[Entropia - medida da quantidade de desordem dum sistema.]
Em nosso sistema entrópico, os valores perdem significado, a aparência
domina, em detrimento do conteúdo; o significante, do significado.
O que importa é o destaque dado ao vocábulo em si, sem que esse tenha
consonância necessariamente com a realidade do fato, ou do universo
interior dos sentimentos, das idéias, das emoções, assim como dos
arquétipos e dos deuses numinosos.
Tudo isso perde valor diante do momento, do argumento, que extrapola
qualquer medida.
A autoridade, conquistada por herança genética, social, econômica, ainda
que para tal se necessite de reforços acadêmicos, profissionais,
eleitorais, políticos, familiares, grupais, reina soberana, contra
princípios do genuíno capitalismo, que se assenta sobre a livre
concorrência; produção em quantidade necessária e suficiente para reduzir o
custo unitário de produção; capacidade, conhecimento, competência
individual; justiça independente e altaneira; legislativo igualmente
independente e lúcido; órgãos de segurança policiais e militares preparados
a nível cultural, econômico, psicológico e técnico-profissional.
A cultura, na arte, na música, na literatura, para não mencionar a mídia,
resvala pelo desvão imediatista do sucesso ao gosto do público, que, por
sua vez, segue parâmetros made in USA , amplamente difundidos e diluídos
por indústrias multinacionais ostentadoras de elevadas concentrações de
capitais e de padrões sub-culturais exportados ao mundo globalizado ;
fecha-se o círculo, e nada penetra ou sai do próprio.
Vencer a qualquer custo é o padrão-mor, cansativamente explorado pela
indústria cinematográfica-publicitária de Holywood e órgãos correlatos.
Always winner, never looser or outsider.
Este parâmetro, no entanto, conflita direta e agressivamente com toda uma
tradição da cultura digna desse nome, que não se submete a padrões
ditados, estabelecidos, pelos donos do poder, do capital, do statu quo ,
dos regulamentos e das normas.
O poeta, o escritor, o artista, destaca-se pela sua consciente lucidez no
seio do statu quo estabelecido, padronizado e produtivo . Como se
apenas a produção do burguês, comerciante, industrial, publicitário etc,
fosse digna desse nome! Como se o poeta, com sua obra liberta, metafórica,
transcendente, não representasse o elemento único, transmutador da ordem
entrópica, morta e seca, o salvador vibrante, que conduz os membros do
rebanho à aurora solar e lunar, atemporal, redentora!
O que Carlos Drummond de Andrade, com o seu eu lírico gauche por
excelência, diria desse estado de coisas quadrático , normático , dúbio,
nivelado por baixo, a pretensa paz do rebanho (viva o Big Brother)!?...
Coitado, não agüentaria... sairia de fininho ... para o mundo da poesia!