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Ensaios-->Blood Brothers -- 04/12/2000 - 14:27 (D.Pessôa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Não é difícil levantar a hipótese de que o Grande Irmão de George Orwell realmente existe e de que em pleno prelúdio do século XXI está no meio de nós, dominando e recebendo oferendas de um exército de pessoas.
Ninguém está falando de regime político nazi-fascista, muito menos de golpe militar, mas do nazismo sofisticado da mídia. Ela que ininterruptamente invade lares e vidas “a torto e a direito”, passando por cima de antigos valores e ditando novas regras para se viver bem.
No livro de Orwell, 1984, o Grande Irmão encarna a ditadura “pacífica” que promete igualdade para todos, divisão igualitária de riquezas, direitos e deveres. Ninguém sob o seu domínio moraria em ruas ou calçadas; também ninguém habitaria mansões ou palacetes; os alimentos chegariam sempre em iguais quantidades em todas as bocas e o trabalho/renda de cada um seria regulado por normas universais de valor. Mas paralelamente a essa falsa democracia, falsa porque no fundo reinava a ditadura, a Oceania curvarva-se ao império da censura rigorosa, do falso moralismo e da dominação repressiva e violenta de um poder onipresente e castrante das liberdades individuais.
Como o Big Brother conseguia controlar um continente inteiro e não suscitar uma revolução, ou pelo menos se ver enrascado de vez em quando com atentados terroristas ou ondas de protesto?
A resposta é simples: através de um rigoroso processo de lavagem cerebral, semelhante ao utilizado pela mídia de hoje que, valendo-se de forte apelo visual e auditivo, consegue substituir conceitos tradicionais de valor e uniformizar os indivíduos.
A onipresença da mídia aproxima-se da invenção de Orwell, a teletela que inverte a posição de telespectador para a de observado em qualquer lugar que esteja, pois se insere em todos os espaços que pode. Ou seja, além dos tradicionais meios de comunicação, qualquer objeto que tenha como destino ser comercializado carrega a sua marca: chamadas telefônicas, fitas de cinema, música etc. A mídia muitas vezes inferniza a vida do cidadão com anúncios sonoros em altíssimo volume, com chuvas de panfleto em ruas, escolas, no pára-brisa do carro, nas caixas de correio etc. Além de poderem montar um verdadeiro arsenal de guerra nos lugares menos esperados e capturarem detalhes da vida privada de personagens famosas, tornando-os públicos sem a menor cerimônia, com a velha desculpa de que seu dever é informar a população.
A mídia, hoje, tem o propósito claro e específico de uniformizar os indivíduos a qualquer custo e conseqüentemente ampliar o consumo em massa, ou seja, o que paira livre e saltitante na nossa sociedade é o poder avassalador do “mass media”. Quantas e quantas vezes não somos pegos de surpresa por modas pegajosas simplesmente porque uma personagem de novela apareceu sorridente e feliz na televisão usando-a? De repente, um imenso exército adota o estilo proposto e invade as ruas se achando o pontífice em requinte e bom gosto. A grande sedução da mídia atinge em cheio a massa que absorve tranqüilamente tudo aquilo que a grande irmã divulga como sendo o gerador do bem viver: o consumir. A massa não questiona a validade de adotar ou não uma moda, ela existe para ser controlada. Exatamente como os proles na obra de Orwell que não têm consciência de sua força e não se rebelam contra o sistema simplesmente dizendo não ou como os membros do Partido do Grande Irmão que jamais se perguntam o porquê e o para quê de nada.
“Felicidade é entrar num vestido P”, diz o outdoor. A mídia não só regula o ambiente subjetivo do sujeito quanto o faz acreditar que comprar produtos dietéticos, cirurgias plásticas e vestidos “P” é a única maneira de alcançar a felicidade. Além disso tudo, a mídia propõe uma maneira completamente nova de existir e conviver, estabelecendo uma outra forma de comunicação entre os seres. Seria a “Novilíngua” de George Orwell, criada e recriada a cada dia para suprimir o passado e destruir um vocabulário complexo já existente, mas que se aproxima muito da tradução daquilo que porventura venha surgir no mais íntimo do ser. Em 1984 a mais tênue reflexão sobre qualquer que seja o assunto é proibida e imediatamente banida. Assim como a mídia, o Grande Irmão não quer cabeças pensantes, mas animais adestrados para aceita-lo e amá-lo sem pudores ou reservas.
O parentesco entre o Big Brother e a “mass media” se confirma de maneira assustadora. As propostas de ambos se confundem numa só: dominar, lavar os cérebros e uniformizar os indivíduos, ser onipresente e sempre apelar para a emoção dos dominados (como nos “Dois minutos de Ódio” onde os membros do Partido são expostos a uma sessão de catarse espiritual). Todas as possíveis frustrações são expurgadas quando na tela aparece o maior inimigo da “democracia”, Goldstein, insultando todos aqueles que seguem regras impostas pelo Grande Irmão sem qualquer tipo de reflexão. A emoção exacerbada embarga os olhos e o pensamento, a alma fica leve depois do desperdício de energia e o cérebro só quer curtir a sensação de relaxamento ao invés de trabalhar, de se esforçar para pensar, sua razão primordial para existir. O descarrego emocional incitado pelos “Dois minutos de Ódio” assemelha-se às grandes farras de rua promovidas mensalmente pela mídia nas quais os participantes têm a chance de arreganhar os instintos e extenuarem-se. A anestesia coletiva é mantida e acalentada por todos os “recifolias” e afins espalhados pelo mundo.
Argumentos não faltam para se concluir que se não forem irmãos, a “Mass Media” e o “Big Brother” são pelo menos da mesma família.

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