Em que condições um professor de universidade pública no Rio de Janeiro leciona quando está em suas mãos uma das mais importantes responsabilidades na vida de um cidadão, a da educação?
A ausência e o descaso do governo para com a sociedade acadêmica, principalmente para com os estudantes e com a sociedade não é retratada como de fato ela realmente é. A começar pelo Ensino de Graduação.
Nas salas de aula luta-se contra a miserável verba destinada ao ensino. Mal e porcamente usa-se retroprojetores caóticos quando estes funcionam perfeitamente. O número cada vez mais restrito destes equipamentos faz com que o professor corra de um lado para outro a fim de assegurar a qualidade de suas aulas.
O amigo quadro negro e o lápis-giz é a opção ainda oferecida, mas absurdamente vista pelos alunos como sendo de uso arcaico e antigo. O mestre pode ser visto como um preguiçoso e ultrapassado pelo não empenho na organização e oferecimento de melhores recursos audiovisuais em suas aulas.
Os equipamentos de projeção de slides são apenas para casos de palestras com convidados especiais. Afinal, dizem, que a imagem conta muito quando alguém de fora entra em nossa casa. Hoje as mais ricas instituições particulares oferecem recursos computadorizados, nesta universidade, em particular, isto é caso descartado, similar ao milagre divino.
As salas de aula localizadas no subsolo do prédio acabado onde baratas fazem morada, são verdadeiros fornos humanos. Algumas possuem aparelhos de ar condicionado para os quais a solicitação de manutenção é eterna.
A biblioteca geral suspende as assinaturas de periódicos científicos e os livros já estão desatualizados há séculos. Quando o professor divide seus próprios livros com os alunos, arduamente comprados com o mínimo salário pago, pode acabar ficando sem ele ou sair atrás como um louco antes que suma.
Bolsa de monitoria foram cortadas. Os alunos de iniciação científica recebem ajuda de custo pelos órgãos de fomento, contudo, as migalhas financeiras permitem a solicitação de apenas uma única bolsa de estudo para cada pesquisa em andamento. Vale ressaltar que para isto o coordenador da mesma deve ter seu título de doutor na mão, como se fosse uma bandeira ou uma senha de atendimento em uma fila quilométrica de mãos e anseios.
Assim passamos os dias, fazendo mágicas para tentarmos prover aos estudantes o mínimo do serviço e o máximo de orgulho no qual empenhamos nossas vidas, e ainda assim, neste país, somos desvalorizados ou chamados de oportunistas.
Já está tarde para reflexões. Já está na hora de aplaudir este mestre malabarista, que quando necessita falar e extravasar é chamado de malandro grevista. As portas do ensino estão abertas a todos que queiram e desejam ver de perto algumas razões a mais deste teatro sem cenário e sem platéia.