Brincando com a nossa língua portuguesa, criei uma
situação fictícia, narrada por malandros de três períodos diferentes de nossa história:
BELLE EPOQUE
O figurão era amigo dos homens, mas a patota, que não era otária nem nada, não ia se meter em camisa-de-onze-varas. Pra fugir da justa e não pegar uma cana, o negócio era lesar o abonado com muita lábia e na maciota que é pro sujeito não ficar cabreiro. O almofadinha era notório na praça e estava enrabichado com a gostosona daquela sapeca da zona da Raimunda. Ninguém tinha que mostrar o berrante para aliviar o cidadão. O degas aqui, que andava meio emburrado e
jururu, com os ovos atravessados e todo cheio de uruca, estava mais a fim de entornar o caldo e meter o pisante nas protuberâncias da sapeca,
afanar o gigolô babão, deixar o sujeito micho e liso e depois dar o fora da encrenca. Mas o degas, que era chefe da macacada, tinha que ser destabacado e esconder a igrejinha. O serviço tinha que ser limpo pra não levar xadrez.
ANOS DOURADOS
O bacana era amigo dos homens, mas a turma, que era esperta, não ia dar mancada. Pra fugir da RP e não parar na cadeia, o jeito era
abafar o boa-pinta na base do papo furado e do lero-lero, que é pro cara não se mancar. O tremendão era conhecido na praça e estava gamado naquela certinha da zona da Raimunda. Nada de mostrar o berro pra surrupiar o cara. Eu
andava meio na fossa, querendo estourar, chutar o traseiro da boazuda, tirar a grana do babaca e sumir do mapa. Mas eu era o chefe da gang e tinha que bancar o quadrado e não deixar a turma exposta na vitrine. O serviço
tinha que ser limpo pra não ver o sol nascer quadrado.
ANOS NOVENTA
O mauricinho era assim com os homens, mas a galera, que estava antenada, não ia pagar mico. Pra fugir da PM o negócio era fazer pressão no animal pra descolar algum, mas sem pegar pesado. O gatorade tava de chaveco pra cima daquele filezão da zona da Raimunda. É ruim de mostrar o tres-oitão pro cara, ô meu! Eu tava parecendo um masô, na maior deprê, afins de
queimar o filme, chutar o pau da barraca e dar um pega na saradona. Mas era eu quemm comandava a galera e tinha de dar o exemplo de careta pros
dimenor não ficar pagando um sapo. O serviço tinha que ser limpo pra não pegar férias na Febem.
Conclusão:
A língua é a mesma, a situação é a mesma, mas a
a narrativa, apesar de manter algumas expressões
que se perpetuaram, tem mudanças significativas.
Isto é apenas um pequeno trabalho de pesquisa que
pode mostrar o quanto temos de aprender com as
gerações passadas e respeitar tanto o que é novo
quanto o que é velho.