'Com o uso da palavra
Não há mais lugar para a imaginação.'
Charles Chaplin
De tempo em tempo me pego fazendo a mesma pergunta ao espelho. Espelho,espelho meu... Que bichinho será que me mordeu?
Ando obsessiva pela escrita, penso somente em escrever, escrever e escrever... Tudo que vejo, sinto ou toco é motivo suficiente para querer escrever. É sede e água na plenitude, harmonia da vida.
Tempo... Este foi ingrato comigo, mostrou-me esta delícia um pouquinho tarde. Por que não escrevo desde pequena? Por que não me ensinaram a escrever?
Pensará você que devo ter enlouquecido. 'Não lhe ensinaram?'.
Sim, aprendi conjugar, juntar, soletrar, usar, não muito bem, a gramática e os verbos, mas isso ainda é muito pouco perto do que é realmente viver cada frase, cada verso. O respirar a tinta da caneta, o comer da borracha, o secar o suor com o papel, o enxergar a transparência do negro e ver o branco, o alcançar as cores do coração... Tudo é pura alquimia da emoção. É feitiço dos Deuses!
Escrever é caminhar sobre nuvens sem a preocupação da distância que nos separa do chão, sem querer saber a conseqüência da queda.
Hoje é mais ou menos assim que eu vivo, entre um rabisco e outro, entre pedaços de sonhos colados no papel. Eu e ele juntos fazemos aeróbias usando
o combustível que nos vem da alma, sem nem pensar em reserva disponível.
Conversamos como se fossemos amigos íntimos e de longa data.
Escrever transformou-se em banho, sono, cama. É bem mais forte e feroz do que qualquer mania de adolescente. Deixamos a solidão de lado e nos abraçamos como namorados, eu e o lápis. Escrever tornou-se meu vício e minha paixão, minha oferta e sacrifício. Ritmo e o silêncio.
Se tirarem de mim a tinta, morro de agonia e inanição. Escrever suplanta a fome, recria a esperança, carrega o amor no colo e nos dedos, escrever 'ad eternum...' Sem inflação, sem preço. Apenas escrever, é o pouco que peço, espero que seja o mínimo que mereço.