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Ensaios-->Instituto Liberal: A crise cambial brasileira -- 20/09/2002 - 17:18 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Em Usina de Letras, há um monte de iluminados que têm solução para tudo, pois tudo sabem, discorrendo com desenvoltura 'do cocô à bomba atômica' - como diria Jô Soares. Eu, como não entendo nada de câmbio, procuro ler o que conceituados professores têm a dizer sobre o assunto.

Por isso, acho bom você, que pouco sabe sobre o tema, dar uma olhada no artigo do Prof. de Economia Ricardo Bergamini, transcrito abaixo.

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'Para os que tiverem de saco cheio em receberem explicações e justificativas diárias da Fátima Bernardes (Jornal Nacional) sobre o câmbio flutuante que somente sobe (na economia do FHC os marinheiros voam), sugiro ler o meu artigo abaixo escrito em 03 de novembro de 1998. Ano em que os idiotas e estúpidos tesoureiros do governo começaram a identificar uma crise cambial sem precedentes na história do Brasil, iniciada em janeiro de 1995 com a orgia do governo do Sr. FHC.

A CRISE CAMBIAL BRASILEIRA

Ricardo Bergamini

Diariamente temos assistido através dos meios de comunicação comentários de economistas e jornalistas, discorrendo sobre a crise internacional que vem assolando o mundo, e confesso, ficar pasmo com tanta simplicidade para explicarem um assunto de tamanha complexidade, muitos escrevendo sobre um assunto sem terem um mínimo de conhecimento da matéria, de difícil de entendimento, inclusive para economistas.


Em vista do acima exposto observo ser a crise financeira mundial atual comentada e, não obstante, conduzida, tanto pelo governo, sociedade em geral e empresas, de uma forma primária e simplória, pela incapacidade de entendimento profundo da crise, conduzida por burocratas de terceiro escalão, com medidas de anestesia. Com certeza, um Presidente Estadista, que entendesse o que está se passando no mundo já teria trazido a questão para o seu comando único, com a convocação de um gabinete extraordinário de celebridades em economia e, principalmente, em economia internacional, para colaborar na condução dessa mudança mundial, dos padrões e valores das relações econômicas, financeiras, monetárias e cambiais as quais iremos passar nos próximos anos.

As finanças internacionais são um jogo com dois grupos de jogadores - os políticos e burocratas nos governos nacionais e os presidentes e tesoureiros das firmas gigantescas, grandes, médias e pequenas. Os funcionários do governo desejam vencer eleições e garantir um lugar seguro na história dos seus países. Os presidentes e tesoureiros das sociedades anônimas querem auferir lucros - ou pelo menos evitar perdas.


As oportunidades de lucro ocorrem porque as políticas monetárias e fiscais nacionais são inconsistentes entre si e, assim, obrigam a uma mudança nos valores da moeda nacional. Mas as autoridades nos diferentes países, normalmente, discordam quanto a qual país tomará a iniciativa em mudar o preço da moeda nacional, de modo que a mudança necessária, freqüentemente, se atrasa muito. As fortunas comerciais são feitas com base na capacidade de prever tais mudanças nos valores das moedas nacionais, ao passo que os políticos se desgastam com o resultado dessas mudanças.

Desvalorizações e valorizações cambiais foram freqüentes, no primeiro mundo, na década de 1970. Crises nas taxas de câmbio ocorreram em novembro de 1967 (libra), maio de 1968 (franco francês), setembro de 1969 (marco alemão), abril de 1970 (dólar canadense), maio de 1971(marco alemão, florim holandês e, franco suíço ) e junho de 1972 (libra e lira italiana ). Nesse período os países do primeiro mundo se ajustaram gerando um consenso, entre eles, de auto-consulta, criando o conhecido G7, cuja base de ação, a partir daquela crise, é a de sempre transferirem seus problemas internos para países subdesenvolvidos, atuais emergentes (mudança de mosca).

A exportação de problemas nacionais, nos países desenvolvidos, é uma forma clássica de comportamento internacional. Votos estrangeiros não contam em eleições nacionais. Os custos políticos de providências internas que poderiam resolver um problema de desemprego, um problema de inflação ou um problema de indústria deprimida, normalmente, são mais altos que os custos políticos da exportação do problema. Assim o resto do mundo subdesenvolvido se transforma em escoadouro de problemas internos dos países desenvolvidos.

Alguns países não podem exportar seus problemas a menos que outros países os importem. Na Grande Depressão dos anos 30, as nações procuraram exportar seu desemprego através de políticas 'de passar para a frente o problema', com elevação de tarifas de importação e desvalorização das suas moedas. Mas poucos países estão ansiosos em, ou dispostos a, importar o desemprego, o que não é de surpreender.

A política monetária internacional é descentralizada. Cada um dos mais de cem produtores nacionais de moeda tem seus próprios interesses e objetivos. Cada banco central quer controlar a taxa de crescimento, do seu meio circulante, as políticas dos países diferem, o mesmo acontece com suas taxas preferidas de crescimento monetário.

As firmas e os indivíduos disputam seu próprio jogo contra o pano de fundo dos valores em modificação das moedas nacionais Tomam empréstimos em moedas cujo preço esperam que caia e fazem empréstimo em moedas que esperam que subam. Alguns administradores argutos de sociedades anônimas ganharam milhões de dólares - marcos alemães e franco suíços - para suas empresas em fins dos anos 60 e começos dos anos 70 antecipando, corretamente, as mudanças nas taxas de câmbio.

Parte do drama das finanças internacionais inclui um modo de lograr os regulamentos nacionais. Exemplo, os bancos americanos abrem agências em Londres para evitar os regulamentos das autoridades monetárias americanas, no seu próprio país. Os investidores italianos contrabandeiam liras em notas para a Suíça porque querem reduzir a parcela tributária cobrada pelo governo italiano. Os comerciantes de Hong Kong compram valores mobiliários em dólares em Nova York e os vendem em Londres porque o custo da libra é menor. Todas essas medidas destinam-se a aumentar a renda pessoal. Podemos afirmar que o drama das finanças internacionais reflete o contraste entre a política e a tecnologia monetária.

Os governos, freqüentemente, precisam de um acordo internacional para reverem instituições estabelecidas e renegociações desses acordos demoram anos e, hoje em dia, graças a comunicação instantânea e de baixo custo, os mercados nacionais de moedas, títulos, depósitos e ações denominados em várias moedas aproximam-se muito de serem partes de um mercado internacional. Em qualquer momento determinado, o preço das ações da IBM em Amsterdã e o preço das mesmas ações em Londres - e em centros estrangeiros onde elas são negociadas - só diferem em centavos do preço de Nova York. Os corretores de bolsas especializados compram essas ações onde elas são baratas e as vendem onde são caras, para lucrar com a diferença de preços e, assim, manter os preços. A tecnologia da moeda é internacional.

Antes da Primeira Guerra Mundial o sistema era descrito como 'padrão ouro'. Então, uma mudança de conceito levou a uma mudança no nome e 'padrão câmbio ouro ' tornou-se o termo aplicável para a situação entre as duas partes, pelo menos de 1946 a 1971, ele ficou conhecido como o Sistema de Bretton Woods. Essas mudanças em terminologia eram mais que mudanças na aparência, pois a relação sistêmica entre os componentes principais e os mecanismos para determinar as taxas de câmbio e fornecer o dinheiro para usar em pagamentos entre bancos centrais em diferentes países - também foi reformulado. .

Normalmente, as mudanças no sistema têm sido precipitadas em uma crise sobre os valores relativos das diferentes moedas nacionais. Isso ocorre quando os arranjos estabelecidos para financiar desequilíbrios de pagamento entram em colapso. Assim, a mudança para o padrão de' câmbio ouro' refletiu uma provável escassez de ouro sob o padrão ouro. O padrão ouro fracassou na Grande Depressão dos anos 30 devido a mudanças por demais freqüentes e desnecessárias nas taxas de câmbio. E o Sistema de Bretton Woods fracassou em 1971 porque foi incapaz de enfrentar os grandes desequilíbrios de balanços de pagamentos gerados pela inflação americana. O padrão atual é de crise, colapso e inovação. Não podemos esquecer que as transações internacionais têm um elemento comum que as torna singular, diferentes das transações internas - um dos participantes tem de negociar numa moeda estrangeira, e mercado de moeda estrangeiro é um mercado de moedas nacionais; o preço é a taxa de câmbio .

Existem dois tipos básicos de sistema de taxa de câmbio, duas maneiras básicas de organizar o mercado. Um deles envolve taxas de câmbio flutuante, o preço das moedas estrangeiras em termos da moeda interna sobe ou baixa em resposta a mudanças na oferta e procura, tal como os preços das ações no mercado de valores ou os de trigo na bolsa de mercadorias. A alternativa para uma taxa de cambio flutuante é um sistema de taxas de câmbio administrado, sendo este sistema mais complexo que o sistema de taxa flutuante, pois as autoridades têm de limitar as variações no preço da sua moeda no mercado de moeda estrangeira. Normalmente o Banco Central compra sua própria moeda corrente para impedir que o preço caia consideravelmente abaixo do ponto de referência e vende sua própria moeda corrente para impedir que o preço suba acima do ponto de referência, nesse sistema é comum o desequilíbrio do balanço de pagamentos, porque o ponto desejado é um ponto político e não técnico que seria com a taxa de câmbio flutuante. Se cada país permitisse a flutuação da sua moeda no mercado cambial, então a diversidade se refletiria nos movimentos das taxas de câmbio; as moedas dos países com a inflação mais rápida se depreciariam no mercado cambial. Mas a fidelidade às taxas de câmbio administradas é forte e as mudanças nas taxas de câmbio têm sido adiadas. A combinação de políticas financeiras de orientação interna e de sistema de taxa cambial administrada tem levado a - déficits e superávits - de pagamentos internacionais cada vez maiores. Uma moeda internacional é um componente necessário de um sistema de taxa de câmbio administrado; em contraste, um sistema de taxa flutuante não necessita de moeda internacional.

Uma questão importante é sabermos quais ativos se qualificam como moeda internacional: Por quê o ouro é uma moeda internacional, enquanto que a prata não é ? Por quê os ativos em dólares americanos são incluídos como moeda internacional, enquanto que os ativos em dólares canadenses não o são?

Os bancos centrais precisam de uma moeda internacional devido à sua preferência por taxas de câmbio administrada. Então, dada essa necessidade, cada banco central tem de decidir qual ativo tem as combinações de atributos mais atraentes na forma de renda de juro, futuro poder aquisitivo, custos de transação e custos de armazenagem. Até 1970, os estoques de ouro eram o maior componente de moeda internacional. Então, o aumento nos estoques externos de dólares americanos deslocou o ouro para segundo lugar, tendo dobrado essa relação apenas no período de 1970 a 1971. E a terceira forma de moeda internacional é o DES (direito especial de saques ) do FMI.

Durante muito tempo, pareceu que os ativos em dólares americanos tinham mais probabilidades de continuar aceitáveis e manter valor do que os ativos denominados em outras moedas correntes. Dólares podem ser usados para comprar bens e valores mobiliários americanos. Os Estados Unidos têm uma economia grande e produtiva, militarmente seguros e politicamente estáveis. E o dólar tem um recorde de tempo em manter seu poder aquisitivo. Paradoxalmente, à medida que os estoques de ativos em dólares aumentavam, os países tornavam-se mais relutantes em adquirir mais ativos em dólares, em parte porque a capacidade do Tesouro dos Estados Unidos de converter todos esses ativos em ouro estava ficando cada vez mais duvidosa. O aumento em estoques estrangeiros de dólares em 1971, atribuível à especulação sobre uma desvalorização já por demais atrasada, significou que muitos bancos centrais estrangeiros adquiriram mais ativos em dólares do desejado. Assim, reapareceu a escassez de moeda internacional, pois os bancos relutavam em adquirir mais ativos em dólares. E, em dezembro de 1971 os Ministros da Fazenda dos maiores países industrializados do mundo livre reuniram-se na Instituição Smithsoniana em Washington DC, concordando no realinhamento de suas taxas de câmbio. O Presidente Nixon chamou o Acordo Smithsoniani de 'O Maior Acordo Monetário da História'. Com esse acordo os Estados Unidos poderiam fornecer dólares para satisfazer as procuras de moeda internacional de outros países; havia uma oferta virtualmente inesgotável de Letra do Tesouro dos Estados Unidos e depósitos em bancos. Mas a capacidade dos Estados Unidos em fornecer ouro aos bancos centrais estrangeiros era limitada. O dilema americano era de que o país seria incapaz de distinguir, no planejamento de sua política de balanço de pagamentos, entre os países estrangeiros que satisfariam sua procura de moeda internacional aumentando seus estoques de ativos em dólares, e outros países que queriam aumentar seus estoques de ouro.

Por volta de 1965, o Governo americano começou a reconhecer que seu déficit no balanço de pagamentos poderia ser mais bem explicado em termos da procura externa de moeda internacional do que a supervalorização do dólar. Ele passou a compreender que novos arranjos institucionais tinham de ser criados e que satisfizessem a procura externa de moeda internacional sem forçar os Estados Unidos a incorrer em déficit. Finalmente, o ponto de vista americano prevaleceu, e se assinou um tratado internacional que providenciava a produção de nova moeda internacional, conhecida como Direitos Especiais de Saques (DES ) dentro da estrutura do FMI.. Mas os acontecimentos monetários à Guerra do Vietnã intervieram, de modo que os DES tornaram-se irrelevantes antes mesmo que se tornassem operacionais.

Como é comum nos dias de hoje a palavra ataque a uma determinada moeda e poucos saberiam explicar seu processo, cabendo uma breve análise sobre o tema. O ataque ocorre contra qualquer moeda existente no planeta, bastando que os analistas internacionais encontrem contradições entre os indicadores econômicos ruins de um país e o discurso político interno, de que tudo está sob controle, e não haja tomada de decisões para correções dos rumos. Analistas no mundo inteiro lêem apenas os balanços dos país os quais investem e, malgrado em muitos países as decisões são políticas e não técnicas, já que os políticos somente sabem ver pesquisas, independentemente, da gravidade do momento econômico do país. Em economia internacional, como as ações são exógenas, não bastam decisões com medidas certas, têm que serem medidas certas, no momento certo. Os governantes deveriam aprender que suas justificativas dadas para seu público externo, não poderão ser as mesmas bobagens ditas para seu público interno (vulgarmente chamados de povo). No Brasil chegamos ao extremo de ser dito, por um jovem diretor atual do Banco Central do Brasil que, o mercado deveria ter paciência visto que os novos gestores do BC estavam aprendendo a lidar com o novo sistema de câmbio flutuante, como se fosse algo novo no mundo. Assim sendo sugiro leitura completa sobre o tema, estudando os ataques sofridos pelos Estados Unidos, anteriores ao Acordo de Smithsoniana, em dezembro de 1971, cujo resumo abaixo descrevo. Sem antes sugerir, ao jovem diretor do BC despreparado no assunto, segundo suas próprias palavras, leitura de toda literatura sobre o tema, não só por sua função didática para seu aprendizado, mas também, por ser um tema empolgante, com mais de 70 autores de livros sobre a matéria, estando este humilde cidadão disponível aos interessados na indicação da bibliografia acima citada.

A partir de 1969 até o fim de 1971, a questão subjacente era se os Estados Unidos tomariam a iniciativa de reduzir seu déficit ou, se países europeus e o Japão tomariam a iniciativa de reduzir seus superávits. A Alemanha revalorizou o marco em setembro de 1969. O Canadá retornou a uma taxa flutuante em abril de 1970. Pelo final de 1970 e começos de 1971, a pressão especulativa contra o dólar começou a aumentar à medida que se tornava cada vez mais provável que as moedas européias e o iene japonês aumentassem de preço em termos do dólar. O que não estava claro era quando a mudança ocorreria e que países tomariam a iniciativa.

Em maio de 1971, a pressão especulativa contra os Estados Unidos aumentou ainda mais; a Alemanha e a Holanda seguiram o exemplo canadense, e passaram para uma taxa flutuante, enquanto a Suíça e a Áustria revalorizaram suas moedas em cerca de 5%. Mas os especuladores não se acalmaram e, a pressão contra o dólar aumentou ainda mais. Passados 3 meses, a especulação desviou bilhões e bilhões de dólares para ienes, marcos, francos suíços, libras etc.

A crise tornou-se crítica no começo de agosto de 1971, assim sendo em 15 de agosto o Presidente Nixon anunciou que, como parte da sua Nova Política, o Tesouro suspenderia as vendas e compras de ouro. Como o Tesouro dos Estados Unidos não tinha certeza que outros países revalorizariam suas moedas, o governo impôs uma sobretaxa de 10% às importações. E as autoridades monetárias americana deixaram claro que a sobretaxa permaneceria em vigor até que a estrutura das taxas cambiais fossem realinhadas, e as barreiras discriminatórias contra as exportações americanas fossem reduzidas, bem como exigindo da Europa e do Japão iniciar negociações para estudar um novo sistema internacional. Os europeus e japoneses pararam de fixar suas moedas em termos do dólar e elas começaram a subir de preço em termos do dólar. As autoridades americanas estavam satisfeitas com o sistema de taxa flutuante; à pressão para retornar aos sistemas de taxas administrada - e eliminar a sobretaxa tarifária dos Estados Unidos - partiu do exterior.

A suspensão das vendas de ouro americano era inevitável; a sobretaxa de 10% não era. Esta foi cobrada num período em que a maioria dos países estava numa recessão - e, como aconteceu nos anos 30, esses países consideram atraente importar empregos aumentando suas exportações de bens. Mas eles só poderiam fazer isso mantendo uma moeda desvalorizada. Em seu primeiro teste, em vinte anos, para impedir políticas de 'empobrece teu vizinho, o Sistema de Bretton Woods falhou, como podemos observar com as crises nos mercados cambiais, é que elas ocorrem pelo desejo de muitos países de adotar políticas monetárias independentes, bem como pelas regras do FMI para regulamentar as taxas de cambio serem arcaicas.

As mudanças nos sistemas institucionais ocorrem lentamente, sobretudo quando o número de participantes é grande e seus interesses são diversos. As mudanças no sistema cambial são inevitáveis, pois o sistema existente é obsoleto num mundo de políticas monetárias nacionais independentes. Número cada vez maior de especuladores é sagaz em obter lucros de revalorização. Os sistemas existentes também estão mal equilibrados; os banqueiros centrais continuam jogando de acordo com regras que vão contra os interesses dos seus proprietários, a mudança é inevitável - a única incerteza é quando ela ocorrerá.

Para o aprendizado de Política Monetária Internacional devemos entender o que seja Moeda: A indústria de dinheiro é como a indústria de refrigerantes ou de qualquer indústria. Na indústria do dinheiro, tal como na dos refrigerantes, ocorre superprodução. Nesta última, qualquer firma que aumente sua produção com muita rapidez talvez tenha que reduzir seus preços para não ver suas latas e garrafas encalhadas nas prateleiras dos supermercados. No caso do dinheiro, a superprodução leva a aumentos nos preços, pois os bancos centrais podem produzir o dinheiro, mas não podem obrigar os agentes econômicos a guardá-lo. Assim, quando se produz dinheiro demais, as pessoas podem passar da moeda nacional para os bens - ou para outras marcas de dinheiro.

O Contraste entre o número de marcas de fábricas de dinheiro- mais de cem - e de fábricas de produtos (automóveis, aviões a jato, etc) é enorme. Enquanto todos os países, excetuando-se alguns pequenos, têm sua marca de moeda, a maioria importa seus computadores, aviões a jato e outros produtos. Então por quê quase todos os países insistem em produzir seu próprio dinheiro? Uma razão pode ser a de que ninguém vê qualquer custo em ter uma moeda nacional. Mas, para a maioria dos países, sem controles monetários rígidos, a decisão de ter uma moeda nacional eleva a taxa de juro dos seus empréstimos internos, além do custo de produção da moeda que é altíssimo. Assim, é claro que o fato de alguns países terem uma moeda nacional coloca as firmas nesses países em desvantagens de custos no mercado internacional, pois os investidores interessados em futuras mudanças nas taxas de câmbio exigirão uma taxa de juros mais alta para estocar ativos denominados na moeda nacional. Na medida em que as taxas de juros mais altas cobradas são um resultado da existência de uma moeda nacional, existe um custo real para esses países, pois alguns projetos de investimentos que poderiam ser empreendidos lucrativos, se as taxas de juros fossem mais baixas, nunca serão realizados. Os governos lucram tendo uma moeda nacional, pois o custo da produção do dinheiro- imprimir as notas bancárias ou emitir os depósitos - é inferior ao seu poder aquisitivo em termos de bens e serviços. Esses lucros da produção de dinheiro são uma forma indireta de tributação Na verdade, a emissão de dinheiro, muitas vezes, é um modo menos dispendioso de tributar o público, especialmente, se o aparelho administrativo fiscal é inadequado ou corrupto Este também é um modo de evitar oposição parlamentar a impostos mais altos Os juros mais altos do mercado financeiro são o equivalente da redução de preços no mercado de refrigerante.

Desde de 1971, as transações externas maiores e de crescimento mais rápido envolvem a produção de depósitos bancários em dólares em Londres, Zurique e outros centros fora dos Estados Unidos, o termo genérico para todas essas transações é o 'mercado monetário externo, ou eurodólar'.

Os bancos fora dos Estados Unidos emitem depósitos em dólares em resposta à procura do investidor. O dólar é uma unidade de conta - um dos padrões do mundo do dinheiro, uma medida comparável ao litro ou ao metro - esses depósitos não são dólares americanos estão fora da jurisdição legal dos Estados Unidos. Nos Estados Unidos os regulamentos do 'FED' estipulam que os bancos comerciais não podem pagar juros sobre depósitos à vista (o teto é zero),o 'FED' também fixa tetos de juros sobre depósitos a prazo fixo e poupanças, além do que estabelece percentuais de depósito compulsórios (não remunerados) sobre os depósitos bancários.

Não há mistério na produção de depósitos em eurodólares. Em princípio, o processo é o mesmo que quando um banco no lado leste da Quinta Avenida em Nova York transfere fundos para uma associação de poupança ou empréstimo, no lado oeste. A única diferença é que o eurobanco em Londres fica do outro lado do Atlântico, e não do outro lado da rua.

Então, em resumo, esses depósitos em eurodólar estão fora do controle das autoridades monetárias americanas, bem como fora do controle das autoridades dos países onde esses bancos operam, o que gera um efeito multiplicador de empréstimo e, conseqüentemente, aumento de base monetária mundial, isto sem entrar em detalhes de que este mercado também encoberta transações ilegais de toda ordem, já que não existe controle legal e, com certeza, a liquidez atual de recursos, no contexto mundial são de eurodólares e não de dólares americanos. Os Estados Unidos têm que esterilizar esses eurodólares, e com absoluta certeza é a luta do 'FED' e dos banqueiros americanos para não contaminar o verdadeiro dólar americano já que, neste momento, esses recursos estão transitando de forma voláteis na procura de ganhos fáceis e rápidos, recursos com os quais a maioria dos países subdesenvolvidos, agora emergentes, estão administrando suas economias. Imaginem o efeito multiplicador de crédito gerado pelo mercado do eurodólar, totalmente livre de compulsório, durante mais de vinte anos, com isso esse volume de recursos ficará circulando por muito tempo nas economias mais frágeis causando os estragos, os quais todos temos pleno conhecimento.

A reforma do sistema monetário internacional poderia ser realizada com mudanças em alguns poucos acordos importantes. Formulando assim, o problema da reforma não parece muito difícil, porém na prática é muito complicado, tendo em vista que os ' OS BANCOS CENTRAIS LÊEM RESULTADOS DE ELEIÇÕES E NÃO BALANCETES', pois o que cada Governo nacional quer saber é como os acordos propostos afetarão sua capacidade de alcançar seus próprios objetivos nacionais -pleno emprego, um nível de preço estável, crescimento rápido, maiores lucros comerciais e mais exportações. Qualquer governo assinaria prontamente um acordo para a reforma monetária internacional se lhe permitissem redigi-lo, escolher a administração da instituição e formular suas políticas. Os líderes políticos falam sobre as virtudes da 'COOPERAÇÃO INTERNACIONAL 'mas os fatores internos freqüentemente merecem a prioridade, especialmente quando a próxima eleição será daí a alguns meses. A reforma monetária internacional tem um eleitorado limitado.

Como regra geral, quanto mais poderosa a burocracia, menor o campo de ação para decisões orientadas para o mercado. A burocracia afeta as decisões de várias maneiras - pelo controle da distribuição de credito, imposto, obras, investimentos, importação, etc. É evidente que movimentos para uma economia mais aberta tenderão a enfraquecer o controle burocrático e, assim, ameaçam o futuro da burocracia.

Atualmente precisa-se de um novo sistema para substituir os acordos de Bretton Woods. Precisa-se de novos regulamentos para mudar as paridade cambiais e é preciso encontrar um novo mecanismo para produzir moeda internacional. As funções internacionais - se houver- do ouro e do dólar no sistema tem de ser definidas. O pior que pode acontecer a uma nação é quando existe uma crise internacional (ajustes) e este país está na classificação de 'FALIDO ÓTIMO' ou seja, terá que enfrentar ataques em sua economia dependendo de recursos externos. O 'FALIDO ÓTIMO' vive bem obtendo empréstimos. Primeiro, toma emprestado o máximo que pode aos prestamistas de baixo custo e, quando essa fonte se esgotou ele toma emprestado o máximo possível aos prestamistas de alto custo. Usa esses fundos dos novos empréstimos para pagar as despesas de juros e amortizações sobre os empréstimos pendentes. A única razão porque deseja servir a dívida é para proteger sua classificação de crédito, para obtenção de novos créditos e, com isso, o governo vai gastando energia política somente nesse assunto, pauta diária dos jornais, não havendo tempo para 'ADMINISTRAR' outras necessidades da nação. Nos países com o perfil acima as explicações das autoridades monetárias serão sempre evasivas e inúteis, visto não terem como explicar sua incompetência total em economia internacional, usando as desculpas de sempre, estávamos conduzindo nossa gestão econômica muito bem, porém fatores externos nos levaram a essa situação e nada podemos fazer, não temos culpa e citam um rosário de países culpados por sua inapetência.

Para finalizar apresento resumo de três artigos do tema em pauta, publicados na imprensa, demonstrando nossa total cegueira econômica, principalmente, quando o assunto é internacional, senão vejamos:

- Um renomado jornalista escreve um artigo intitulado, Quanto vale o dólar? E discorre suas bobagens - 'O dólar não vale R$ 2,00. Nem R$ 1,90. .... seria algo parecido, nesta altura, com R$ 1,85......'-

- Um segundo artigo de um iluminado ex-presidente do BC discorre o que segue: Em teoria, o câmbio flutua basicamente por dois motivos. Em conseqüência dos fundamentos da economia e de uma bolha. A atual volatilidade é, em boa parte, decorrente de bolha. 'Assim o BC tem de intervir para pôr ordem no processo, tirando o excesso de volatilidade...


- E um terceiro, economista, escreve um artigo que, em dado momento, discorre sobre o efeito psicológico da paridade US$/R$ ultrapassar os R$ 2,00.

Caros leitores, o breve resumo histórico das crises cambiais acima descrito, não encerra um tema de alta complexidade, haja vista fazer parte de uma literatura de mais de 70 autores refletindo sobre o tema. Porém não podemos admitir o nível do debate ser conduzido, conforme exemplos acima citados. Creio que qualquer leitor de nível médio teria capacidade de perceber que estão querendo nos fazer de imbecis e idiotas.

Para finalizar rogo a Deus ressuscitar nosso Mestre Eugênio Gudin, visto que nosso país, nos últimos anos, em termos de economia está beirando ao grotesco. Vivemos um verdadeiro manicômio.

Florianópolis, 03 de novembro de 1998

Notas:

1- Artigo publicado na edição de 12 de janeiro de 1999 do jornal 'Diário do Comércio' de São Paulo.

2- Escrito antes da maxi-desvalorização e publicado, por mera coincidência da vida, no dia 12 de janeiro de 1999. Dia da maxi-desvalorização do real. O rolo do Chico Lopes com o Cachiolla.

O autor é Professor de Economia.

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Ricardo Bergamini
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