Resenha - “El diseño humorístico: la sátira política y de costumbres.”
No início do século XX, os periódicos humorísticos faziam mais que apenas satirizar a vida política: em fato, eles eram na verdade um poderoso instrumento de crítica social. Indo além do imediatismo da ilustração, a sátira se aproveitava de uma situação ou de um tema ridículo, e seu traço era mais complexo e divertido, mais trabalhado.
Em princípio, esses impressos não tinham uma estrutura gráfica muito diferenciada. Basicamente, o que se fazia era copiar a estrutura já desenvolvida para os jornais comuns, sem grandes inovações. Aos poucos, porém, a página ganhou um novo significado e se converteu em mais uma ferramenta de trabalho: a diagramação começou a ser estudada e trabalhada; desenhos, títulos e textos, tudo se fundia a fim de criar uma identidade visual singular e impactante.
Na Alemanha, esse tipo de publicação se desenvolveu largamente. Usando como temática as “trapalhadas políticas” e, principalmente, a guerra, surgiram clássicos como Fliegente Blätter, primeiro jornal satírico alemão, nascido na primeira metade do século XIX. Outro jornal de destaque foi o Kladdearadatsch; fundado em 1848, esse periódico ferino deu ao desenho uma nova importância: agora, ele não era um simples “suporte do texto”, mas um elemento fundamental. Ainda na Alemanha, o Jugend inovou ao usar a impressão colorida. No bojo dessa conjuntura, surge o Simplissimus, desenho de grande nível artístico.
Na frança, a sátira teve início como uma “comédia da vida privada”, enfocando as cocotes, o cinismo típico da Belle époque e outros temas mundanos; depois, evoluiu-se a uma profunda crítica social, discutindo-se a miséria, as injustiças e a corrupção. Como destaque, as publicações Punch e Vanity Fair.
O desenho humorístico italiano se destacou mais pelas temáticas abordadas que pela tosca qualidade do traço. Entretanto, sobressaiu-se Scalarini, um rico desenhador de vinhetas que elaborou um traço mais cru e angustioso.
Desenvolvido em diversas partes da Europa, o desenho satírico se alimentou de inúmeras temáticas, e parecia refletir o conturbado momento por que passava o “velho mundo”: diante da guerra, rir da própria desgraça parecia ser o único remédio. Entretanto, ao fim da Segunda Guerra, a reflexão sobre as mazelas sociais começou a ceder lugar ao partidarismo, e muitos do jornais satíricos europeus se transfiguraram em periódicos partidários. Iniciou-se, então, sua decadência, e a maioria das publicações não resistiu a primeira metade do século XX.