Usina de Letras
Usina de Letras
335 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 62742 )
Cartas ( 21341)
Contos (13287)
Cordel (10462)
Crônicas (22561)
Discursos (3245)
Ensaios - (10531)
Erótico (13585)
Frases (51128)
Humor (20112)
Infantil (5540)
Infanto Juvenil (4863)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1379)
Poesias (141061)
Redação (3339)
Roteiro de Filme ou Novela (1064)
Teses / Monologos (2439)
Textos Jurídicos (1964)
Textos Religiosos/Sermões (6293)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Ensaios-->Painéis de escritores e a fila do gargarejo -- 24/12/2001 - 16:58 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sabe show de rock& roll, ou programa de auditório? Quando as tietes e/ou jovens com mãos erguidas, com o mindinho e o indicador a fazer chifres de demo, ficam ali, logo abaixo dos pés dos artistas, babando e pedindo um olhar que seja?

Pois é, trata-se da chamada 'fila do gargarejo'. Acho que, sem muito esforço, pode-se traçar um paralelo entre aquela fila e os painéis de escritores que povoam a Internet. Senão vejamos.

A relação é a mesma - artista versus público. O que varia aqui é a colocação dos protagonistas. No teatro, os artistas ficam lá em cima do tablado, como num Olimpo, e o público logo abaixo, arrancando cabelos e esganiçando vozes - em geral com melhor postura que a dos que lá foram ouvir a peso de ingressos.

Já nos sites, as posições estão invertidas. O público está no palco, no alto do tablado. Os supostos 'artistas', estes estão na platéia, babando atenção, esganiçando vozes - às vezes de pior qualidade da que é apresentada pelo público no palco, às vezes nem tanto.

No teatro, os poucos que chegam à fila do gargarejo - depois de trocarem tapas, encoxadas, rabos-de-arraia e pernadas com os que lhes estão à frente - ali se postam aos berros: - Lindo, me dá um autógrafo, faz uma rubrica na minha nádega esquerda! E precisam ser rápidos e eficientes em seus apelos, pois logo alguma, ou algum brutamontes, chegará aos impropérios e lhes tomará o precioso lugar. E a tietagem tem que recomeçar a maratona novamente.

E assim é nos sites, ou sítios, literários, quando o público - isto é, os tais escritores - quer chegar até o gargarejo - isto é, às poucas páginas onde colocam seus apelos - e lá exprimir suas aflições aos artistas - isto é, o público leitor: - Lindo, lê o meu texto, comenta o conteúdo senão eu não durmo! Olha só o que eu publiquei!

Como no teatro, os do palco jogam beijos aos mais exaltados - na mais pura hipocrisia e/ou vaidade, salvo os raríssimos, ou não tão raros, apreciadores de bons espetáculos. E os gargarejantes, quando contemplados, alcançam verdadeiros orgasmos: - Ele me viu, ele olhou pra mim! E não mais lavarão as calcinhas, como a deixar registrado o momento da suprema atenção do ídolo.

Cá nos sites, os gargarejantes - leia-se escritores - em sua maioria, ou quase, deixam a casa de espetáculos na mais completa rouquidão. Esgoelaram-se a não mais poder, guardam preciosos autógrafos, ou rubricas. Voltam aos lares como Quixotes vitoriosos, a embalar suas vaidades em secretos moinhos de vento.

Eu disse maioria? Perdão! Ledo engano. Lá no gargarejo o espaço é pouco. Mesmo com o 'turn-over' a tapas e beijos, poucos conseguem, ou se dispõem, a lá ficar. Como no teatro, a maioria senta-se calma nas fileiras mais distantes do palco, onde podem observar melhor o show, e apreciar seus melhores momentos.

Brindemos à fila do gargarejo que, seja no palco ou no site, compõe-se de inquilinos das periferias - sejam elas sociais, ou conjunturais - que, por não se sentirem inseridos no contexto, nada mais lhes resta a não ser implorar atenção - de que todos precisamos, diga-se de passagem, na casa, na rua, na fazenda, ou numa casinha de sapé.

Locais onde o público é o artista e o artista é o público; ou não há público, só artista, ou só público e nenhum artista; ou nem se trata de arte, mas de gente com mãos estendidas, como solitários botes salva-vidas, procurando náufragos que lhes acompanhem a lida.

Como diria um velho guerreiro, que teria quilômetros de crônicas a escrever:
- Vocês querem bacalhau?

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui