Era uma vez um escritor que queria ser poeta. Queria não por vontade própria, mas porque havia se apaixonado. Ele escrevia bem, pensava que sim, criava mundos fantásticos e personagens maravilhosos e marcantes. Este homem que escrevia e que queria poeta ser, vivia modestamente. Não era um sujeito que se poderia chamar de bonito, talvez simpático e divertido lhe convinha melhor, e por assim se achar, era por conseqüência, tímido , e os tímidos ,sabemos bem como são. Mas isto não lhe causava espanto, tanto que não se aventurava às artes do amor.
Este pretenso poeta, que não sabia sê-lo, escrevia romances que agradavam a um bom número de pessoas, amigos melhor dizer. Ele imaginava as histórias e fazia delas as suas aventuras. A bela loira e a fogosa morena que eram loucas por ele e que não lhe davam sossego, viviam nas paginas dos seus livros e na ponta da pena e dentro do seu coração, á no fundo, escondido, trancado, invisível para todos. Escrevendo ele tinha o mundo e tudo o que nele existia. Quem bem o conhecia, não desconfiava do seu sonho, fato que bem escondia com sorrisos e frases de efeito.
Um dia, o destino ,ou seja lá o nome que se queira dar para a paixão, colocou no seu caminho uma bela e maravilhosa mulher. Dizer que palavras lhe faltaram, seria desmerecer a inteligência do escritor de romances, homem acostumado a lidar nos seus livros com os casos mais complicados de coração e paixões.
Diante daquele ser que seus olhos julgaram não existir e que de forma alguma lhe dirigiria
palavra, muito menos um simples ola, recolheu-se, não conseguia juntar letra com letra, os fonemas fugiam e as frases não se completavam.
O atormentado escritor tentava poetizar na folha e rabiscava palavras sem sentido
aparente. Ele começou utilizando o verbo querer, eu queria teu amor, eu queria teu prazer, eu queria te amar, era tanto querer que até ele não quis querer tanto, só queria um pouquinho, só queria um sorriso, um OI, tudo bem como vai, para somente baixar os olhos e imaginar que fora bondade apenas.
E agora José, o amor aconteceu, a paixão floresceu e o coração se agitou pulsando fortemente. Mas o que estava acontecendo, porque não conseguiu deixar de pensar na mulher que só sabia o nome e nem quem era. Mas isto seria fácil de desvendar, era só perguntar, puxar conversa, usar aquelas velhas cantadas infalíveis, que todo o homem deveria saber. Acontece que os homens não sabem pensar em outro assunto que não seja sexo. Fórmula básica para as mulheres:
(Mulher =sexo X prazer = + sexo)
Esta é a fórmula que esta dentro da cabeça dos homens. Não ha como separar uma de outra. É impossível ser amigo das mulheres, é sexo, sexo e sexo.
Assim pensava nosso escritor. A sua amada, ou melhor, aquela por quem nutria um sentimento até então desconhecido.
Quando a viu pela primeira vez, achou apropriada para ser mais uma das suas personagens. Ela era alta, olhos castanhos, seios médios, cintura fina e nádegas perfeitamente perfeitas, pernas longas de coxas roliças, tornozelos finos, combinando com os delicados pés. Tudo fora cuidadosamente anotado no seu pequeno bloco de rascunho, cada pequeno detalhe, o jeito de sorrir abertamente, o modo como mexia o quadril, parecendo que ia se quebrar de repente.
A história já estava pronta, faltava apenas os personagens. A bela preenchia os requisitos exigido para a personagem principal, restava
agora conhece-la pessoalmente e isto parecia tarefa ingrata para alguém tímido. O que iria dizer para ela. Poderia falar a verdade, olha, sou
escritor e queria fazer de você uma das minhas personagens, topas? Ela poderia aceitar ou achar que era uma cantada da mais idiotas ,e o mandaria se afastar.
A construção da personagem carecia de mais detalhes que lhe escapavam: gostos, defeitos, qualidades, religião, vícios, sonhos, crenças,
uma série de pormenores que a desqualificavam, restando a ele sair em busca de informações.
Até então a poesia mantinha-se distante, esperando, quieta, com as suas rimas, seus versos complexos e as suas peculiaridades próprias. A poesia estava em toda a parte, no azul do céu, no planar de uma folha que pendia solta ao vento, ou no despetalar de uma rosa que ao chão cai, no luar, nas estrelas, nas nuvens, na chuva que despencado do alto e corre pela beira das ruas e feito lágrima nos olhos daquele que ama. Mas poetizar não para todos os mortais, o poeta um anjo que Deus criou para tentar explicar o inexplicável, o inatingível, o incompreensível, o amor impossível.
Ele não queria saber de poesia, era um escritor de romances e novelas, seus personagens tinham seus destinos traçados por ele que decidia
quem deveria amar e quem deveria sofrer, sabemos nós que amar é sofrer mesmo nos braços do ser amado.
Sentado diante de seu micro, ele começa a construir o seu personagem que ,desde que vira pela primeira vez, jamais a esquecera. Não deu por
este detalhe. Julgou que ela seria a personagem inesquecível, aquela que os leitores amariam a primeira linha. Pobre homem este escritor, a paixão já lhe dominava os atos todos, mesmo em pensamento, já estava poetizando.
Poesia: adv. m. Arte de escrever em verso; Verso; s.m.( l. versu). Unidade formada por uma ou mais palavras, obedecendo às regras do
ritmo, da rima. no interior de um conjunto. 2. O gênero poético; poesia.
Ele preparou-se para poetizar. Pensou um pouco e começou&
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O amor às vezes é um drama
para quem não tem grana,
querem fazer um programa,
e acabam se amando na grama.
Todo aquele que ama
sabe que o amor é uma chama
que todo o apaixonado clama
e que a todos proclama.
Os amantes não querem a fama
fogem de quem os difama
não querem amor na lama
querem-no sobre a cama.
O ato de amar torna-se um melodrama
quando se esta a espera de um telegrama
que virá com fios de ouro, um filigrama,
amor em Roma ,belo anagrama.
O amor não é um drama
muito menos um melodrama
parece confuso feito diagrama.
Mas a bela dama que ama
sente no coração a chama
que queima e inflama.
Sem pressa, chama prá cama,
o homem que tanto ama.
Assim que acabou o poema, teve vontade de apagar tudo, era a poesia mais idiota que poderia existir, e jamais encantaria a sua amada com tamanha baboseira. Releu várias vezes e não conseguiu mudar
nada. Deixe como está, disse para si mesmo, talvez as poesias sejam assim, rápidas, apaixonadas, idiotas e aparentemente sem sentido. Acreditou que as mulheres seriam tolas e românticas, e qualquer
besteira parecida com poesia, poderia derreter-lhes os corações.........
Deveríamos ter pena deste pobre sofredor? Talvez. Mas, quem mandou não saber segurar suas emoções, o amor, todos sabem, é traiçoeiro, utiliza as flechas certeiras do cupido e a fragilidade que tem o coração.
Existem coisas nesta vida que não deveriam existir. Por exemplo as paixões. Não há no mundo sentimento tão inexplicável, desconhecido até por quem deveria conhece-lo, falo dos poetas. Este tipo de gente acredita que só porque sabem rimar as palavras, fazer versos melosos, se consideram os maiorais. A gente sabe que não é bem assim.
Voltemos ao nosso pretenso poeta, que continua, desesperadamente, tentando poetizar.
O nosso poeta desconhece que quando o amor acontece, sem sombra de dúvida , ele não é igual para todos.