OUVIR E ENTENDER MÚSICA – parte DOIS – COMO VOCÊ OUVE
por Coelho De Moraes baseado na obra de Aaron Copland
Ouvimos música em três planos: a) plano sensível; b) plano expressivo; c) plano puramente musical.
a) Plano Sensível: Devemos nos entregar inteiramente ao prazer de ouvir o som. Nada mais. Sem intelectualismos. Ouvir sem pensar. Tomar um banho de som. Escolha um CD que nunca ouviu – exemplo MISHIMA, do Philip Glass - Ligue seu aparelho e deite-se no tapete da sala e feche os olhos. A percepção do som alterando seu estado mental. Uma nota percutida ao piano no silêncio da sala já altera atmosfera da sala. Um acorde ao violão e o mundo já mudou. Parafraseando algumas religiões: “O elemento sonoro tem poder”.
É necessário dizer que o elemento sonoro varia de compositor para compositor. Basta ver a diferença entre Ravel e Beethoven. Varia com o estilo. Notando estas diferenças você será um ouvinte consciente.
b) Plano Expressivo: Stravinsky dizia que sua música era um “objeto”, uma “coisa”, dotada de vida própria e sem significado a não ser o musical. No entanto a música traz em si uma expressão. Diferente para cada pessoa que ouve. Ou que faz. Depende do conteúdo de cada ouvinte ou cada compositor. A música tem um significado? – SIM. É possível precisar qual significado é esse? - NÃO.
Mas, as pessoas sempre acham que tudo deve ter um significado bem concreto, bem palpável. Portanto tire da cabeça de relacionar a música com alguma coisa material ou específica. Não será esse o caminho. Há mais mistérios entre o céu e a terra... e o resto você sabe. Mas, em linha geral, a música que, sempre que ouvida, dizer a mesma coisa, será mais pobre do que aquela em que, a cada audição, ouvirmos uma novidade que estava escondida ou não foi percebida imediatamente. Essa última, provavelmente, durará mais tempo no ouvido da humanidade.
Tente explicar as variações para cravo de Bach. Excetuando os adjetivos simplificados de “temas alegres ou tristes”, tente uma explicação dos temas do Cravo Bem Temperado. Você verá, também, que duas pessoa diferentes terão sugestões diferentes para a mesma música.
c) Plano Puramente Musical: O plano das notas e sua manipulação. Tocar nessas notas algo que possa determinar para o ouvinte o Timbre, a Altura, a Harmonia, o Colorido Tonal, o Ritmo, a Melodia, a procura da idade em que a peça foi feita, seu contexto histórico.
Devemos lembrar que essa divisão em partes é apenas para estudo. Não se ouve separadamente.
De certa maneira o ouvinte ideal está dentro e fora da música ao mesmo tempo. Uma atitude subjetiva-objetiva está implícita na criação e Ana apreciação da música.
Experimente - já hoje, pois não há tempo a perder – ouvir Mozart e Duke Ellington. Vejamos: A Lacrymosa do Réquiem e Caravan.
Agora você é alguém, consciente, que está ouvindo alguma coisa.