Este ensaio/crítica foi feito pela equipe do Literatura On Line (www.lol.pro.br) - seção 'Talentos' sobre meu poema 'Ovo' Que se encontra aqui no Usina.
'Paulo Eduardo Lacerda Rodrigues possui uma característica essencial à poesia: concisão. A sua seqüência de frases nominais, além de garantir ritmo, obtém, graças ao aspecto citado, densidade à linguagem produzida. Transmite-se o máximo no menor espaço possível.
Seu problema, no entanto, está na última estrofe, que quebrou um pouco da engenhosidade do poema ao torná-lo explícito. Não se deve esquecer que outra característica essencial de um texto literário é a sugestão, a construção do implícito. Como defendia Guimarães Rosa, a literatura tem de ser decifrada, descoberta, revelada. Se tudo fica claro, perde-se o encantamento. Lógico que o preço é a diminuição da quantidade de pessoas que poderiam entender a mensagem. No entanto, se um leitor não é capaz de compreende-la, então não a merece.
Além disso, a pista para a resolução do segredo do poema está muito bem dada pela reiteração da palavra “ovo”, um curioso palíndromo, ou seja, vocábulo que pode ser lido da esquerda para direita ou vice-versa. Entrar em contato constante com ele é abrir a mente para a reversibilidade do olhar do leitor. Notável, portanto, é que o próprio poema ganha praticamente o mesmo sentido quando lido da última para a primeira frase.
Toda a sua estrutura formal cria, pois, um caráter cíclico, que reforça a sua temática, a idéia de que o existir é uma sucessão de fatos, mas que no fundo revela que não saímos do lugar. É a expressão da angústia de nossa existência. No entanto, não é um texto de pessimismo niilista. Há nele um encanto realista pela vida, por pior que seja, a lembrar um pouco a fala final de Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, ou então a postura de Cyro dos Anjos em O Amanuense Belmiro. É, portanto, literatura bem arquitetada.'