D. H. Lawrence ainda é um dos escritores mais incompreendidos do Século XX. Sua obra ímpar foi e continua sendo taxada de pornográfica. Muitos, por falta de conhecimento, consideram-no como um imoral e defensor do culto ao sexo.
Seu livro mais polêmico, embora não seja sua obra prima, é “O amante de Lady Chatterley”, publicado em 1928. Após a publicação, foi proibido na Inglaterra por três décadas. A obra, acusada de imoral e pornográfica, só pôde ser publicada em outros países.
Suas obras anteriores já haviam sofrido as mesmas condenações. “O Arco-íris”, publicado em 1915, foi considerado pela crítica de “Nauseabundo” e todos os exemplares foram apreendidos por ordem de um tribunal. Apesar de não conter um único termo de baixo calão, o livro foi considerado obsceno. Destino igual teve sua obra-prima, “Mulheres Apaixonadas”.
Se dermos uma passada sem preconceito por sua obra, veremos que não há imoralidade ou obscenidade alguma. Tudo não passa de incompreensão. O sexo, presente em quase todos os romances, não passa de algo extremamente natural entre personagens que possuem grandes afinidades. Em seus textos, o sexo não é o fim, mas algo que faz parte da vida de qualquer pessoa normal que se relaciona com o seu semelhante. O sexo é encarado como algo do cotidiano, e não algo que deva ser ocultado e ignorado. A paixão, o amor, os conflitos, os sofrimentos, as alegrias humanas são retratadas em inúmeras obras literárias. Então porque também não retratar juntamente com tudo isso a sexualidade. Ou a sexualidade não tem importância alguma na formação de nosso caráter? Por que despir os personagens de sexualidade? Para D. H. Lawrence, a sexualidade era importante para dar vida aos seus personagens.
Para o grande autor inglês, o importante era que o homem viva conforme seus desejos e anseios, acima das convenções sociais. Aquele que reprime seus desejos em nome da moral e dos bons costumes nunca será alguém plenamente feliz. O sexo nunca deve ser usado como forma de opressão, e sim como forma de libertação. É baseado nesses preceitos que toda a sua obra se fundamenta. Se para alguns isso é obscenidade, a culpa não é do autor. Ele apenas não dava a mínima para as convenções morais.
É como definiu bem o autor no poema abaixo, um de seus vários poemas.
A Indecência pode ser saudável.
A indecência pode ser normal, saudável;
Na verdade, um pouco de indecência é necessário em toda vida
Para a manter normal, saudável.
E um pouco de putaria pode ser normal, saudável.
Na verdade, um pouco de putaria é necessária em toda vida
Para a manter normal, saudável.
Mesmo a sodomia pode ser normal, saudável,
Desde que haja troca de sentimento verdadeiro.
Mas se alguma delas for para o cérebro, aí se torna perniciosa:
A indecência no cérebro se torna obscena, viciosa,
A putaria no cérebro se torna sifilítica
E a sodomia no cérebro se torna uma missão,
Tudo, vício, missão, insanamente mórbido.
Do mesmo modo, a castidade na hora própria é normal e bonita.
Mas a castidade no cérebro é vício, perversão.
E a rígida supressão de toda e qualquer indecência, putaria e relações assim
Leva direto a furiosa insanidade.
E a quinta geração de puritanos, se não for obscenamente depravada
É idiota. Por isso, você tem de escolher.
(Poema traduzido por Jorge de Sena)