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Ensaios-->Hitler não, Adenauer sim! -- 23/10/2002 - 18:20 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Carta a um sobrinho

Caro sobrinho,

Fico contente em vê-lo integrando o site de Usina de Letras. Com 17 anos de idade, você com certeza terá um longo e interessante caminho literário a percorrer – caso não desista logo à frente, seja por falta de tempo, seja por falta de interesse.

A respeito de seu artigo sobre Hitler, eu tenho algumas considerações a fazer. Não me leve a mal, opiniões minhas são minhas, opiniões suas são suas. Mas não custa ouvir um velho tio, com alguma experiência na vida.

Hitler, efetivamente, conseguiu reerguer a economia alemã. Humilhada, depois da derrota na I Guerra Mundial, a Alemanha, com o Tratado de Versalhes, sofreu imposições draconianas que levou o país a uma hiperinflação sem precedentes na história. Os alemães passaram a trabalhar praticamente como escravos, para pagar indenizações estratosféricas aos vencedores, além de ter o rico vale do Ruhr tomado pelos franceses. O desemprego em 1932 chegou a 43,7%, com mais de 6.000.000 de desempregados permanentes.

O anti-semitismo de Hitler tinha origem no movimento Volk (Povo), que já perdurava na Alemanha um século antes do Führer assumir o poder. Vejamos o que diz Paul Johnson em seu portentoso livro “Tempos Modernos” (1):

“O movimento Volk alemão já vinha desde os tempos napoleônicos e já queimava livros ‘estranhos e estrangeiros’, que corrompiam a ‘cultura Volk’ desde os idos de 1817. Foi do movimento Volk que Marx extraiu o seu conceito de ‘alienação’ do capitalismo industrial. Um Volk tinha uma alma que emanava de seu hábitat natural. Como o romancista histórico Otto Gemlin disse, no artigo publicado no ‘Die Tat’, órgão do movimento romântico ‘Volk’, ‘para cada povo e raça, o campo se torna a sua paisagem peculiar’. Se a paisagem fosse destruída, ou o Volk dela se divorciasse, a alma morreria. Os judeus não eral Volk, porque tinham perdido suas almas: faltava-lhes ‘enraizamento’. Este contraste foi elaborado com grande engenhosidade por um professor bávaro de antigüidades, Wilhelm Heinrich Riehl, numa série de volumes chamada ‘Land und Leute’ (Lugares e Povos), publicada por volta de 1850-1860. A verdadeira base do Volk era o camponês. Poderia haver trabalhadores, mas estes teriam de ser ‘artesãos’, organizados em corporações. O proletariado era a criação dos judeus. Não possuindo paisagem própria, destruíam a dos outros, desenraizando milhões de pessoas, levadas em rebanhos para o grande centro: a idéia mais próxima de ‘paisagem’ própria que podiam possuir. ‘A predominância da cidade grande’, escreveu Riehl, ‘será o equivalente à predominância do proletariado’; além do mais, as grandes cidades se dariam as mãos pelo mundo afora, formando um ‘mundo burguês’ e um ‘mundo proletário’, conspirando pela destruição de tudo que tivesse alma, que fosse ‘natural’, especialmente a paisagem alemã e seu campesinato” (pg. 96 e 97).

Pela rápida descrição de Johnson, sabemos como surgiu o anti-semitismo na Alemanha. O principal trabalho dos judeus junto aos camponeses fora a agiotagem, a venda de gado e a intermediação. Por isso, a primeira organização anti-semita política surgiu no “Bund der Landwirte” (Sindicatos dos fazendeiros). O movimento “Volk”, que pregava uma “volta ao campo”, dava prioridade à vida ao ar livre. Para isso, foram utilizados “teatros de montanhas”, com anfiteatros naturais, para dramatizações de “ritos Volk”. Houve, também, um movimento de jovens, o “Wandervogel”, hippies antes dos hippies cabeludos maconhados da década de 1960, que perambulavam pelo país, tocando guitarra, invadindo universidades e escolas para propagar a “cultura” germânica, em oposição à “civilização” Ocidental, que vinha, principalmente, da França.

Continua Paul Johnson no citado livro: “O movimento de ‘cidade-jardim’, na Alemanha, foi liderado por um anti-semita violento chamado Theodor Fritsch, que publicou o ‘Antisemitic Catechism’, o qual teve quarenta edições de 1887 a 1963 e a quem os nazistas se referiam como ‘Der Altmeister’, o professor-mestre. O movimento de banho de sol, impulsionado por símbolos arianos e nórdicos, adquiriu também um sabor anti-semita. Na Alemanha dos anos 20 havia dois tipos distintos de nudismo: o nudismo ‘judeu’, cujo símbolo era a dançarina negra Josephine Baker, um movimento heterossexual, comercial, cosmopolita, erótico e imoral; e o nudismo anti-semita, que era germânico, ‘Völkisch’, nórdico, assexuado (algumas vezes homossexual), puro e vitorioso” (pg. 97)

Após a I GM, uma multidão de judeus amedrontados fugiram da Rússia, da Polônia e outros países e se refugiaram na Alemanha, o que só veio a aumentar o sentimento anti-semita no país. Havia propostas de tributação dupla aos judeus, para que fossem isolados ou “apartados” (Apartheid), proibição drástica de casamentos mistos entre alemães arianos e judeus. Um livro de sucesso, de 1918, “Die Sünde wider das Blut” (Pecados contra o sangue) descrevia como os judeus profanavam a “pureza racial da mulher ariana”.

A derrota da Alemanha, em 1918, levou à procura de bodes expiatórios. Mesmo sem nenhuma fundamentação concreta, os judeus passaram a personificar esse fedorento bode, a imagem da “civilização” ocidentalizante, contra quem todo germânico deveria lutar. Era já um sentimento coletivo que estava tanto no consciente quanto no subconsciente alemão, fermentado durante anos por propaganda anti-semita. Hitler, quando assumiu o poder em 1933, já tinha, portanto, atrás de si uma história de intolerância de mais de 100 anos contra os judeus. Para ele, com sua convincente oratória, foi fácil iludir a massa humana que comparecia a seus megacomícios, e apontar para os culpados por todas as desgraças germânicas. Os judeus passaram a ser os maiores culpados por todas as desgraças que levaram a Alemanha à derrota, da mesma forma que, hoje, no Brasil, os EUA, o FMI e a ALCA, que sequer foi discutida, passaram a ser os verdadeiros culpados da desgraça brasileira.

O resto da história de Hitler, caro sobrinho, todos sabemos como foi. Ninguém dava crédito às “maluquices” daquele “cabo boêmio” que havia escrito “Mein Kampf” (Minha Luta), na prisão. A II Guerra Mundial ceifou dezenas de milhões de seres humanos e acabou com as imagens apocalípticas das terríveis bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, esta, irônicamente, a maior cidade cristã católica do Japão. Houve a bandidagem japonesa contra os chineses. Houve ainda o avanço de Stálin sobre os países do Leste europeu, ampliando o terror atrás da “cortina de ferro”. Cerca de 6 milhões de judeus foram exterminados por Hitler em campos de concentração, o maior genocídio já registrado em todos os tempos. Somente em Auschwitz-Birkenau o “Holocausto” vitimou mais de 2 milhões de pessoas. Como disse o historiador Borkin:

“I.G. Farben reduziu o trabalho escravo a uma simples matéria-prima consumível, uma matéria humana de onde o mineral da vida era sistematicamente extraído. Quando mais nenhuma energia útil era encontrada, os lixos humanos ainda vivos eram despachados para as câmaras de gás ou fornos de cremação no centro de extermínio de Birkenau, onde a S.S. os reciclava para aproveitamento na economia de guerra alemã – dentes de ouro para o “Reichbank’, cabelos para colchões e gordura para sabonete” (citado em “Tempos Modernos”, pg. 340). (2)

Sabonetes! Era para isso que serviam os restos de gordura, se é que sobrava alguma gordura depois dos trabalhos forçados, das carcaças ambulantes do povo judeu!

Grande governo esse de Hitler, não é meu caro sobrinho? Que grande governo foi esse, que desprezou totalmente o ser humano e jogou novamente a Alemanha, em mais uma guerra, no fundo do abismo?

Não! Não existe cascavel “ternurinha”, nem escorpião “paz e amor”. Assim como zurrar é próprio do burro, é próprio desses bichos peçonhentos injetar veneno mortal em seus inimigos. Da mesma forma, não existe um Hitler estadista, nem um Hitler herói do povo alemão. Desde o início, toda a estratégia de Hitler para chegar ao poder foi feita em cima da ilegalidade, da bandidagem, de assassinatos. Uma vez no poder, sua imaginação sanguinária não teve limites. Aliás, tinha um grande exemplo a seguir: Stálin e os famigerados “processos de Moscou”. Este, por sua vez, também tinha muito a aprender com Hitler, assim como Mussolini. Campos de concentrações (3) foram utilizados tanto por Stálin quanto por Hitler; de um lado, os Gulags soviéticos nos gelados campos da Sibéria; de outro, Auschwitz e tantas outras quentes “fábricas de sabonetes”.

Eu, em vez de Hitler, preferiria que Konrad Adenauer tivesse governado a Alemanha. Toda a história da humanidade, no século XX, poderia ter sido diferente. Por uma dessas ironias trágicas da história, Adenauer, um dos dois únicos políticos que na época tinham apelo multipartidário, junto com Gustav Stresemann, teve destruída sua chance de ser o Chanceler da Alemanha. Adenauer, prefeito de Colônia, dirigiu a mais apreciada administração municipal do país, com a ajuda dos socialistas. Quando em 1926 foi convidado para formar um governo de coalizão, foi bombardeado por Strassemann, que era, como Hitler, um “germânico” até a medula dos ossos. Assim, Hitler, o mais “germânico” de todos os germânicos, acabou sendo beneficiado, assumindo o governo e impondo o terror. Depois do fim da II Guerra Mundial, Adenauer finalmente governou a Alemanha, iniciando um rápido desenvolvimento que levou o país a ser, hoje, a 3ª maior potência econômica do planeta.

Por isso, caro sobrinho, também não nos interessa um Hitler brasileiro, como você escreveu no citado artigo. Você acha que Lula, prestes a vencer as eleições, seria o Hitler dos seus sonhos? Esse Hitler romântico que você imagina para o Brasil logo iria procurar culpados pelas desgraças nacionais. Poderia eleger os negros, raça impura para ele, como a classe a ser exterminada. Poderia também implicar com os nordestinos. Com os favelados. Com os pobres, a quem provavelmente chamaria de “vagabundos”. Poderia implicar até mesmo com a nossa família, de origem alemã, pois meu pai algumas vezes me contou que o avô paterno dele (meu bisavô), quando teve um filho convocado para lutar na Itália, junto com a FEB, disse: “Soll Hitler kaput machen!” (Hitler deve ser morto!). Meu bisavô tinha medo de que, se Hitler assumisse um governo mundial, poderia mandar perseguir sua família, que era de origem judia sefardita. Ou seja, meu caro sobrinho, meu pai (portanto, seu avô), seu bisavô e seu trisavô também poderiam ter sido exterminados pelo facínora. E você não estaria aqui para contar a história, nem para pedir um Hitler tupiniquim – mesmo tendo sangue judeu nas veias. E mesmo que o Hitler brasileiro não fosse racista, ele seria igualzinho ao Hitler alemão, colocaria em prática mil e uma artimanhas para liquidar física ou moralmente todos os seus oponentes. Lembre-se: leão não come grama, nem vaca voa.

Mais uma coisa, meu caro sobrinho: quando, em outro artigo seu, eu leio que você gostaria de se envolver em bombas, para dar um forte abraço no querido “Tio Sam”, eu lhe pergunto: seria para você levar um recado do “democrata” Saddam Hussein? Ou do grande “benfeitor” da humanidade, Osama bin Laden?

Não! Eu espero que você vá para os céus naturalmente, com idade avançada, fazendo coisas boas na vida, não ainda moço, em pleno viço da juventude, se atirando em uma empreitada estúpida desse tamanho. Se os “marines” de “Uncle Sam” vierem atacar nossa Amazônia, aí, sim, pode me chamar para lhe acompanhar nessa sua cruzada vingadora, armagedoniana, caso eu ainda esteja vivo e podendo fazer umas caminhadas. Mas, por favor, você que é ótimo no jogo de xadrez, não entre nesse esporte boboca de malhar americano somente porque a macacada hoje, em reflexo condicionado, repete o antigo refrão anti-americano, esquerdista, que já está cheirando a mofo não é de hoje. Não se dê esse xeque-mate!...

Claro que os americanos já cometeram muitos crimes, em dois séculos de guerras (4). Como superpotência que são, as virtudes e os pecados dos americanos sempre foram em doses superlativas. Se de um lado eles bombardearam criminosamente Hiroshima e Nagasaki, lançando bombas nucleares (5) quando a guerra já estava ganha; se estraçalharam toda a infra-estrutura iraquiana durante a Guerra do Golfo, em 1991, com sua inovadora “diplomacia de cruzeiro” (6), fazendo aquele país praticamente retornar à Idade Média; se liquidaram toda a infra-estrutura da Iugoslávia, em 1999, à frente da OTAN, também com sua “diplomacia de cruzeiro”, retrocedendo aquele próspero país uns 300 anos na História; por outro lado não podemos esquecer de que os EUA são o país mais atrativo do mundo. Milhões de pessoas desejam entrar no país, e o fazem a qualquer custo, seja dentro da legalidade ou não. Pessoas de mais de 40 nacionalidades morreram no atentado contra as torres gêmeas do WTC, incluindo brasileiros. Por outro lado, quantos estrangeiros morreram em Cuba, varridos pelo furacão Lili? Talvez meia dúzia de turistas.

Nos EUA existe a mais avançada forma de democracia do mundo, da verdadeira liberdade de pensamento e de expressão. Lá, você, caro sobrinho, que exalta Hitler (desde que ele não seja racista...), pode perfeitamente colar uma suástica no braço e sair em passeata pelas ruas, sem problemas com a polícia, assim como pode colar um boton com a foice e o martelo no peito. Aqui no Brasil, você não teria essa mesma facilidade – embora até seja incentivado a usar o criminoso símbolo da foice e do martelo. Há uma lei, aprovada durante o governo Itamar Franco, que o colocaria na cadeia, de 2 a 4 anos (se não me falha a memória; claro, se você já tivesse 18 anos...), caso você fizesse propaganda nazista ou portasse algum distintivo do Führer.

Você quer realmente conhecer um pouco de história do século XX, que tirou da mitologia e colocou na vida prática o Cérbero, o monstro de três cabeças? Pois leia “Tempos Modernos”, de Paul Johnson, e você vai entender que os totalitarismos do século passado – Comunismo, Fascismo e Nazismo – têm todos a mesma origem. Um é internacionalista (Comunismo), os outros dois são nacionalistas. A diferença pára aí. Trigêmeos siameses na maldade que são essas três formas de totalitarismos, suas três cabeças já deveriam ter sido todas decepadas. Infelizmente, uma bocarra, a comunista, ainda lança fumaça mundo afora, esperando apenas o melhor momento para atacar de novo. Por isso, meu sobrinho, procure o livro de Johnson na Biblioteca Municipal de sua cidade. Se não tiver exemplar aí, me avise, que aqui eu consigo um para remeter para você.

Você, caro Guinther, conhece a história de meu tio Arno Preis. Pois é, Arno foi um rapaz inteligentíssimo, formado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, de São Paulo, conhecedor de 12 idiomas, dos quais falava pelo menos uns 8, meteu-se numa encrenca danada ao entrar para um grupo terrorista fundado pelo serviço secreto cubano, o Molipo – do qual José Dirceu, presidente do PT, também fez parte –, assaltou o trem-pagador Santos-Jundiaí, roubou bancos, matou pessoas e finalmente foi morto pela polícia em 1972, com apenas 33 anos de idade. Tudo em nome do grande ideal comunista que perdura ainda hoje na ilha-prisão do facínora Fidel Castro. Dentro de nossa família, alguns consideram Arno um herói. Outros, um bandido. Eu acho que tio Arno foi apenas uma vítima, como tantos outros jovens idealistas dos anos 60 e 70, seguidores dessa ideologia fanática e assassina chamada Comunismo. Espero que você, jovem, idealista, com o sangue muito quente pulsando nas veias, a emoção mais forte do que a razão, não entre nunca em uma empreitada semelhante.

Abraços a seu pai, à sua mãe e a seu irmão. Que Deus ilumine o futuro presidente do Brasil, o Lula – hoje ninguém mais tem dúvida de que será eleito –, para que ele possa conter o Cérbero, o cão-de-três-cabeças formado por radicais petistas, que lhe vai guardar os “quintos dos infernos” deixados por FHC.

Um abraço forte também a você, e que Nossa Senhora Aparecida e Santa Paulina (barriga-verde como nós!) intercedam a Deus por todo o povo brasileiro.

Com carinho, de seu tio

Félix.


Notas:

(1) JOHNSON, Paul. “Tempos Modernos – o mundo dos anos 20 aos 80”. Biblioteca do Exército e Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1994 (Tradução de Gilda de Brito Mac-Dowell e Sérgio Maranhão da Matta).

(2) A firma E.G. Farben fabricava o Ziklon-B, o ácido prússico utilizado pelos alemães para extermínio de judeus, como substituto do monóxido de carbono dos motores diesel.

(3) Campo de concentração - “Denominação que se dá a estabelecimentos que, à margem dos sistemas penitenciários usuais, são utilizados para a detenção, suposta reeducação, exploração de mão-de-obra gratuita ou mesmo extermínio de pessoas, por razões ideológicas políticas e militares” (Mirador, Vol 5, pg. 1967). No final do século XIX, o Governo espanhol criou campos de concentração em Cuba, para confinar grande quantidade de homens, mulheres e crianças, em resposta às rebeliões da Ilha. A Inglaterra copiou essa experiência na Guerra dos Bôeres, atual África do Sul (1899-1902), aprisionando cerca de 200 mil pessoas até o fim das hostilidades, com a anexação das repúblicas bôeres ao Império Britânico. Na URSS, os Gulags eram campos de trabalhos forçados, que acolhiam os acusados de contra-revolução e espionagem, atingindo seu auge durante os expurgos stalinistas, no período de 1936 a 1938. Durante a Guerra Civil Espanhola, os franquistas, apoiados pelo III Reich, organizaram vários campos de concentração. Com o advento do Nazismo na Alemanha, os campos de concentração, inicialmente, tinham como finalidade “reeducar” os alemães contrários ao regime, a exemplo dos comunistas, sociais-democratas, católicos, protestantes e judeus. Rapidamente, os campos se transformaram em grandes comunidades de trabalho escravo, em instrumento de genocídio das “raças inferiores (ciganos, eslavos e, principalmente, judeus) e em centros de “experiências” pseudo-científicas, como as do “Anjo da Morte”, Josef Mengele. Havia campos com mais de 70 mil pessoas, de várias nacionalidades. Os presos eram identificados por um número de ordem (em Auschwitz eram tatuados no braço) e um triângulo de cor costurado nos uniformes: o verde era para criminosos comuns, o vermelho para os “políticos”, o roxo para os “opositores por convicção”, o preto para os anti-sociais, o rosa para os pederastas. Os judeus traziam sobre esse triângulo um outro, amarelo e sobreposto, para representar a estrela de Davi. Industrializavam-se a gordura, a pele, os ossos, os cabelos e os bens dos presos. Em torno de 6 milhões de pessoas perderam a vida nesses centros de terror. Havia vários campos de concentração nazistas: Bergen-Belsen, Buchenwald, Dachau, Dora, Flossenburg, Oranienburg-Sachsenhausen, Neuengamme, Ravensbrück (Alemanha); Natzwiller-Struthof (Alsácia); Mauthausen (Áustria); Kaunas, Riga (Países Bálticos); Theresienstadt (Boêmia); Auschwitz, Birkenau, Maidanek, Stutthof (Polônia).

(4) Guerras americanas - Guerras Americanas, Século XX - 1894/1902: Campanha contra rebeldes nas Filipinas; 1900: intervenção na China; 1903: intervenção no Panamá; 1908/1912: intervenção na Nicarágua; 1915/1916: intervenção no Haiti; 1915/1916: intervenção na República Dominicana; 1917/1918: Primeira Guerra Mundial; 1917/1919: intervenção em Cuba; 1918/1924: intervenção no Haiti; 1926/1933: intervenção na Nicarágua; 1941/1945: Segunda Guerra Mundial; 1950/1953: Guerra da Coréia; 1965: intervenção na República Dominicana (o Brasil participou; veja FAIBRÁS); 1965/1975: Guerra do Vietnã; 1982/1983: intervenção no Líbano; 1989/1990: intervenção em Granada (contra um governo pró-cubano); 1989/1990: intervenção no Panamá (para remover do poder o general Manuel Noriega, levado preso para os EUA, acusado de contrabando de drogas); 1990/1991: Guerra do Golfo (liderança da coalizão internacional contra o Iraque, para libertar o Kuwait); 1992/1995: intervenção na Somália; 1994: intervenção no Haiti (para reconduzir o Presidente Jean-Bertrand Aristide ao poder); 1999: guerra contra a Iugoslávia (liderou a OTAN para bombardear todo o país, devido à luta iugoslava contra os separatistas muçulmanos da Província de Kosovo; motivo: a Iugoslávia estaria promovendo “limpeza étnica”). De 1806 até o bombardeio do Afeganistão, iniciado em 6 Out 2001, os EUA promoveram 78 intervenções – 69 vezes em países da América Latina e 9 vezes em países do Golfo Pérsico, África e Ásia , variando desde o “Tomei o Panamá” de Theodore Roosevelt, à “política de boa vizinhança” (good neighbor policy) de Franklin Delano Roosevelt. Nesse tempo, os EUA atuaram ou estiveram para atuar 10 vezes no México, 9 vezes na Colômbia, Cuba e Nicarágua, 5 vezes no Panamá, Honduras e Argentina, 4 vezes na República Dominicana, 3 vezes no Haiti e Uruguai, 2 vezes no Brasil e Guatemala e 1 vez no Chile, Peru e Granada. Os EUA iniciaram o Século XXI (2001) com uma guerra contra o regime Talibã, do Afeganistão, por abrigar terroristas do Al-Qaeda, responsáveis pelos atentados contra os EUA no dia 11 Set 2001. No ano 2001, os EUA iniciaram o apoio à Colômbia, com material e pessoal militar, para combate ao narcotráfico e às FARC. Atualmente, os EUA se preparam para um eventual ataque contra o Iraque. Veja, em Usina de Letras, “Arquivo da Intolerância”, link “Artigos”, de minha autoria, os verbetes de Big Brother, Big Stick, Diplomacia de cruzeiro, FARC, Governança global, Guerra do Ópio, Política de Portas Abertas), Síndrome de Nova York, Síndrome dos Bálcãs (7) e www.olavodecarvalho.org/sseal/gmundial.

(5) Bombas atômicas - As bombas atômicas lançadas pelos americanos sobre Hiroshima e Nagasaki, em 1945, não se basearam apenas em cálculos militares. O general McArthur, Comandante Supremo das Forças Aliadas no Pacífico, só foi informado a respeito da arma 5 dias antes do seu emprego; não foi solicitada sua opinião a respeito. O almirante Leahy, Presidente da Junta dos Chefes de Estado-Maior, considerava, 2 meses antes do ataque a Hiroshima, que os japoneses já havia sido “completamente derrotados” pelo bloqueio marítimo e pelo bombardeio convencional, e estavam prontos para capitular. O almirante King, Comandante-em-Chefe da Frota dos EUA, advertira em diversas ocasiões que o bloqueio naval obrigaria, com o tempo, o inimigo a submeter-se pela fome, sem desperdiçar milhares de vidas americanas numa invasão terrestre. A decisão de usar a bomba atômica fora tomada num nível político: não a fim de derrotar o Japão com a mínima baixa de vidas humanas americanas, mas obrigar o país a ser render antes que se efetuasse a iminente invasão soviética da Manchúria. Numa rápida rendição japonesa, o controle do Japão no mundo pós-guerra e a influência no Pacífico e na Ásia Oriental pertenceriam unicamente aos EUA, sem direito a reivindicações soviéticas.

(6) Diplomacia de cruzeiro - Política do “Big Stick” norte-americano, autoproclamado “polícia do mundo”, como nos ataques da “ONU” contra o Iraque (1991) e da “OTAN” contra a Iugoslávia (1999), utilizando mísseis de cruzeiro “tomahawk” (cruise missile) e destruindo toda a infra-estrutura de ambos os países – moderno terrorismo de Estado. A Anistia Internacional acusou a OTAN de crimes de guerra, devido a seus ataques indiscriminados contra alvos civis, matando mais de 5.000 pessoas na Iugoslávia.

(7) Síndrome dos Bálcãs - A utilização de mísseis com urânio depletado (empobrecido), feita pela OTAN contra a Bósnia e o Kosovo, teria provocado o aparecimento de leucemia em muitos soldados da Aliança e de cidadãos da antiga Iugoslávia – a exemplo do que parece ter ocorrido durante a Guerra do Golfo, que até hoje provoca morte de adultos e deformações em recém-nascidos, também atacados pela leucemia. Mais de 300 refugiados de um bairro de Sarajevo atacado por aviões da OTAN em 1995 com munição de urânio empobrecido já morreram de câncer. Segundo a revista alemã “Der Spiegel”, também foi usado urânio empobrecido pelos EUA em sua intervenção na Somália, em 1993, sob o comando da ONU.

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