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Ensaios-->COSMOVISÃO LITERÁRIA -- 22/08/2002 - 14:36 (Moura Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
COSMOVISÃO DA LITERATURA DE MOURA LIMA.

Mário Ribeiro Martins*

Moura Lima é hoje um dos maiores nomes da literatura nacional. Considerando que cada Estado da Federação possui dois ou três nomes ilustres nesta área, é fácil chegar-se a esta conclusão, mesmo porque, há determinados Estados, onde não se encontra nenhum. Morasse ele no eixo Rio/São Paulo já teria sido, certamente, um dos recomendados pela revista VEJA, em sua coluna especializada.

Para ASSIS BRASIL, festejado escritor e crítico literário brasileiro, que considerou o romance “SERRA DOS PILÕES” como a melhor obra do final do século no país, Moura Lima situa-se, quanto ao aspecto da linguagem, estrutura frasal e arquitetura do imaginário, entre ADONIAS FILHO E GUIMARÃES ROSA.

Já para o professor CLÓVIS MOURA, autor de “INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE EUCLIDES DA CUNHA” e catedrático da Universidade de São Paulo(USP), “SERRA DOS PILÕES” projeta-se como unidade literária de valor destacado e pelas qualidades literárias irá compor o elenco dos trabalhos mais significativos da nossa novelística”.

Assim, Moura Lima pode ser colocado entre os quarenta(40) melhores contistas e romancistas brasileiros. Com “MUCUNÃ-CONTOS E LENDAS DO SERTÃO”, completou a sua famosa trilogia(premiada nacionalmente), que é constituída também de “SERRA DOS PILÕES-JAGUNÇOS E TROPEIROS”(primeiro romance do Estado do Tocantins) e de “VEREDÃO-CONTOS E LENDAS DO SERTÃO”.

Portanto, devo assinalar que esta cosmovisão da literatura de Moura Lima é fruto de muitas leituras, de muitas vivências e de muito labor. E isso nos leva a afirmar que, dificilmente um livro raro não é encontrado na Biblioteca de Moura Lima.

Quando estava procurando “VIAGEM AO TOCANTINS”, de Júlio Paternostro, publicado pela Companhia Editora Nacional de São Paulo, em 1945, dentro da famosa coleção “BRASILIANA”, volume 248, fui encontrá-lo num único “sebo”de São Paulo. Ao visitar Moura Lima, para dar notícia do “eureka”(achei) e da pequena fortuna que paguei em São Paulo, lá estava o livro em seu biblioteca.

Observe-se que do Médico Sanitarista Júlio Paternostro, ex-funcionário do Ministério da Saúde, em convênio com a Fundação Rockfeller, dos Estados Unidos, não dá notícia, nenhuma das Enciclopédias Nacionais, nem a Delta, nem a Barsa, nem a Mirador, nem a Abril ou qualquer outra, o que é um esquecimento imperdoável, pela sua importância na questão do estudo do problema da febre amarela.

Moura Lima dá notícia de tudo e de todos. Esta visão cosmopolita do autor de “POEMAS ERRANTES” e do imortal SERRA DOS PILÕES é impressionante. Não há coisa melhor do que um “papo”com o Moura. Sua visão do mundo, do homem e da vida é algo salutar. E é exatamente isto que ele passa para os seus livros.

Ler Moura Lima é sentir o pulsar da vida. É andar pelos grotões do sertão tocantinense, acompanhado de figuras lendárias, de caboclos, de homens rudes e de sábios formados pela universidade da vida.

Sou um homem saído do sertão bruto da Bahia(Ipupiara), para os grandes centros, entre os quais, Londres, Paris, Madrid(onde estudei em 1973), há quanto tempo não ouvia falar em “mucunã”! Eis que, Moura Lima me traz de volta “MUCUNÓ. E exatamente no título de um de seus mais belos livros!

MUCUNÃ não é apenas o negro de confiança do Coronel Josino Candirou. Mucunã é tudo. É o retorno ao passado.

É o reencontro com o grande mestre maranhense, oriundo de Riachão, em 1860, PARSONDAS DE CARVALHO. Esquecido pela sua irmã Carlota, em seu livro “O SERTÃO”, publicado em 1924. Mas o grande mestre sertanejo, que varou o sertão maranhense e penetrou na região do Jalapão, até as nascentes do “Rio do Sono”, estudando a flora, a fauna e a geografia física, foi lembrado por Rui Barbosa quando assumiu o JORNAL DO BRASIL, do Rio de Janeiro, em 1893, como um de seus redatores, mas que terminou por morrer nos sertões de Montes Altos, no Maranhão, em 1926.

O mesmo Parsondas de Carvalho que, estando de férias em Conceição do Araguaia, no Pará, em 1900, viu a Professora Leolinda Daltro conduzir para o Rio de Janeiro, sem armas e sem ordem de prisão, o famoso e brabo Coronel José Dias tão procurado pela Polícia do Norte de Goiás e Sul do Maranhão, conforme narrativa de Dunshee de Abranches, em “A ESFINGE DE GRAJAÚ”.

E agora, mais de cem anos depois, PARSONDAS DE CARVALHO foi magnificamente REDESCOBERTO por Moura Lima em seu conto “UM MESTRE DO SERTÃO”, dentro deste extraordinário livro “MUCUNÓ!

E o conto “ASSOMBRAÇÃO”? É uma obra-prima, que nos faz lembrar do grande escritor Jorge Luis Borges, no seu vislumbre de eternidade: “Nenhuma doutrina filosófica ou religiosa detém a palavra final do ser...”

São os muitos méritos de “MUCUNÓ. Lê-lo é conhecer “Maria Pequetita”, “O Cavalo Canga”(mito exclusivo do Tocantins, resgatado pelo autor para o folclore brasileiro), “O Salto da Onça Pintada”, “A Tapera da Caveira” e tantos outros contos fabulosos. Este é Moura Lima, um talento multiforme, em que as vogais e as consoantes reunidas se transformaram magicamente em ornamentos coloridos para produzir “MUCUNÓ.

Não se pode deixar de falar em “NEGRO D`ÁGUA”, outra preciosidade, coletânea constituída de um conjunto de contos da mundologia dos mitos e lendas do Tocantins. É uma obra de grande importância para a cultura popular, que de certa forma corrobora a assertiva do folclorista brasileiro Mário Souto Maior, ao referir-se à obra do escritor tocantinense: “É uma riqueza exuberante, em que se tratando de costumes, folclore e linguagem regional. É uma obra que se projeta para o futuro, como relíquia e marco pioneiro da cultura popular do Estado do Tocantins”.

Como se não bastasse, surge agora do escritor Moura Lima “CHÃO DAS CARABINAS-CORONÉIS, PEÕES E BOIADAS”, inspirado no morticínio dos “Barbosa”, ocorrido na Vila do Peixe, outrora norte de Goiás, hoje Tocantins, na década de 1930. Trata-se de um romance vigoroso, que traz à luz do século XXI e da literatura brasileira, o terrível massacre e fecha o círculo do jaguncismo no Vale Araguaia-Tocantins. Era o livro que faltava para completar a história do jaguncismo e dos bárbaros coronéis das comunas do sertão do Norte de Goiás, tão bem iniciada por Bernardo Élis, com “O TRONCO”, depois Eli Brasiliense, com “UMA SOMBRA NO FUNDO DO RIO”e agora terminada por MOURA LIMA, com “SERRA DOS PILÕES” e “CHÃO DAS CARABINAS”.

Assim é a grandeza da obra de Moura Lima, que atravessou fronteira e foi saudada com entusiasmo pela crítica e pelos leitores. Enéas Athanázio, de Santa Catarina, escritor e estudioso do regionalismo, dá o seu testemunho histórico do pioneirismo da literatura mourana, ao dizer: “A obra literária de Moura Lima, de repente, lançou o Estado do Tocantins, no mapa da literatura ficcional brasileira”.

Palmas, Tocantins, janeiro de 2002.
*Mário Ribeiro Martins
(mariorm@terra.com.br)
Autor do “Dicionário Biobibliográfico de Goiás” e “Dicionário Biobibliográfico do Tocantins”. Professor Universitário e Crítico Literário. Procurador de Justiça. Membro da Academia Goiana de Letras e da Academia Tocantinense de Letras.

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