Hitler patrocinou o holocausto lá no início do século. Sacrificou milhões de seres humanos de forma cruel. Matou homens, mulheres e crianças friamente. Foi um monstro encarnado no planeta.
Ano após ano, Caderno 2 sim, Caderno 2 não, somos relembrados pelos nossos irmãos judeus desse massacre cruel. Mas se Hitler morreu, deixou-nos uma prole vasta e mais cruel, que nos submete a um holocausto lento e mais doloroso.
Deixou carrascos que se disfarçam com terno e gravata, e fazem arrastões nas bolsas de valores, que aniquilam a economia de tantos países. Invadem as fronteiras, ordenham seus lucros e se retiram, deixando um deserto de seres falidos.
Deixou mestres e doutores, que ensinam teorias de 'qualidade total', de isos nove mil e outras papagaiadas teóricas, que subornam os trabalhadores, para que destruam o colega mais fraco, e trabalhem em dobro, apenas para transbordar o cofre das lojinhas globais.
Deixou-nos o vício do consumo de produtos, que nos iludem a trocar a cada ano, caso contrário, não seremos bem-sucedidos. Uma trepada satisfatória na noite de sábado não há dinheiro que pague, já o resto, seu cartão de crédito compra - inclusive a pílula da sua esposa, seu uísque de antes e o cigarro de depois. Engordam seus lucros fazendo-nos de bobos nas altas e baixas do mercado de ações, que inventaram para roubar-nos as economias.
Utilizam os meios de comunicação, a dita mídia, para nos convencer de que o melhor caminho é a globalização, a fusão de empresas, que custam milhares de empregos a cada investida. E causam orgasmos múltiplos aos investidores - ejaculam em dólares, euros e até em reais. Adoram o vil papel-moeda, os diamantes, esmeraldas e rubis, e lambem lingotes de ouro como se fossem picolés. Procurem saber quem são os verdadeiros donos dos grandes fundos de ações, que vasculham o planeta à procura de carniça. Urubus travestidos de personagens hollywoodianos, onde, aliás, abundam.
Tentam nos reduzir a meros idiotas sem personalidade, sem ideais, corrompendo nossos filhos, para que comprem as idiotices que produzem. Invadem as telas das TVs e dos cinemas, oferecendo uma vida pior que a dos gladiadores do Coliseu. Seja alguém de sucesso, amarrotando seu colega ao lado. E passe suas férias rindo, feito um idiota, das idiotices do Disney World.
Forjam ídolos nas artes cênicas e na música, como se fôssemos fantoches, que se saciam com vulgaridades. Inventam teorias para que aceitemos um mundo competitivo. Competir pelo quê? A quem devemos derrotar? Nossos vizinhos?
Ingênua humanidade que não vê as teias que se formam, como açúcar transformando-se em algodão doce.
Por que aceitam a tortura dos hiper-mercados, quando poderiam comprar a ração diária, ao invés de estocarem toneladas de alimentos, numa disputa pelas oferendas mais coloridas das gôndolas?
Por que aceitam ver seus filhos escravizados ao consumo precoce, quando poderiam estar brincando no quintal? Por que emudecem ao morar em prisões luxuosas, quando poderiam habitar lares térreos com terra e árvores?
Por que aceitam remédios enganosos, que os transformam em fracotes, boiolas, madames raquíticas e preguiçosas, e campeões de broxadas, quando poderiam usufruir os frutos da terra onde nasceram? Compram comprimidos de berinjela e xampus de babosa, quando têm tudo isso tão próximo, e de raça mais pura que a dos laboratórios.
Por que unem a família a olhar o medo que é vendido pela mídia, quando a generosidade habita os olhos de todos nós? Por que acreditam nas mentiras embaladas, quando as verdades ciscam em seus ouvidos?
Por que lêem best-sellers falsos, que seriam queimados vivos por seus avós? Por que não abrem os olhos, se são vítimas de um holocausto tão mais cruel?
Estamos no Brasil, e esse Hitler disfarçado não consegue convencer a todos. Só aos tolos, que se pavoneiam com etiquetas.
Troque seu celular por uma criança pobre, ou troque essa sua vida por uma mais saudável. Ou seu Lorax por uma trepada mais que relaxante. Ou morra de arrependimento tardio.
Observe quem são os donos do poder, os acionistas das grandes empresas, dos bancos comerciais e os tubarões dos bancos centrais. Veja quem está por trás dos juros do seu cartão de crédito e do seu cheque especial. Veja bem além do seu gerente de conta, suba na hierarquia. Veja quem produz os filmes que você vê, os seriados de TV. Veja quem lhe proporciona esse estresse que você nem vê. Veja quem o convenceu a usar esse tênis ridículo, essa roupa que lhe põe a etiqueta na testa; e essa gravata idiota, que lhe custou um tanto de suor.
Observe bem e perceberá quem é esse descendente hipócrita do finado Hitler.
Se não sente que vive um holocausto, 'never mind', como diria o David Niven.