sobre o antropônimo Carrano ?

A 'Nouvelle Biographie Generale' menciona um príncipe argiano (de Argos, cidade situada na Península de Peloponeso, no sul da Grécia, junto ao Golfo de Náuplia), com o nome de Carano, que viveu no Século XVIII a.C. Ele pertencia à Dinastia dos Heráclidas (1), descendendo de Temenus. Credita-se a este príncipe a fundação, na Macedônia (2), da Dinastia Argiana.

A História cita, também, um Caranus, que teria morrido em 329 a.C., após ter sido um dos generais de Alexandre Magno (3), Rei da Macedônia, que submeteu a Grécia ao seu domínio.

É bom lembrar, contudo, que entre os gregos o nome era único e individual, como Sócrates (4), Platão (5) e Aristóteles (6), não se transmitindo aos descendentes. A identificação se dava, geralmente, pelo nome do pai.

Entre os hebreus, o nome era igualmente único, mas com o tempo, quando as tribos se multiplicaram, os indivíduos passaram a ser individualizados pelo nome ligado ao do genitor. Exemplos: José Bar-Jacó (José, filho de Jacó), Bartolomeu (filho de Tolomeu) e Barrabás (filho de Abás).

Na Roma Antiga é que o nome passou a ser mais complexo, compondo-se geralmente do prenome (nome próprio de cada pessoa), do gentílico (usado por todos os membros da mesma 'gens') e do cognome (que inicialmente era individual, tornando-se hereditário). As mulheres não usavam cognome. Este sistema passou a ser adotado em quase toda a Europa.

Assim, no caso de Marco Túlio Cícero (7), tínhamos o prenome Marco, o gentílico Túlio e o cognome Cícero.

A invasão dos bárbaros provocou o retorno ao nome único, entre eles vigente. Com o aumento da população, tornou-se necessário, no entanto, distinguir as pessoas, diante da confusão que ocorria com os homônimos.

Recorreu-se, então, ao emprego de um sobrenome, ora tirado de qualidade ou sinal pessoal (Bravo, Valente, Branco, Gordinho, Bicudo), ora da profissão (Monteiro, Carreiro), ora do lugar de nascimento (Albuquerque, Portugal, Lima, Lisboa, Guimarães), ora de parentesco (Neto, Parente), ora da flora (Macieira, Pereira, Figueira, Parreiras, Carvalho, Oliveira), ora da fauna (Carneiro, Bezerra, Pinto, Coelho, Cordeiro), ora de instrumentos (Machado, Cunha, Serra), utilizando-se, também, com freqüência, o patronímico, ou seja, um sobrenome derivado do nome do pai (Afonso Henriques - Afonso, filho de Henrique; Lourenço Marques - Lourenço, filho de Marco; Antônio Esteves - Antônio, filho de Estêvão; Francisco Lopes - Francisco, filho de Lopo).

Considerando o disposto no final do último parágrafo, poderia ser levantada a hipótese de que o sobrenome do tradutor italiano Lélius Carani, que viveu no Século XVI, significaria 'filho de Caranus'. Lélius era natural de Régio, tendo vivido grande parte de sua vida em Florença, onde publicou suas traduções, inclusive 'Os Provérbios de Erasmo' e 'Os Amores de Ismênia'.

Gerhard Rohlfs, em obra de sua autoria, revelou ter encontrado referências ao antropônimo Carrano na Calábria (há registro da existência nesta região, em 1175, de um Rogerios Karranos) e na Sicília, assim como em Atena Lucana e Teggiano (na Província de Salerno) e em Tramútola e Viggianello (na Província de Potenza).

Ainda sobre a origem do antropônimo Carrano, havia uma notícia de que ele teria origem judia, originando-se, talvez, do nome Cohen. A propósito, o autor confirmou a existência em Pesaro e Ancona, na Itália, entre 1614 e 1674, de membros da Família Cohen (8) que se dedicavam à fabricação de louça vidrada (maiólica) e produziam, juntamente com a Família Azulai, muitos pratos artísticos, fabricados na Renascença Italiana. Foram membros desta Família na Itália: Isaac Cohen, que viveu em Pesaro, em torno de 1613, Jacob Cohen, que viveu em Ancona por volta de 1654, e outro Isaac Cohen, que residiu em Ancona entre 1673 e 1677 (9).

Entretanto, como foi comprovado pelo autor, o Clã Carrano a que pertence já existia na Itália no Século XVI, antes, portanto, da chegada dos Cohen àquele País (10). Outras pesquisas feitas não ofereceram qualquer indicação de vínculo com os Cohen ou qualquer outra família judia, versão decorrente, provavelmente, da semelhança do sobrenome Carrano com alguns antropônimos judeus, com o topônimo Canaã (11) e com o adjetivo marrano, que é, segundo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 'designação injuriosa dada outrora aos mouros e judeus'.

A propósito, segue-se reprodução de carta de 11 de março de 1990 do respeitável escritor Egon Wolff12, estudioso da genealogia judaica recentemente falecido, e de sua esposa Frieda Wolff (nome de casada), membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro:

' Agradecemos sua gentil carta de 25 de fevereiro que respondemos somente agora devido a enfermidade do abaixo assinado.

Quanto à família CARRANO nada podemos informar, tendo realizado buscas no nosso arquivo e na grande enciclopédia judaica de uns vinte volumes.

Não acreditamos que exista nexo entre Carrano, marrano, Canaã e Cohen. O jogo de substituir uma ou mais letras de um nome dificilmente levará a um resultado correto.

Quanto a Albuquerque, podemos afirmar que houve um Diogo d Albuquerque, morador em Salvador, meirinho, denunciado na Visitação de 1618. Também no Rio de Janeiro, no fim do mesmo século, constam vários cristãos novos de nome Albuquerque no nosso arquivo.

Lamentando não poder servir com mais informações concretas, subscrevemo-nos, mui atenciosamente,

Egon e Frieda Wolf'.

Outra possibilidade levantada pelo autor foi a de que Carrano seria proveniente de uma localidade, talvez Carano, nome de duas cidades situadas nas Províncias de Casenta e Trento, na Itália. Esta posição é defendida por alguns estudiosos da Família, levando em conta o fato de que, outrora, era comum acrescentar-se ao nome o local onde residia ou de onde provinha determinada pessoa. Outrossim, seria toponomástico (relativo a lugares) o sufixo 'ano'.

A propósito, cabe registro o fato de que já existe na Itália a Família Carano (ou Carani, no plural), oriunda de cidade com o mesmo nome. Por outro lado, o sufixo 'ano', segundo Ciro Mioranza em seu 'Dicionário dos Sobrenomes Italianos', também é adjetival, podendo ser utilizado, portanto, para indicar profissão ou qualidade de uma pessoa.

A questão começou a ficar mais clara com a leitura do 'Dicionário Etimológico de Nomes e Sobrenomes', do Professor Rosário Farâni Mansur Guérios (13), que assim se refere ao apelido Carrano: 'sobrenome italiano derivado de carro'.

Esta é, também, a opinião constante do 'Dizionario dei Cognomi Italiani', de Emidio De Felice, que deixa claro o fato de que antropônimos como Carrero, Carraro, Carrano, Carrari e outros assemelhados provêm de profissão, ou seja, de alguém que guiava, construía ou reparava carros e outros veículos de transporte.

Segundo o 'Istituto Araldico Coccia' (14), sediado em Florença, na Itália (15), análise cuidadosa do antropônimo Carrano revelou sua relação com a palavra 'carro', derivada do termo latino 'carrus', cujo plural em italiano era 'carra' (hoje é 'carri'), e de seus derivados, como 'carraio' (carreteiro, carroceiro), 'carradore' (o construtor de carros), 'carrata' (o que pode ser carregado por um carro), etc.

Vale consignar, ainda, que o brasão da Família contém o desenho de uma roda, o que pode estar revelando uma ligação de tal objeto com o Clã. Deve ser lembrado, a propósito, o hábito que existia em determinadas épocas e regiões da Europa de se colocar à porta dos estabelecimentos e residências algum sinal representativo da atividade desempenhada pelo proprietário ou morador, que, em função disso, passava a ser identificado com a ocupação.

Vê-se, por tudo que foi exposto neste capítulo, que, provavelmente, o antropônimo Carrano foi utilizado, pela primeira vez, por alguém que exercia a profissão de construtor ou condutor de carros.

Deve ser consignada aqui a preocupação do avô materno do autor, José Carrano, com a manutenção do bom nome da Família. Para ele aquele que utilizasse o sobrenome Carrano tinha uma grande responsabilidade: manter o bom conceito que sempre envolveu os que usaram o apelido. A propósito, é oportuno o registro da seguinte declaração do Papa Leão XIII: 'Um apelido ilustre jamais deixará de ter eficácia para quem saiba dignamente levá-lo' (16).



Notas explicativas:

(1) Heráclidas são as dinastias gregas do Peloponeso, de Corinto, de Lídia e da Macedônia, que pretendiam descender de Hércules ou Héracles. Os Heráclidas do Peloponeso são os mais célebres, tendo, unidos aos dórios, expulsado os acaios do Sul da Grécia.

(2) A Macedônia era uma região da Europa antiga situada ao Norte da Grécia. Nos reinados de Felipe e de Alexandre, o Grande, o Reino da Macedônia dominou a Grécia, tendo sido, em 146 a.C., reduzido a província romana.

(3) Alexandre Magno, ou Alexandre, o Grande, filho do Rei Felipe II, viveu entre 356 e 323 a.C. Foi Rei da Macedônia no período de 336 a 323 a.C.

(4) Sócrates (n. em 470 a.C. e fal. em 399 a.C.) foi um ilustre filósofo grego, filho do escultor Sorronisco. Não deixou nenhum livro, mas a sua filosofia está registrada nos 'Diálogos' de Platão e nos de Xenofonte. Foi o criador da ciência moral. Foi condenado a morrer bebendo o veneno cicuta.

(5) Platão (n. em 429 a.C. e fal. em 347 a.C.) foi um filósofo grego, discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles. Autor dos diálogos 'Críton', 'Fédon', 'Fedro', 'O Banquete', 'República' e 'As Leis', entre outras obras.

(6) Aristóteles n. na Macedônia em 384 a.C. e fal. em Cálcis, na Eubéia, Grécia, em 322 a.C. Notável filósofo, foi discípulo de Platão e encarregado, por Felipe da Macedônia, da educação de seu filho Alexandre. Fundou a escola filosófica denominada 'Peripatética'. Suas obras abrangeram praticamente todas as ciências de seu tempo, haja vista, entre outros, os seguintes tratados: 'Orgánon', 'Retórica', 'Poética', 'Política', 'História dos Animais', 'Física', 'O Céu', 'Metafísica' e 'Moral'.

(7) Marco Túlio Cícero foi um famoso político e o mais eloqüente dos oradores romanos. Entre seus discursos políticos destacam-se as 'Catilinárias'. Com a morte de César, passou a atacar Marco Antônio, em discursos denominados 'Filípicas', o que levou este militar a ordenar seu assassinato.

(8) Conforme a 'Encyclopedia of American Family Names', de H. Amada Robb e Andrew Chester, a Família Cohen tem origem judaica e todos os seus membros, tradicionalmente, descendem de Aarão, irmão de Moisés.

(9) Dados extraídos da 'Grande Enciclopédia Ju)aica', editada em Jerusalém entre 1971 e 1974.

(10) O registro mais antigo encontrado pelo autor foi o da morte, em 11-ABR-1640, de seu antepassado Domenico Carrano, nascido em torno de 1570, filho de Francesco Carrano.

(11) Canaã era região da Ásia Menor, na orla do Mediterrâneo, que compreendia a Palestina e a Fenícia e da qual os hebreus se apossaram em torno de 1.200 a.C.

(12) Egon Wolff nasceu em Budsin, na Polônia. Era formado pela Universidade de Berlim, na Alemanha, e casado com Frieda Paliwoda. Vindo para o Brasil, o casal passou a dedicar-se à História dos Judeus no País, sendo inúmeros os trabalhos por ele publicados, inclusive na área da Genealogia. De grande cultura, foi membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Faleceu no Rio de Janeiro (RJ) em 23.1.1991.

(13) O Professor Rosário Farâni Mansur Guérios é natural de Curitiba (PR). Professor de Língua Portuguesa no Instituto de Letras e Artes de sua cidade natal, é autor, além do 'Dicionário Etimológico de Nomes e Sobrenomes', de várias obras, entre as quais podemos citar: 'Tabus Lingüísticos', 'Pontos de Gramática Histórica Portuguesa, 'Dicionário de Tribos e Línguas Indígenas da América Meridional', 'A Nomenclatura Gramatical Brasileira Definida e Exemplificada' e 'Conceito do Correto e do Incorreto na Linguagem'.

(14) O 'Istituto Araldico Coccia' foi fundado em 1939 por Ildebrando Coccia Urbani, n. em 1-JUN-1916 em Florença, Itália, onde fal. em 11-SET-1990. Sua sede encontra-se situada em belo e antigo prédio de Florença, que o autor já teve a oportunidade de visitar.

(15) Florença, ou Firenze, é cidade da Itália com cerca de 470.000 habitantes, capital da Província com o mesmo nome, localizada às margens do rio Arno, na Região de Toscana.

(16) Gioacchino Pecci n. em Carpineto, Itália, em 2-MAR-1810 e fal. em Roma em 20-JUL-1903. Eleito papa em 1878, passou a usar o nome de Leão XIII. Ficou célebre por suas encíclicas, sendo a mais conhecida a 'Rerum Novarum', admirável programa social, que mostra a preocupação do Pontífice com a solução dos problemas da classe operária. Em 1888, enviou à Princesa Isabel, do Brasil, a 'rosa de ouro', por sua decisão de libertar os escravos no País. A declaração do Papa Leão XIII consignada neste Capítulo foi subtraída do livro 'Encontro com o Passado', de Paulo Roberto Capriotti Rubio.
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