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Ensaios-->Aprendiz de feiticeiro -- 20/06/2001 - 15:17 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Depois que Fidel Castro tomou o poder em Cuba (1), muitos políticos latino-americanos o tem como modelo exemplar. Essa adoração ao barbudo mais famoso do Caribe aumentou consideravelmente depois da fracassada invasão da Baía dos Porcos, promovida por exilados cubanos, com o apoio do governo americano, em abril de 1961. O fato aumentou a popularidade de Fidel, que passou a ser incensado pela esquerda como o “líder máximo” das Américas, o pequeno Davi que venceu o arrogante Golias do norte. Fidel começou o Governo em 1959 como um Kerensky, prometendo reformas econômicas e sociais a seu povo, mas rapidamente se despiu da fantasia democrata com que enganou a todos, vestindo a couraça do totalitarismo vermelho, quando declarou sua opção preferencial pelo socialismo, um mês depois da invasão da Baía dos Porcos, transformando-se em um Lênin das Antilhas.

Desde então, e já por mais de 42 anos, Castro se mantém no poder, mais firme do que nunca, depois de eliminar, à maneira de Stálin, todos os seus oponentes diretos, matando 17.000 compatriotas e ocasionando a emigração de aproximadamente 1.800.000 cubanos. Nos últimos anos, com o país sofrendo dificuldades estupendas, depois do desmantelamento da União Soviética, ocasião em que o País deixou de receber gorda mesada de Moscou, o capitalismo que o ditador tanto combate, que é apenas da boca para fora, está dando uma sobrevida ao tirano. Trata-se dos dólares remetidos por refugiados cubanos em Miami para parentes em Cuba e dos dólares que os turistas atualmente deixam nos modernos e luxuosos hotéis cubanos.

Dentre os aprendizes de feiticeiros do regime cubano, destacam-se, hoje, Luiz Inácio da Silva, o Lula, e o Presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Cada um, a seu modo, passa periodicamente pela Ilha para um serviçal beija-mão ao tirano mais antigo do planeta.

No final do ano 2000, Lula liderou uma troupe do PT para uma alegre estada na Ilha, com seus correligionários fantasiados de Che Guevara, viajando pelas belas praias do País, degustando lagosta regada a vinho e mojito. Na volta ao Brasil, para distrair seus futuros eleitores, Lula afirmou que o sistema de governo de Cuba não é exemplo para o Brasil. Se Cuba não é exemplo para um governo petista, por que razão, então, Lula participou da fundação do Fórum de São Paulo (2), criado pelo Partido Comunista de Cuba (PCC) e pelo Partido dos Trabalhadores (PT), em julho de 1990, para adaptação das esquerdas à nova ordem mundial após a dissolução da União Soviética? Embora Lula não tenha participado do Fórum Social Mundial (3) – uma espécie de segunda geração do Fórum de São Paulo –, realizado em Porto Alegre em janeiro deste ano de 2001, o que o futuro candidato à Presidência tem a dizer sobre aquele evento, quando o seu partido, o Partido dos Trabalhadores, junto com terroristas das FARC, do MST e do ETA entoaram hinos e mais hinos de louvor a Cuba e à Coréia do Norte?

Recentemente, Lula visitou a China. Embora os 10 jornalistas que o acompanhavam na longa viagem ao outro lado do mundo fossem barrados na entrada ao País, Lula, ainda assim, disse que a China é um modelo para o Brasil. O que Lula teria visto de tão especial atrás da “cortina de bambu”, além de inofensivos ursos Panda?

Provavelmente, o novo sistema econômico-social que prevalece na China, com sua pragmática fórmula: “dois sistemas, um regime”. Ou seja, apesar de a China continuar sendo um dos sistemas totalitários mais ferozes do planeta, a abertura econômica ao capital estrangeiro está promovendo “negócios da China” para gregos, brasileiros e americanos. Com uma tenaz repressão a qualquer reivindicação salarial, com a total falta de liberdade para atuação de sindicatos de trabalhadores, pagando salários de fome à sua população, com exportações de produtos piratas crescendo exponencialmente, é fácil imaginar por que a China cresce tanto, mais de 10% ao ano em seu PIB. O que não é vantagem nenhuma. Durante os governos militares, quando não eram permitidas greves, nem movimentos de protesto, o Brasil crescia 10%, 13% ao ano. O mesmo poderá ocorrer com Cuba, depois que for vencida a teimosia de Castro em promover na Ilha a fórmula chinesa. Seria por isso que Cuba não é exemplo para o Brasil, segundo Lula? Logo ele, que tanto critica o período do governo militar no Brasil, por que, então, Lula enaltece tanto um regime tirânico, o da China comunista, que já matou mais de 60 milhões de pessoas? Ou será que Lula foi à China para a “comemoração” dos 50 anos de dominação chinesa sobre o Tibete? Segundo o escritor soviético Alexander Soljenitsyn, “a ocupação chinesa do Tibete é obra do mais brutal e desumano de todos os regimes comunistas que já existiram no mundo”. Dos seis mil mosteiros antes existentes no Tibete, os comunistas deixaram apenas oito em pé. Morreram cerca de 1.200.000 tibetanos, assasinados, torturados, ou queimados vivos em campos de concentração, além de milhares de mulheres obrigadas a abortar e esterilizadas à força. É esse o exemplo de país que Lula tem como modelo, que transformou “a antiga capital sagrada do budismo na cidade dos mil bordéis” (4)?

Deve ser por isso que Lula não raspa sua barba, para que não vejamos que se corou de vergonha ao fazer um incitamento ao crime, que é fazer apologia do regime mais tirânico ainda em vigor no planeta. Será que Lula pretende ser o Mao Tsé-Tung de nossa federação tapuia, cercando nosso País com uma “cortina de taquara”? O certo é que a alquimia petista está sendo tentada em todos os cantos do País, com resultados bastante animadores nos últimos anos, especialmente na ocupação do vácuo deixado pelo incompetente Governo FHC. Para isso, os aprendizes de feiticeiros de Lula inventaram o PT do “orçamento participativo” (5), em Porto Alegre, onde o “boi garantido” (6) que arranca as tripas é substituído, invariavelmente, nos últimos anos, “pelo boi garantido” que as tripas arranca. Para isso, os aprendizes de feiticeiros criaram o PT “rosa”, em São Paulo, para eleger a prefeita Marta Suplicy. Para isso, imaginaram o PT “amarelo” em Curitiba, onde quase elegeram o prefeito. Agora, com o tal “programa light” apresentado pelo PT, para lançar Lula à Presidência, será que a feitiçaria dará mais um resultado positivo ao Partido?

Lula deve ter aprendido muitas artimanhas com o feiticeiro-mor do Caribe. Castro, como todos sabem, contribuiu para enriquecer o léxico comunista, ao “traduzir” para o paladar caribenho o menu soviético, a saber: o comissário do povo recebeu a denominação de “instrutor revolucionário”; o agitador passou a ser o “orientador”; os kolkhozes passaram a ser as “sociedades agrícolas”; as escolas de marxismo-leninismo as “escolas de instrução revolucionária”; e os sovkhozes as “granjas del pueblo”. Ainda hoje, Castro promove a “reeducação revolucionária”, uma espécie de “2ª época” ou “2ª chamada” de doutrinação comunista para os “traidores” que pretendem deixar o país – em torno de 800.000 –, resultado do acordo entre Cuba e os EUA depois do dramático episódio dos “balseros” (7).

No Brasil, Lula já tem de certa forma preparado um belo terreno para suas investidas socialistas. Não precisará traduzir para os brasileiros expressões-chave da sua doutrina social, pois já as temos de sobra em todos os cantos do país. Alquimistas do PT, trabalhando a quatro mãos com o MST, já fizeram há muito tempo as adaptações socialistas para a terra de Macunaíma: “governo paralelo do PT” (durante o Governo Collor); “marchas” do MST pelo País, para lembrar a “Grande Marcha” do camarada Mao Tsé-Tung; “orçamento participativo” do PT nos governos municipal e estadual do Rio Grande do Sul; “orientadores” para a doutrinação marxista nos assentamentos do MST; maniqueísmo marxista demonstrada no Fórum Social Mundial, em contraposição ao Fórum de Davos; denuncismo continuado contra políticos que apóiam o Governo FHC, com um Catilina sendo execrado a cada dia, de modo a parar e inviabilizar as ações do Governo Federal; constrangimento dos poderes constituídos frente às invasões terroristas do MST, de fazendas e prédios públicos, fazendo reféns, deixando o Governo manietado (ou conivente?), devido à tática da “guerrilha desarmada”(8), uma criação genuinamente brasileira.

Outro aprendiz de feiticeiro em plena atividade é o Presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Quando, há um ano, eu disse a um amigo que Chávez se tornaria um novo Fujimori, levei uma tremenda bronca. Hoje, qualquer observador, por mais distraído que seja, não vê outro futuro para Chávez.

Assim como Lula, Hugo Chávez já debutou na política há muitos anos. No dia 24 de julho de 1983, Chávez, então tenente-coronel da reserva, fundou o Movimiento Bolivariano Revolucionário-200 (MBR-200), em comemoração do 200º aniversário de Simón Bolívar, libertador da Venezuela e de outros países latino-americanos. “Bolívar fora um separatista aristocrático. Só na década de 1950 foi ele transformado num símbolo de líder de um movimento de Libertação Nacional para as massas índias.”(9) O MBR-200, anos depois, foi aventado como sendo o braço armado do Fórum de São Paulo.

Depois de liderar uma fracassada quartelada contra o Governo da Venezuela, em 1992, e passar algum tempo na cadeia, Chávez se tornou Presidente do País, com 90% de apoio popular. Imitando Fujimori, entitulou-se o salvador da pátria, colocou o Parlamento e o Judiciário em recesso, elaborou uma nova Constituição e passou a governar o País como um Ramsés. Afagando abertamente as barbas do tirano em Cuba, Chávez empreendeu uma viagem até Bagdá para alisar o bigode de Saddam Hussein. Chávez passou a fazer muito sucesso entre a macacada esquerdista, nas suas viagens ao Brasil, sendo, na última, freneticamente aplaudido por uma claque de estudantes no auditório da Universidade Católica de Brasília. Fujimori, coitado, quando veio ao Brasil, há alguns anos, depois de efetivar os mesmos atos mais tarde copiados por Chávez, foi esnobado pelo Presidente do STF, Sepúlveda Pertence, e – pasmem! – até José Sarney, Presidente do Congresso, lhe deu as costas naquela ocasião. Reeleito, Chávez não conseguiu resolver os problemas mais essenciais de sua população e hoje amarga parcos 30% de apoio popular.

Mas, pára-quedista bom de briga, como deve ser todo bolivariano que se preze, Chávez não se deu por vencido. Como seus constantes pronunciamentos na televisão e no rádio não estavam dando o resultado esperado, anunciou a criação dos “círculos bolivarianos”, para mobilizar a opinião pública a seu favor. 'Formem grupos de até 11 pessoas, de preferência em número ímpar, para ser mais eficiente, e ponham-se a trabalhar. Analisem a ideologia bolivariana e defendam a nova Constituição bolivariana (aprovada em dezembro de 1999)', afirmou Chávez no programa 'Alô Presidente', transmitido todos os domingos pelo rádio (10). Estaria Chávez imitando Leonel Brizola, criador dos “Grupos dos Onze”? (11)

Chávez jura com os pés juntos que os “círculos” não são cópias dos CDRs (12) cubanos. Como não pode transformar o Exército Venezuelano, que tem nas mãos, em um movimento de balilas, a exemplo das milícias fascistas de Mussolini, Chávez tenta imitar seu ídolo longevo do Caribe.

Além dos CDRs cubanos, que sustentam o regime fidelista, os “guardas vermelhos”, durante a “Revolução Cultural” (13) da China, desempenharam papel semelhante. Mao Tsé-Tung havia sido afastado da liderança comunista, após seu fracassado projeto “Grande Salto para a Frente” (14), mas voltou triunfalmente ao poder com sua “Revolução Cultural”. Se Mao teve seus “guardas vermelhos”, se Fidel tem seus CDRs, por que Chávez não iria criar seus “guardas bolivarianos”? Além de já ter uma guarda pretoriana do tamanho de todo o exército do país, Chávez esbraveja contra os opositores a seu regime, prometendo expulsar do País todos os estrangeiros que ousem criticar Bolívar II.

O que será que aprenderam Lula e Chávez, nesses anos todos, com o feiticeiro do Caribe? A Venezuela está prestes a saber o quê. O Brasil precisa esperar mais um pouco, caso Lula vença as próximas eleições. Aconteça o que acontecer, os aprendizes de feiticeiros Lula e Chávez têm garantido seu charuto com mojito junto ao eterno e imortal tirano da Ilha. Chávez é um pouco mais feliz que Lula: se seu governo for para o vinagre, a exemplo do que aconteceu com Fujimori, e tiver que rapidamente correr para longe, além das baforadas de charuto com Fidel poderá inalar a fumaça da shisha (15) que Saddam Hussein já deixou separada no seu palácio em Bagdá.


Notas:


(1) No dia 1º de janeiro de 1959, as tropas de Fidel Castro tomam Havana. A “república socialista”, porém, só foi proclamada em Cuba em maio de 1961. Em 1962, Cuba foi excluída da OEA, com certa dificuldade, tendo em vista as posições contrárias do Brasil, Chile, Argentina, México e Uruguai, ocasião em que o voto do Haiti foi decisivo, sem o qual a maioria dos 2/3 de votos não seria obtida. Em 1964, os países membros da OEA, com exceção do México, romperam relações diplomáticas com Cuba, devido ao apoio cubano de focos guerrilheiros em vários países da América Latina (Guatemala, Colômbia, Venezuela). Somente para a Venezuela, Fidel Castro enviou 3 toneladas de armas, para que as Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN), a maior organização terrorista da Venezuela, derrubassem o Presidente Betancourt. No Brasil, antes de 1964, Cuba financiou as Ligas Camponesas para comprar fazendas que serviram de campos de treinamento de guerrilha. A revista 'Veja', de 24 de janeiro de 2001, sob o título Qué pasa compañero?, faz uma análise centrada na tese de doutorado da pesquisadora Denise Rollemberg, da UFRJ, a qual afirma que 'o primeiro auxílio de Fidel foi no governo João Goulart, por intermédio do apoio às Ligas Camponesas, lendário movimento rural chefiado por Francisco Julião.” “... o apoio cubano concretizou-se no fornecimento de armas e dinheiro, além da compra de fazendas em Goiás, Acre, Bahia e Pernambuco, para funcionar como campos de treinamento.'

(2) O Fórum de São Paulo (FSP) foi criado em São Paulo em julho de 1990, sob os auspícios do Partido Comunista de Cuba (PCC) e o Partido dos Trabalhadores (PT). O FSP é um movimento neo-socialista latino-americano, planejado por Fidel Castro, para adaptação das esquerdas à nova ordem mundial após a desintegração da União Soviética. Os líderes do FSP são: Fidel Castro (Cuba), Luís Inácio da Silva, o “Lula” (Brasil) e Cuauhtémoc Cárdenas (México). Outros expoentes do Fórum, seguidores da “Teologia da Libertação”, são: Leonardo Boff, Pedro Casaldáliga (Bispo de São Félix do Araguaia, MT), Werner Sienbernbrock (Bispo de Nova Iguaçu, RJ) e Samuel Ruiz Garcia (Bispo de San Cristóbal de las Casas, Chiapas, México - um dos líderes do Exército Zapatista de Libertação Nacional - EZLN), além de Frei Betto, editor da revista America Libre, do FSP.

(3) O I Fórum Social Mundial (FSM) foi uma reunião paralela ao Fórum de Davos (“reunião anti-Davos”), ocorrida em Porto Alegre, RS, de 25 a 30 de janeiro de 2001. Promovido pelo governo petista do Rio Grande do Sul (estadual e municipal) e por ONGs como Le Monde Diplomatique, ATTAC, CBJP (da CNBB), Cives, CUT, Ibase e MST, contou com a presença de intelectuais, como Emir Sader, Conceição Tavares, Frei Betto, Oscar Niemeyer, Danielle Miterrand e Saramago; do embaixador cubano nas Nações Unidas, Ricardo Alarcón de Quesada; do líder da libertação da Argélia, Ahmed Ben Bella (que pregou a luta armada no encontro); do ativista francês José Bové (que destruiu em 1999 uma lanchonete do McDonald’s na França e destruiu, durante o Fórum, uma plantação de soja da firma Monsanto em Não-me-Toque, interior do Rio Grande do Sul, junto com Pedro Stédile e o padre Thorlby, da Pastoral da Terra); de narcoterroristas das FARC (o ex-padre Olivério Medina, porta-voz das FARC, foi proibido de falar em público pela Polícia Federal, porém Javier Cifuentes, escoltado por 2 oficiais da Brigada Militar, fez seu pronunciamento na PUC/RS); de “militantes” do ETA; do ex-jogador de futebol, Raí. O FSM reuniu, ainda, o Fórum Parlamentar Mundial, o acampamento intercontinental da juventude, o acampamento mundial dos povos indígenas (com homenagem à Confederação dos Tamoios, “1ª resistência indígena no Brasil” – 1555-1567). Com custo de R$ 2 milhões (1 milhão bancado pelo PT, ou seja, pelo contribuinte gaúcho – o Diário Oficial de 29/01/2001 publicou a relação de 163 convidados, que tiveram as passagens e a estada pagas pelo PT), os ativistas de esquerda se reuniram, em tese, para combater o neoliberalismo e sua conseqüente globalização econômica. O objetivo principal, no entanto, foi formar uma espécie de “V Internacional Comunista”, para levar sua ideologia a todos os quadrantes do planeta, já que Cuba e a Coréia do Norte foram os países mais aplaudidos naquele encontro. Nada como manter acesa a “práxis revolucionária” marxista, depois da queda do Muro de Berlim e do desmonte da URSS, quando o antagonismo “comunismo x capitalismo” foi substituído por “comunitarismo x neoliberalismo” – maniqueísmo sem o qual, parece, não consegue viver o pessoal da esquerda.

(4) Revista Istoé, 28 de maio de 2001.

(5) Orçamento participativo: mecanismo de manipulação política, através do qual o Partido dos Trabalhadores (PT) busca aprofundar a estratégia revolucionária leninista conhecida como “dualidade do poder” (poder paralelo). As organizações sociais e de bairro, à primeira vista voluntárias, com representantes ritualmente eleitos, são na realidade cooptadas pelo partido-governo. As decisões do “orçamento participativo” são tomadas não pela população das regiões em que se dividem a Capital e o Estado (caso do Rio Grande do Sul), mas pelos ativistas do partido e pelos “quadros políticos do governo”, municipal e estadual, remunerados com dinheiro público, que também “monitoram” os debates, sob controle do Partido. Com isso, os ativistas do PT buscam progressivamente solapar e esvaziar a autoridade dos corpos legislativos. Tarso Genro reconheceu que o “orçamento participativo” foi concebido para operar uma “transferência de poder para a classe trabalhadora organizada” e substituir gradativamente “a representação política tradicional, vinda das urnas, pela democracia direta”, acrescentando que esse mecanismo político havia sido constituído sobre “princípios gerais, originários da Comuna de Paris e dos sovietes”. Segundo dados oficiais, apenas 1,3% da população comparece às assembléias do “orçamento participativo” de Porto Alegre, RS. Com esse número reduzido de petistas, que se reúnem com qualquer número, debatem e decidem sem qualquer regra fixa, o PT pretende substituir a democracia representativa municipal de 33 vereadores, cujos mandatos foram obtidos com o coeficiente eleitoral de 22.750 votos. A Constituição do Estado do Rio Grande do Sul enuncia, no art 5º, parágrago 1º, o princípio de que “é vedada a qualquer dos poderes delegar atribuições”. Lembram-se do “governo paralelo do PT”, “implantado” durante o Governo Collor?

(6) O jornalista Ronaldo Junqueira definiu bem o maniqueísmo candango (Jornal da Comunidade, 15/06/2000), ao parodiar a festa de Parintins, onde só há lugar para o boi garantido e o boi caprichoso: o vermelho petista abraçado pelo Correio Braziliense e o azul rorizista vestido pelo Jornal de Brasília. Felizmente, o Comunidade e o DF Notícias ainda não escolheram a fantasia para desfilar no padoque.

No picadeiro nacional, apesar das fantasias serem também azul e vermelho, na verdade a disputa é cada vez mais boi vermelho versus boi vermelho. Basta citar as últimas eleições presidenciais, quando o marxista da USP, fantasiado de boi azul, enfrentou o sindicalista do ABC paulista, então vestido de boi vermelho, seja nas eleições de 94, seja nas de 98. O boi azul, aquele taxado de conservador, reacionário, fascista, já há muito foi sacrificado na arena da politiquice nacional, onde sobrevivem a esquerda e a direita da esquerda, como disse Olavo de Carvalho. Na verdade, só restou o boi vermelho, como se viu há pouco em São Paulo (Marta Suplicy ou Erundina) e como se verá nas próximas eleições presidenciais (Lula ou Ciro). Em Porto Alegre, já há algum tempo existe a troca do boi garantido pelo boi garantido, saindo o boi que arranca as tripas e entrando o boi que as tripas arranca.

Na micarê local, o boi azul ainda teima em dar chifradas no boi vermelho, em uma terceira arena ('3º turno') que nunca acaba. Porém, se nos lembrarmos da última disputa, veremos que as fantasias estão trocadas. Enquanto o 'burguês' Roriz era acompanhado por fubicas caindo aos pedaços, o pretendente à reeleição do 'governo popular e democrático', Cristóvam Buarque, era acompanhado em carreatas por carrões nacionais e importados, todo o Plano Piloto e o Lago eram um vermelho só, 'honestamente' boi garantido. O cerrado, efetivamente, criou o bumbá da vaca louca.

(7) Balseros são fugitivos cubanos que se lançam ao mar em pequenas embarcações, por vezes simples bóias adaptadas de câmaras de pneus, ou troncos de bananeiras, com risco da própria vida. Metade dos fugitivos, durante o auge da crise econômica cubana, em 1994, tinha menos de 30 anos. Para evitar a fuga em massa, os EUA firmaram um acordo com Cuba, para que apenas um determinado número de pessoas possam satisfazer o desejo de abandonar o “paraíso” cubano.

(8) Mais de duas décadas após a desmobilização de grupos marxistas armados na América Latina, assiste-se hoje, no Brasil, a um movimento inédito em todo o mundo: a “guerrilha desarmada”. Enquanto na Espanha o grupo terrorista ETA anda mais armado que nunca para continuar a promover suas ações revolucionárias, o mesmo acontecendo com as FARC na Colômbia, O mesmo não se pode dizer do Brasil. Aqui, os revolucionários das décadas de 1990 e de 2000 são velhos conhecidos de todos os brasileiros, não precisam utilizar codinomes para esconder suas caras, como nas décadas de 1960 e 1970, nem usar máscaras, como o Subcomandante Marcos, atual líder dos zapatistas. Os novos revolucionários passeiam com desenvoltura junto à esfera dos três poderes, são incensados pela mídia, recebem vultosas somas de dinheiro público e de dezenas de ONGs para promover a desestabilização política e social do país. Pregando a eliminação do sistema econômico atual – vale dizer, a destruição de nossa própria nação e de nossa brasilidade –, para colocar em seu lugar um sistema socialista de produção que não deu certo em nenhum lugar do planeta, nossos revolucionários se dão ao luxo de promover as maiores barbaridades no país sem precisar utilizar um tiro de garrucha sequer. Os barbudos revolucionários brasileiros inventaram a bem-sucedida “guerrilha desarmada”.

O MST é o ícone da “guerrilha desarmada” brasileira. Atuando em praticamente todos os estados brasileiros, consegue mobilizar o equivalente a uma Marinha brasileira em um único dia, para realizar protestos em todas as capitais, tomar bancos e prédios públicos, fazendo centenas de reféns, sob o olhar complacente das autoridades. Com métodos guerrilheiros, o MST invade fazendas produtivas, promove a destruição de benfeitorias no campo, assalta caminhões carregados de alimentos nas estradas, e nem um “militante” sequer é preso. Utilizando-se apenas da massa humana, incluindo crianças, mulheres e pessoas idosas, a avalanche humana é a única arma utilizada com sucesso pelo MST, ciente de que nada, exceto um batalhão do Exército disposto a atirar para matar, poderá deter a força coordenada da massa de centenas de pessoas dispostas a tudo. Quando finalmente o poder público, depois do estrago feito, se dispõe a expulsar os meliantes, o MST se utiliza dos métodos mais sujos para enfrentar a polícia, como, por exemplo, colocando crianças e mulheres grávidas à frente da força policial, para impedir a reintegração de posse do terreno objeto de invasão e esbulho. Devido a este jogo sujo, a “guerrilha desarmada” obtém tanto sucesso, pois os governadores ficam manietados, relutantes em empregar a força policial para cumprir decisões da justiça, com medo da ocorrência de outros “eldorados do carajás”. Assim, passando por cima da ordem pública, rasgando a Constituição, pregando o ódio entre brasileiros, sem nenhuma reação das autoridades, se apenas com foices e bandeiras nas mãos o MST consegue tanto, por que essa “guerrilha desarmada” haveria de utilizar armas e atentados terroristas tradicionais para conseguir seu intento?

(9) Raymond Carr, in “A Guerra Fria na América Latina”, ensaio publicado no livro “The Cold War”, editado por Evan Luard.

(10) Folha de S. Paulo, 14 de junho de 2001.

(11) Os “Grupos de Onze”, ou “Grupos de Onze Companheiros” eram “comandos nacionalistas”, que foram formados em todo o país em 1963, a mando do ex-governador gaúcho Leonel Brizola. Quando ocorreu a revolução de 1964, havia centenas desses grupos espalhados em todo o país. Os “Grupos de Onze” tinham como missão eliminar fisicamente todas as autoridades do país, civis, militares e eclesiásticas, quando fosse desencadeada por Brizola a revolução socialista no Brasil.

(12) Comité de Defensa a la Revolución cubana – CDR (Comitê de Defesa da Revolução cubana): em Cuba, há torno de 7 milhões de membros do Comitê, para que cada um vigie seu vizinho, para uma população de 11 milhões. Não é de admirar que o povo cubano vá em massa às ruas para aplaudir os longos discursos anticapitalistas de Fidel Castro; ninguém teria coragem de contestar “el comandante”. Na última eleição para presidente, Fidel teve 100% dos votos dos delegados – uma marca que, certamente, nenhum papa teve até hoje.

(13) A Revolução Cultural foi anunciada em 1966 por Mao Tsé-Tung, com o apoio do exército. Foi um novo período de luta entre correntes partidárias, no qual os jovens deveriam criticar seus superiores e derrubar “velhos hábitos, as velhas idéias e a velha cultura”. Milhões de estudantes maoístas criam uma “guarda vermelha”, que, empunhando o “livro vermelho” de Mao passam a humilhar e matar os opositores do líder máximo e a queimar prédios. Intensificou-se o estudo de Marx, foram apresentadas óperas comunistas e canções revolucionárias. Dois anos depois (1968), o movimento estudantil sacudiu o Ocidente, como o maoísmo da juventude francesa, com reflexos no Brasil, junto com a “OLAS” de Fidel Castro. A Revolução Cultural ocasionou 10 milhões de mortes, além de tortura física de presos, como o arrancamento da genitália (testículos e pênis), que eram assados e comidos pelos torturadores, o tal “churrasquinho chinês”. Os “livros vermelhos se tornaram o 2º maior best-seller de todos os tempos, superado apenas pela Bíblia Sagrada, com a venda de 900 milhões de exemplares.

(14) O “Grande Salto para a Frente” foi um plano econômico do governo comunista de Mao Tsé-Tung (1958-1959), que pretendia acelerar a industrialização da China e “superar a Grã-Bretanha em apenas 15 anos”. Foram criadas comunas populares no campo, que deveriam produzir aço em pequenos fornos para fabricar ferramentas. O Plano, no entanto, foi um completo fracasso: a produção industrial caiu e as colheitas foram péssimas. Mao renunciou à presidência da China e foi substituído por Liu Shaoqi. Junto com a “Revolução Cultural”, o plano fez de 30 a 60 milhões de vítimas. A reação de Mao veio em 1966, com a “Revolução Cultural” e seus “livros vermelhos”.

(15) A “shisha” é uma espécie de cachimbo sofisticado, com mangueira e filtro d’água, comum nos bares muçulmanos, com a qual o fumante poderá tragar fumaça de fumo ou de hashishe.












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